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São-tomenses manifestam-se. Pedem justiça no caso do assalto ao quartel

Cerca de duas dezenas e meia de são-tomenses manifestaram-se hoje, em Lisboa, contra o alegado homicídio e tortura de quatro suspeitos num quartel das Forças Armadas no seu país, pedindo justiça e criticando a morosidade do processo de investigação.

São-tomenses manifestam-se. Pedem justiça no caso do assalto ao quartel
Notícias ao Minuto

18:22 - 04/02/23 por Lusa

País Lisboa

Empunhando uma faixa com a frase "Massacre de 25 de novembro 2022" e imagens dos quatro suspeitos alegadamente mortos e torturados após um ataque a um quartel militar em São Tomé e Príncipe, cerca de duas dezenas e meia de elementos da comunidade são-tomense em Portugal reuniram-se em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, sob o olhar de alguns turistas que passam no local e ocasionalmente questionam pormenores sobre o caso.

Entre os manifestantes ouvem-se pedidos de justiça, apelos à ação das autoridades portuguesas e alertas sobre as consequências da "normalização" do caso.

Em declarações aos jornalistas, Eliseu Trindade, membro da organização da "marcha pacífica" explicou que esta tem como mote mostrar a "indignação" da comunidade contra o processo de investigação do episódio de 25 de novembro de 2022.

"Como são-tomense e parte da sociedade civil, temos notado que não tem sido feito nada para que a justiça seja feita. O período já é tão longo. Há dois meses que parece que não há nada a acontecer. Decidimos, como emigrantes no estrangeiro, dar a nossa voz e convocámos esta marcha pacifica de modo a mostrar a nossa indignação", disse.

Apesar de considerar que "Portugal tem feito muito por São Tomé", acredita que o país poderia ir mais longe neste caso: "Portugal não tem tido uma atitude sobre este ato bárbaro".

"Talvez só há pouco tempo estamos a ver algumas movimentações e inquieta-nos. Devia ser mais", afirmou, apelando a "mais intervenção dos políticos da esquerda à direita", e realçando a esperança de que, após a entrega, no fim da marcha, de uma carta endereçada ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, possam existir "movimentos diplomáticos".

Entre os manifestantes há quem carregue a bandeira de São Tomé e Príncipe pelas costas, quem vista 't-shirts' com a data da ocorrência ou quem mostre dois cartazes com fotografias das vítimas e as frases "queremos justiça" e a verdade da inventona".

Presente esteve também o antigo primeiro-ministro são-tomense Gabriel Costa, tio de Arlécio Costa, uma das vítimas, e antigo oficial do `batalhão Búfalo` que foi condenado em 2009 por uma tentativa de golpe de Estado.

"Estamos cá, o número que se deslocou até aqui, para pacificamente manifestar o nosso desalento pela forma morosa sobre o processo de responsabilização das pessoas que têm uma responsabilidade direta nesse crime hediondo que foi cometido", referiu.

Para Gabriel Costa, que foi primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe em 2002 e entre 2012 e 2014, na marcha está em causa "dizer às autoridades são-tomenses que é tempo suficiente para que as coisas possam efetivamente caminhar como deveria ser normal num Estado de direito".

"As pessoas não podem ficar impunes, os mandantes deste crise hediondo, os executores deste crime não podem ficar impunes tenham eles as conexões que tiverem. Que a justiça seja feita", afirmou, defendendo que "a caminhada" que o país fez até hoje dava "a indicação de que São Tomé e Príncipe só podia aprimorar o Estado de Direito e que nunca uma execução sumária de cidadãos, seja por que natureza fosse, tivesse lugar em São Tomé".

Um argumento também defendido pela ensaísta, professora universitária e investigadora são-tomense Inocência Mata, uma das manifestantes, que justificou a presença com o "sentido cívico" sobre um episódio que, diz, irá "marcar para sempre, de forma trágica, triste, terrível a história de São Tomé e Príncipe".

"Quatro pessoas foram torturadas de forma bárbara e executadas, mas pior. Todos sabem quem foram os autores desse ato, há um vídeo em que isso é evidente (...) e ninguém está detido para averiguações", argumentou, considerando "que são protegidas pelo poder".

Para a ensaísta, "também grave" é que se "sabe que houve promoções e houve compensações", com "pessoas que foram transferidas para um lugar muito bom e outro que foi promovido".

"Mas o que é que se passa em São Tomé e Príncipe? É uma normalização da barbárie? Porque o aconteceu foi uma selvajaria", afirmou, apelando "não apenas ao esclarecimento" dos factos por parte das "instituições são-tomenses", mas também à "justiça".

O apelo é igualmente dirigido às instituições internacionais, que gostaria que "olhassem para São Tomé e Príncipe e cobrassem das instituições e do poder uma atitude mais enérgica em relação ao que aconteceu".

"Se normalizarmos isto, se os são-tomenses acharem que isto é normal, não se admirem que volte a acontecer", disse.

O Ministério Público são-tomense disse, no dia 01 de fevereiro, estar a investigar com "autonomia e isenção" para apurar a verdade sobre "o assalto ao quartel" e a morte de quatro pessoas, em novembro, garantiu o procurador-geral, em resposta à carta aberta do MLSTP/PSD.

Na madrugada de 25 de novembro, quatro homens atacaram o quartel das Forças Armadas, na capital são-tomense, num assalto que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, e em que fizeram refém o oficial de dia, que ficou ferido com gravidade devido a agressões, segundo relatos das autoridades.

Três dos quatro atacantes detidos pelos militares e Arlécio Costa, do extinto 'batalhão Búfalo', morreram horas depois e imagens dos homens com marcas de agressão, ensanguentados e com as mãos amarradas atrás das costas, ainda com vida e também já na morgue, foram amplamente divulgadas nas redes sociais.

No início de janeiro o procurador-geral da República são-tomense, Kelve Nobre de Carvalho, disse que decorrem "em muito bom ritmo" as investigações ao ataque ao quartel militar e destacou a "ajuda fundamental" de Portugal no processo.

Nobre de Carvalho realçou que, de acordo com a lei são-tomense, o Ministério Público (MP) tem três meses para concluir as investigações, mas poderão ser concluídas antes desse prazo.

Numa nota divulgada em dezembro, o MP anunciou que tinham sido detidas 17 pessoas, das quais nove ficaram em prisão preventiva, no âmbito das investigações ao ataque ao quartel militar.

Por outro lado, seis militares são-tomenses foram colocados em prisão preventiva por suspeita de tortura e homicídio, sob custódia militar, de quatro homens alegadamente envolvidos no assalto ao quartel-general, disse à Lusa fonte judicial.

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