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Barreto Guimarães recebe Prémio Pessoa com "peso da responsabilidade"

O poeta João Luís Barreto Guimarães recebeu com "muita alegria", mas também com "espanto e surpresa", o Prémio Pessoa, que hoje lhe foi atribuído, confessando sentir o "peso da responsabilidade" por uma distinção "desta envergadura".

Barreto Guimarães recebe Prémio Pessoa com "peso da responsabilidade"
Notícias ao Minuto

14:34 - 15/12/22 por Lusa

País Literatura

"Recebi [o prémio] com muita alegria e noção da responsabilidade inerente à atribuição do prémio, ao mesmo tempo com espanto e surpresa. Conheço o prémio, tenho uma ideia de a quem foi atribuído e a que poetas foi atribuído, e senti imediatamente o peso da responsabilidade de receber um prémio desta envergadura", disse o poeta à Lusa.

João Luís Barreto Guimarães, que também é médico e cirurgião, venceu o Prémio Pessoa 2022, como foi hoje anunciado pelo júri, numa conferência de imprensa no Palácio de Seteais, em Sintra.

Questionado sobre a importância de receber este galardão quando não dispõe de todo o tempo para a escrita e exerce profissionalmente a carreira de médico, João Luís Barreto Guimarães admitiu que a construção da sua obra poética "foi sempre uma luta por tempo e, de alguma forma, uma competição entre a cirurgia e o curso de Medicina e, agora, a literatura e a poesia".

"Tudo se tornou mais fácil quando, a determinada altura, deixei de compartimentar, já há bastantes anos, as duas áreas. Tudo se tornou mais fácil, porque eu, em qualquer intervalo de tempo, em meio à minha atividade profissional, inclusive à hora de almoço, utilizava o tempo para ler ou escrever e, nesse aspeto, se calhar estará aí uma das razões pela qual eu escrevo poesia e não escrevo textos mais longos, como o romance por exemplo", disse.

Para o poeta e também tradutor, a ideia de poder utilizar um texto poético concentrado e condensado, que consegue trabalhar num intervalo de tempo mais curto, é-lhe "cómoda para conciliar com a atividade profissional enquanto cirurgião".

"A certa altura, eu já não sei se é o poeta que opera ou se é o cirurgião que escreve e eu, neste momento, sinto-me uma e a mesma pessoa e, honestamente, há algo de semelhante no trabalho de revisão e burilamento que eu faço, quer com a caneta quer com o bisturi", explicou.

No entanto, a ideia de explorar um estilo narrativo mais longo, como o romance, quando dispuser de mais tempo, não está, para já, no horizonte de João Luís Barreto Guimarães.

"Sinto-me muito cómodo com o poema, nomeadamente o poema curto, que se centra no centro da página, emoldurado por uma moldura branca de silêncio a toda a volta, em que o poema e a sua mancha gráfica, ideias e sons se esculpem no meio da página para um máximo de experiência de leitura e experiência poética. Eu gosto dessa ideia quase fílmica de curta-metragem no centro da página. Para mim, escrever mais do que isso, mais do que aumentar, é diluir e eu sinto-me confortável com a intensidade, o choque, o estremeção do poema dentro desse limite e dessas dimensões", afirmou.

O júri do Prémio Pessoa salientou a "obra vasta de João Luís Barreto Guimarães" que "se inscreve simultaneamente na tradição lírica portuguesa, tanto na sua nota histórica como intimista, e numa modernidade europeia e anglo-saxónica".

O poeta "tem dezenas de livros publicados em Portugal e traduzidos no estrangeiro, na Europa e na Ásia, na América do Sul e do Norte", lembrou ainda, de acordo com a ata.

O júri destacou ainda que o João Luís Barreto Guimarães "alia à virtude da palavra e da imaginação, uma reflexão por vezes irónica, por vezes realista, sempre duramente trabalhada, sem prejuízo do efeito estético na construção do poema".

"Homem culto, participante ativo da cultura europeia cosmopolita, a sua sensibilidade poética transita da literatura para as outras artes com uma fluidez que não recusa a tinta sentimental ou a demonstração consciente da inconsciência da condição humana".

Para o júri, a obra de João Luís Barreto Guimarães - que "escreve sobre os portugueses, e tudo o que vê e o que observa, o que sente e o que pensa, e sobre o outro com uma atenção permanente" -- é "testemunho de um tempo, o de agora, e de um tempo antigo, clássico, universal, reconhecível pela inteligência e a emoção.

Nascido no Porto, em 03 de junho de 1967, João Luís Barreto Guimarães publicou, em edição de autor, o primeiro livro de poesia, "Há Violinos na Tribo", em 1989.

Com 12 livros de poesia já publicados, segundo o seu blogue pessoal, os primeiros sete foram reunidos em 2011, numa "Poesia Reunida" editada pela Quetzal.

Em 2016, lançou "Mediterrâneo", por esta última editora, que conquistou o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa e "foi publicado em Espanha, Itália, França, Polónia, Egipto, Grécia, Sérvia e Estados Unidos, onde recebeu o Willow Run Poetry Book Award 2020".

O seu mais recente livro, "Movimento", de 2020, venceu o Grande Prémio de Literatura dst.

João Luís Barreto Guimarães é também médico e professor de Introdução à Poesia para estudantes de Medicina, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto.

Leia Também: João Luís Barreto Guimarães vence Prémio Pessoa 2022

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