Repetindo a condenação "veemente" da invasão dos edifícios dos órgãos de poder no Brasil, no domingo, por apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro, Cravinho disse que, ainda assim, esses "atos de violência lamentáveis e antidemocráticos" permitiram denunciar quem está contra a democracia.
"Do lado positivo, há dois aspetos salutares: a clara manifestação da força das instituições brasileiras, que rapidamente permitiu a reposição da ordem; em segundo lugar, estes episódios lamentáveis permitem uma clarificação política, revelando quem está do lado da democracia e quem não está", disse o chefe da diplomacia portuguesa.
Falando no final de uma audição parlamentar, sobre a rede consular, João Gomes Cravinho, assegurou que o Governo português "acompanhou de perto a situação" ocorrida no domingo na capital brasileira, tendo falado telefonicamente por várias vezes com o seu homólogo, Mauro Vieira.
O ministro informou que esse acompanhamento próximo lhe permitiu igualmente verificar que não há conhecimento do envolvimento de qualquer português nesses episódios.
"Fomos rápidos a transmitir a condenação, o que foi importante, já que fomos seguidos pela maioria dos países europeus", disse o chefe da diplomacia portuguesa.
Gomes Cravinho lamentou ainda que tenha havido instituições "que não estiveram à altura dos acontecimentos", recordando a demissão do secretário de Segurança do Distrito Federal, bem como a suspensão do próprio governador do Distrito Federal, por suspeitas de conivência com a invasão de domingo.
"Demonstra-se que em democracia é preciso saber ganhar, mas é fundamental saber perder", disse o ministro, fazendo uma analogia entre o episódio do ataque em Brasília por apoiantes de Bolsonaro e os acontecimentos de 06 de janeiro de 2021, quando da invasão do Capitólio dos Estados Unidos pelos apoiantes do ex-presidente Donald Trump.
"Importa-nos agora acompanhar a situação e apoiar o Brasil no fortalecimento da democracia", concluiu o chefe da diplomacia portuguesa.
Apoiantes do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram no domingo as sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e suscitando a condenação da comunidade internacional.
A Polícia Militar conseguiu recuperar o controlo das sedes dos três poderes, numa operação de que resultaram cerca de 1.500 detidos.
A invasão começou depois de militantes da extrema-direita brasileira apoiantes do anterior presidente, derrotado por Lula da Silva nas eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios.
Entretanto, o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afastou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias, considerando que tanto o governador como o ex-secretário de Segurança e antigo ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres terão atuado com negligência e omissão.
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