Meteorologia

  • 19 MARçO 2024
Tempo
13º
MIN 12º MÁX 21º

Processos que envolvem Governo e autarquias minam relação com os cidadãos

As investigações judiciais envolvendo o Governo e autarquias reveladas nas últimas semanas contribuem para piorar a já "difícil relação dos cidadãos com as estruturas políticas em geral", o que é prejudicial para a democracia, disse à Lusa uma investigadora.

Processos que envolvem Governo e autarquias minam relação com os cidadãos
Notícias ao Minuto

11:07 - 29/01/23 por Lusa

País investigadora

De acordo com Patrícia Silva, investigadora em Ciências Sociais da Universidade de Aveiro, de uma forma geral, "os cidadãos tendem a confiar muito mais no governo local do que confiam no Governo nacional", até porque a atuação e os casos do executivo central são mais mediatizados.

No entanto, existe por outro lado um fenómeno de "nacionalização da política", em que os cidadãos estendem às autarquias locais a ideia que têm do Governo.

Como, em geral, desconhecem quais os limites das competências das Câmaras, quando a governação nacional corre bem tendem também a ter uma imagem positiva da atuação das autarquias. Já nos períodos em que são revelados casos de corrupção, ou quando o Governo central não está a conseguir melhorar as suas vidas, tendem a assumir que "algo similar se passa também no governo local".

"Quer se queira, quer não, diria que nas últimas quatro, cinco, seis semanas estão muito, muito salientes, do ponto de vista da governação nacional, estes casos de entradas e saídas de ministros, casos de envolvimento em justiça em que alguns ministros e secretários de Estado têm estado, etc., e isso, naturalmente, vai amplificar a difícil relação que os cidadãos têm com estruturas políticas em geral e com as autarquias também", afirmou a investigadora.

A estes cenários de suspeições no Governo central, têm-se juntado nas últimas semanas casos "mais salientes" de processos de buscas judiciais em estruturas do poder local, devido a "potenciais ajustes diretos e processos burocráticos e de gestão das câmaras municipais que não foram muito claros".

"Naturalmente, [estes casos] estão agora a afetar ainda mais a relação que os cidadãos têm com estas estruturas. A maior parte desses casos, de que vamos tendo conhecimento, reportam a relações de poder autárquico com entidades privadas. E essa relação é uma relação que é muito difícil em Portugal, uma vez que nós temos um tecido empresarial que é também bastante dependente destas relações com os governos", salientou Patrícia Silva.

Os cidadãos, destacou, já têm, em geral, uma perceção da existência de corrupção, de casos de apadrinhamento e de cunhas à escala local, onde não existem muitas vezes partidos de oposição com mecanismos de fiscalização, nem meios de comunicação social locais capazes de verificar e informar os cidadãos sobre o funcionamento da máquina autárquica.

"[Há uma] mistura de se saber que esta relação com as entidades privadas é particularmente saliente no contexto português, de se saber que não existem mecanismos de fiscalização das autarquias e de existir esta perceção generalizada de que há corrupção nas autarquias. Naturalmente que estes são os ingredientes perfeitos para termos um próximo Eurobarómetro com níveis muito baixos de confiança também na gestão autárquica", referiu.

Patrícia Silva considerou ainda que há um outro fenómeno difícil de explicar, que são os casos em que os eleitores continuam a eleger autarcas já com suspeições de corrupção enraizadas e às vezes até já condenados pela justiça, que pode demonstrar o nível baixo de confiança dos cidadãos nas estruturas autárquicas e nos partidos políticos.

Segundo a investigadora, existe "a ideia de que, se vier outro, vai fazer exatamente o mesmo", porque há "esta perceção generalizada de que quem ocupa o espaço do poder em Portugal, seja ele que nível for" e em que partido for, "está mais preocupado em autoalimentar-se, em tirar partido e benefícios pessoais".

"Enraíza-se algo que é muito prejudicial à democracia, que é a indiferença [em relação a] qual é o partido que vence as eleições. Sendo indiferente, acontecem estes mecanismos em que as pessoas não se incomodam de votar em alguém que até já esteve envolvido em casos de corrupção ou que teve suspeitas de corrupção, porque se enraíza esta ideia de que 'sim, roubou, mas nós vimos alguma coisa a acontecer'", concluiu.

Leia Também: Lille não quer vender Tiago Djaló e Inter vira-se para um ex-Benfica

Recomendados para si

;
Campo obrigatório