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Jovens aprendem a ser jornalistas para contar histórias do bairro do Rego

Jovens do Rego, em Lisboa, estão a aprender jornalismo para serem 'Correspondentes de Bairro' e escreverem as histórias de quem mora nesta zona da cidade, que serão depois publicadas no jornal digital Mensagem.

Jovens aprendem a ser jornalistas para contar histórias do bairro do Rego
Notícias ao Minuto

08:29 - 28/11/22 por Lusa

País Lisboa

À volta da mesa, numa "redação" improvisada, Singier, Sofia, Inês, Gonçalo, Hugo, Ruben e Carolina asseguram que não querem ser jornalistas profissionais, embora estejam ali para aprender com jornalistas da Mensagem de Lisboa (www.amensagem.pt) bases de literacia mediática, a desinformação e as 'fake news', e quais os passos de uma notícia, desde a escolha do tema até à publicação.

Segundo Catarina Carvalho, diretora do jornal local, o objetivo do projeto 'Correspondentes de Bairro' também "não é propriamente que eles sejam jornalistas, mas treinar a sua forma de olhar, de contar e também de desconstruir o que é o jornalismo, dar-lhes ferramentas para que as vozes" do bairro sejam ouvidas.

Depois da formação, daqui a alguns meses, estes jovens, com idades próximas dos 18 anos, devem estar preparados para que "sejam eles a contar as histórias da comunidade, sem um intérprete entre eles e a realidade deles, que é o que muitas vezes acontece" nos meios de comunicação tradicionais, explica Joana Mouta, coordenadora da associação Passa Sabi, o outro parceiro do projeto.

Tal como a generalidade da sua geração, os jovens do Rego consultam sobretudo os meios digitais para obter informação e antes destes encontros, sempre à quinta-feira, "quase nenhum deles tinha alguma vez pegado num jornal em papel".

Por outro lado, as notícias dos meios tradicionais "são sobre assuntos que não lhes dizem nada, sobre pessoas que não conhecem e que normalmente falam de uma maneira que eles não percebem, o que também cria barreiras no acesso à informação".

Sobre os alinhamentos noticiosos diários, "falando diretamente, são uma seca". "Não me interessam os temas abordados, não me dizem nada, não acho que tenham interesse, além de estarem sempre a repetir a mesma coisa", resume Carolina, estudante do secundário na área de Humanidades.

Com esta iniciativa, que decorre ao ritmo do ano escolar, os jovens poderão contrariar a falta de representatividade que a sua comunidade tem nos ecrãs e nos jornais e divulgar bons exemplos, já que, quando se fala em bairros, normalmente é "de forma negativa, com base em estereótipos e preconceitos".

Joana Mouta considera que, neste sentido, iniciativas como os 'Correspondentes de Bairro' são uma ferramenta de combate ao ódio, ao racismo e à xenofobia, explicando que a ideia começou precisamente a partir do crescimento político da extrema-direita.

"Começámos a perceber, em algumas dinâmicas com estes miúdos mais velhos, que - especialmente com a comunidade cigana - estavam a desenvolver uma consciência política, o que era interessante, porque não existia antes. De repente, estavam a perceber que o grupo estava a ser atacado e a ser alvo de comentários negativos e começámos a ouvir pessoas a dizerem que tinham de votar, que era importante reagir, numa espécie de antagonismo a essa extrema-direita", explica.

Segundo a coordenadora, é esperado ainda que estes jovens acabem por ser mediadores sobre literacia mediática junto das suas famílias e da comunidade, que é muito diversa.

Por enquanto, ainda há tempo para escolher os temas das peças que vão ser escritas, mas a habitação, os problemas financeiros, histórias de pessoas com vidas que merecem ser contadas e até a festa do Carnaval pelas escolas do bairro estão em cima da mesa.

Catarina Carvalho, diretora da Mensagem, ensinou esta quinta-feira técnicas para preparar e dirigir uma entrevista, mas salienta que também a Mensagem está a aprender, já que nunca ninguém conhecerá o Rego como quem lá mora.

O projeto Correspondentes de Bairro ganhou uma bolsa do Programa Cidadãos Ativ@s/EEAGrants, um fundo que comparticipa projetos de dinamização de participação cívica, gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação Bissaya Barreto.

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