À chegada à Igreja Matriz de Campo Maior, onde o corpo do fundador do Grupo Delta se encontra em câmara ardente, Mira Amaral lembrou um telefonema "no Natal", onde prometeu "vir ao Alentejo dar um abraço que, infelizmente, já não vai ser possível", a uma pessoa que, "30 anos depois de sair do Governo", continuava a tratá-lo "exatamente com a mesma consideração, apreço e estima".

"Tinha uma visão social, um respeito pelas pessoas e pelos seus trabalhadores que fazia dele um homem de dimensão moral ímpar", recordou antigo ministro do Trabalho e Segurança Social e ministro da Indústria e Energia dos governos de Aníbal Cavaco Silva.

Por isso, frisou Mira Amaral, o que se sente "nesta triste notícia da sua morte é um calor humano, uma dimensão muito grande", porque "as pessoas têm consciência que, além de um grande empresário", Rui Nabeiro "foi um homem com grandes preocupações sociais e com grande respeito pelos seus trabalhadores".

"Essa sua dimensão humana, além da empresarial, é reconhecida por todos e por isso [se faz] esta grande homenagem sentida, que acho que é sincera de todos aqueles que aqui vêm", destacou Mira Amaral, junto à Igreja Matriz de Campo Maior.

Por sua vez, o atual eurodeputado Pedro Marques considerou que "Rui Nabeiro era muito maior mesmo do que o Alentejo, era uma figura do país" e reconheceu que o empresário "deixa-nos a todos, enquanto portugueses, um exemplo extraordinário que temos mesmo de saber seguir".

"Não é só lembrar como ele fazia. É fazermos todos um pouquinho o que ele fazia pela sua comunidade. Se fossemos todos como ele, de certeza que seríamos um país muito melhor", asseverou o antigo ministro do Planeamento e das infraestruturas (2015-1019).

"Tinha o seu negócio, a sua empresa, mas uma empresa que procurou sempre ser solidária", destacou ainda Pedro Marques, para quem o "exemplo absolutamente extraordinário" do empresário "fica com certeza para a sua família", mas também "para cada um dos portugueses".

Pelo local passou também o presidente da Câmara Municipal de Elvas, concelho vizinho de Campo Maior, para quem as duas localidades "perderam uma referência" na qual "não havia qualquer distinção entre o grande empresário e o cidadão comum".

"A grande diferença aqui no Alentejo foi encontrarmos um empresário que tratava toda a gente da sua equipa de igual forma. É uma grande lição que acaba por deixar. Neste caso, lega para os seus filhos e netos, mas também legou para os responsáveis desta Elvas e deste Campo Maior", afirmou José Rondão Almeida (PS).

"Amigo de longa data de Rui Nabeiro", o presidente da Câmara de Elvas revelou ter sabido que "entre Elvas e Lisboa, dentro da ambulância", Rui Nabeiro disse aos médicos para terem "cuidado" com o que faziam porque ainda tinha "muitos projetos para concretizar".

Segundo o autarca, Rui Nabeiro recusou colar ao empresário o 'rótulo' de político por ter presidido à Câmara de Campo Maior no passado.

"Esta história de falarmos de ser político... Ele era um grande ser humano. Foi-o enquanto político, pai, avô, vizinho... Ou seja, o espírito das pessoas predomina independentemente do cargo que estamos a exercer", atirou Rondão Almeida.

O empresário Rui Nabeiro, fundador do Grupo Nabeiro - Delta Cafés, morreu no domingo, aos 91 anos, vítima de doença, no Hospital da Luz, em Lisboa.

As cerimónias fúnebres decorrem na Igreja Matriz de Campo Maior, desde as 12h00 de hoje, seguindo-se, na terça-feira, a partir da mesma hora e na mesma igreja, a missa de corpo presente, informou a família. O cortejo fúnebre seguirá, depois, em direção ao Cemitério Municipal da vila.

Manuel Rui Azinhais Nabeiro nasceu em Campo Maior, vila do interior do país, no distrito de Portalegre, junto à raia com Espanha, em 28 de março de 1931.

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