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Abusos na Igreja. Hierarquia católica "é favorável" à posição do Papa

O coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja disse hoje que, na generalidade, a hierarquia católica portuguesa "é favorável" à posição do Papa na condenação dos abusos.

Abusos na Igreja. Hierarquia católica "é favorável" à posição do Papa
Notícias ao Minuto

10:53 - 13/02/23 por Lusa

País Abusos na Igreja

"Com algumas divergências, e nalguns casos, a opinião dos bispos e dos superiores gerais, que foram entrevistados individualmente, é manifestamente favorável ao transmitido pelo Papa" Francisco, que considerou, em 2019, na Carta Apostólica "Vos estis lux mundi", que "os crimes de abuso sexual a crianças são crimes que ofendem a Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e afastam-nas da comunidade", afirmou Pedro Strecht.

Ao intervir na sessão de apresentação do relatório desta Comissão Independente sobre os casos de abuso na Igreja Católica desde 1950, o pedopsiquiatra Pedro Strecht alertou que "há que olhar para a exegese" dos números do documento -- 512 casos validados em 564 testemunhos recebidos, apontando a extrapolação de um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815 -- e "importa referir que, na realidade, foi apenas a partir de 1995 que estes crimes passaram a ser inscritos no Código Penal português enquanto abuso sexual de crianças, e apenas a partir de 2007 se tornaram públicos".

"Sabemos, também, que a percentagem da sua existência enquanto praticada por membros da Igreja é muito pequena, sobre a realidade do assunto dos abusos sexuais de menores em geral", acrescentou Pedro Strecht, acrescentando: "tal como volta a ser baixo o número de abusadores dentro do seio da Igreja e, por isso mesmo, continua a ser importante não confundir a parte com o todo".

Na mesma sessão, a socióloga Ana Nunes de Almeida indicou que, no contacto com a hierarquia da Igreja Católica, nomeadamente os bispos, foi encontrado "um contraste" entre a gravidade e o fluxo dos testemunhos que chegavam à comissão e "um relativo distanciamento, ou alheamento, desse terreno".

O "crescendo das notícias sobre os abusos e os trabalhos da Comissão Independente" foi importante para uma outra perceção da realidade por parte da hierarquia, tendo sido também verificada uma "notável diversidade interna", tendo em conta que "a Igreja não falava e não fala a uma só voz", sublinhou a socióloga.

Neste contexto, foi sublinhado, também, o "movimento de fora para dentro e de cima para baixo", com destaque para o "papel impulsionador de vários papas, em particular do Papa Francisco".

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica começou a receber testemunhos em 11 de janeiro do ano passado.

Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.

Hoje será conhecida a primeira reação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e para 03 de março foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária da CEP para analisar o relatório.

Liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, a comissão independente é ainda constituída pelo psiquiatra Daniel Sampaio, pelo antigo ministro da Justiça e juiz conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, pela socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, pela assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e pela cineasta Catarina Vasconcelos.

[Notícia atualizada às 11h39]

Leia Também: Igreja. Mais de 4 mil vítimas, lista de abusadores ativos em elaboração

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