"A Europa tem que fazer parcerias e transferências de tecnologia para África", defendeu Paulo Portas, que falou dos novos mapas geopolíticos após a pandemia e com os efeitos da guerra, apontando as capacidades em termos energéticos e afirmando que "a independência energética da Europa, por exemplo, está em parcerias com África".
O antigo chefe da diplomacia traçou na sua intervenção as principais consequências da guerra na Ucrânia e da pandemia, e como influenciam o mundo e a vida das pessoas hoje.
O risco, sustentou, "não é a globalização, é a fragmentação das relações económicas", referindo ainda que o ocidente viveu durante anos com relações económicas bastante livres e agora "o ocidente faz cada vez mais comércio com o ocidente, e o oriente com o oriente", efeitos das alterações produzidas pelos acontecimentos dos últimos anos.
Fortalecimento da NATO, crescimento do nacionalismo ucraniano, Alemanha mais interveniente, deslocação do epicentro de gravidade estratégica da Europa para leste, modificação do paradigma económico -- regresso da inflação e taxas de juro mais altas -, foram alguns dos efeitos da guerra que apontou.
Neste contexto, sustentou que "devia haver mais espaço para a diplomacia" porque antes da guerra havia "um mundo com sanções mas sem guerra, agora um mundo cheio de sanções mas com guerra - um problema para as empresas -- e com pouco espaço para a diplomacia".
Quanto à pandemia, o continente que mais sofreu com a covid-19 foi a América Latina e o que menos sofreu, em termos de saúde pública, foi Áfric, assinaloua e tem a ver com perfil demográfico, um trunfo face ao envelhecimento da população europeia, e que deve ser tido em conta nas parcerias euro-africanas, defendeu Portas.
Outra ideia deixada no fórum pelo ex-vice-primeiro-ministro foi a necessidade de um "sistema internacional de gestão de crises que permitisse prever e reagir".
"Já tivemos dois avisos. Se a próxima (crise) for, por exemplo, ligada às alterações climáticas, convêm ter um sistema mais eficiente", alertou.
O Eurafrican Forum, que decorre hoje e sexta-feira em Carcavelos, está organizado em torno de cinco eixos e conta com a participação do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, dos Presidentes de Portugal, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, e vários empresários e banqueiros portugueses e africanos.
Dividido em dois dias, o Eurafrican foi aberto pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e ainda hoje há vários painéis dedicados à geopolítica e geoestratégia, saúde, educação e ciência, economia e emprego, transição energética e transformação digital e, por último, oceanos e economia azul.
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