A Câmara Municipal de Lisboa assinalou, esta quinta-feira, o 34.º aniversário do incêndio do Chiado, que, a 25 de agosto de 1988, “devastou o coração da cidade”.
Na rede social Facebook, o município partilhou a “leitura de algumas das comunicações entre os bombeiros no local e a Central Telefónica de Comando do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB)”. O relato dá a conhecer “a história, por muitos desconhecida, da evolução do incêndio”.
O alerta foi dado pelas 5h19, quando o bombeiro José Fernando afirmou que “há fogo na rua do Ouro, Armazém Grandella”. Pelas 5h23, os bombeiros chegaram à rua do Ouro, onde confirmaram o fogo nos Armazéns Grandella. “Arde com muita intensidade e peço todo o material disponível”, lê-se.
Dois minutos depois, às 5h25, foi dito que “o fogo é de muito grandes proporções” e os bombeiros aguardavam a “chegada de todo o material disponível” pedido anteriormente, e pediram que algum desse material fosse levado para a rua Nova do Almada.
Às 5h30, reconheceram que o fogo era “incontrolável”. “Informo que o fogo na rua do Ouro é incontrolável, está a propagar a edifícios anexos, e a única maneira possível de o controlar será através de um ou dois helicópteros, e peço para falarem com o Comandante”, pediu o bombeiro responsável.
Naquela altura, o fogo já tinha consumido o Armazém Grandella e alastrava-se para os Armazéns do Chiado. Atingia também “alguns elementos dos edifícios fronteiros na rua do Carmo e da rua da Assunção, edifício Confepele”.
Às 6h10, menos de uma hora após o fogo deflagrar, não existia “qualquer hipótese de ação de combate ao incêndio por parte dos helicópteros”, mas existia “a hipótese de acionar o Hércules C-130”. “Já se dirige para o local um helicóptero Puma mas deverá organizar um local improvisado para servir de heliporto”, lê-se.
“Mandem para o local todos os Chefes de 1.ª Classe e façam acionar o mais depressa possível os meios aéreos”, pediam às 6h23.
Às 6h45, a situação era “muito grave” e as chamas alastraram-se ao edifício Martins e Costa. O ataque ao fogo passou a ser “executado pelo pátio da Escola Veiga Beirão” e pelas 7h05 pedia-se o envio de “todas as mangueiras disponíveis de 50 mm e 70 mm para o largo do Carmo”.
“O fogo atinge a parte central dos Armazéns do Chiado e propaga-se a todos edifícios do lado poente da Rua Nova do Almada, descendo para a Calçada Nova de São Francisco onde fica confinado. Na rua do Carmo, o fogo propaga-se subindo a rua, atingindo os edifícios Eduardo Martins e José Alexandre, estes já situados no início da rua Garrett”, explicaram os bombeiros às 7h30. Pelas 9h22, as zonas da rua Garrett e rua Ivens foram “evacuadas”.
Às 11h00, o comandante “mandou dizer que dá o fogo por circunscrito” e pelas 11h24 foi comunicada a morte do bombeiro Catana Ramos no Hospital de São José.
Ao meio dia, pediu-se a evacuação do lar da Santa Casa da Misericórdia, no Largo de São Roque.
O incêndio viria a ficar dominado às 15h10, quase 10 horas após o seu início. “Informo que o fogo está dominado”, afirmaram os bombeiros, que, pelas 17h50, pediram que a Presidência da Câmara Municipal de Lisboa fosse informada de que a “situação do fogo” estava a “melhorar” e seria efetuado o “rescaldo em alguns edifícios”.
O incêndio que deflagrou nos extintos armazéns Grandella, no Chiado, destruiu vários edifícios históricos, provocou mais de 40 feridos e duas vítimas mortais - um bombeiro e um eletricista, que foi encontrado nos escombros.
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