Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
15º
MIN 14º MÁX 21º

Maria de Lourdes Modesto: "A grande senhora da nossa cozinha"

A editora Oficina do Livro lamenta a morte de Maria de Lourdes Modesto, ocorrida hoje, aos 92 anos, apontando-a como "grande senhora da nossa cozinha", de quem teve "o privilégio de publicar" os seus livros, nos últimos anos.

Maria de Lourdes Modesto: "A grande senhora da nossa cozinha"
Notícias ao Minuto

20:41 - 19/07/22 por Lusa

País Óbito

Em comunicado, a editora do Grupo LeYa dá como exemplo o mais recente livro de Maria de Lourdes Modesto, saído em maio do ano passado, "Coisas Que Eu Sei", "obra que reúne um precioso conjunto de saberes, sabores, segredos e receitas daquela que será, sempre, a grande referência da gastronomia portuguesa".

Neste livro, Maria de Lourdes Modesto "reflete sobre as heranças da cozinha tradicional portuguesa, resgata sabores e odores da sua infância e partilha um conjunto de receitas com história (entre as quais, a dos Crepes Suzette e a das Areias de Cascais), receitas incontornáveis (como Arroz Doce, Pudim Flan ou Marmelada) e receitas e saberes em torno dos principais pilares da nossa alimentação".

Esta editora tinha já publicado, em 2014, "Sabores com História", um livro em que Modesto "revelava várias curiosidades e conselhos de confeção relacionados com um sem número de ingredientes e pratos com que todos estamos familiarizados, ou que apenas conhecemos à distância, de ambientes mais requintados".

"Com mais de cinquenta receitas -- entradas, peixe, carne, massas e doces -", "Sabores com História" é "um livro de quem hoje nos despedimos, com saudades, mas com a grande alegria de a ter podido acompanhar nas suas últimas publicações".

Maria de Lourdes Modesto iniciou a sua carreira televisiva em 1958, era então professora de Trabalhos Manuais no Liceu Charles Lepierre, em Lisboa, tendo sido convidada pela RTP para apresentar um programa de índole cultural.

Foi na televisão que veio a apresentar durante 12 anos," o mais popular programa culinário de que há memória no país".

Em Lisboa, outubro de 2019, homenageada pela Associação Portuguesa de Escritores, o percurso de Maria de Lourdes Modest foi recordado, desde os anos do Liceu Francês, quando fez parte do elenco de uma peça de teatro de Molière, "Monsieur de Pourceaugnac", onde fez papel de intriguista e cuja interpretação a ajudou catapultar para a televisão, até ao programa na estação pública, que manteve ao longo de doze anos, e que foi pioneiro deste género de formato de cozinha ao vivo.

Entre as histórias lembradas, contou-se a da sua iniciação na escrita de cadernos de receitas, com o pseudónimo Francine Dupré, que o mercado pensava pertencer a uma gastrónoma francesa, e que se tornaram um sucesso.

Em 2014, quando lançou "Sabores com Histórias -- Alimentos, Preceitos", pela Oficina do Livro, Maria de Lourdes Modesto confessou à Lusa estar "preocupada com a identidade gastronómica" nacional, pois "não se faz uma separação entre o que é cozinha contemporânea, praticada agora, e muito bem, por todos os 'chefs', e a cozinha regional".

"Já é tempo de nos orgulharmos da nossa cozinha tal como ela é, antes que venham cozinheiros estrangeiros dar contributos para a modificar, não precisamos e devemo-nos orgulhar das nossas tradições culinárias", disse.

Sobre o seu próprio livro, afirmou então: "Reúne crónicas minhas, escritas com algum humor e de uma forma simples, pois é como sei escrever; também receitas. E revela várias curiosidades e conselhos de confeção, relativamente até a alguns pratos com os quais estamos familiarizados, e coisas menos habituais do quotidiano, mas interessantes ao paladar e fáceis de fazer", disse.

Sobre a sua carreira e os anos de presença na televisão, que a tornaram conhecida, disse à Lusa: "Fui muito parodiada no teatro de revista e não só, mas achava muita graça, pois foi feito sempre com elegância, e temos de nos saber rir de nós mesmos".

"As diferenças [de quando começou] para atualidade são enormes", disse, e citou uma delas: "Dantes os 'chefs' começavam por carregar carvão para os fogões, agora começam -- e muito bem -- numa escola. Faz toda a diferença, nomeadamente na atitude cultural".

Maria de Lourdes Modesto afirmou à Lusa que começou por se "apaixonar" pela cozinha alentejana, mas depois foi "descobrindo outras culinárias, alargando horizontes". Estudou a culinária francesa e as tradições gastronómicas portuguesas.

Maria de Lourdes Modesto, nasceu em Beja, em 1930. Ficou conhecida como "a diva da gastronomia portuguesa", tendo sido feita Comendadora da ordem do Mérito em 2004.

Leia Também: "A cozinha portuguesa perdeu hoje uma das suas figuras mais populares"

Recomendados para si

;
Campo obrigatório