Procurar

Especialistas portugueses em Luanda para identificar corpos do 27 de Maio

Uma equipa de especialistas forenses de Portugal chegou hoje a Luanda para trabalhar com técnicos angolanos na identificação de corpos de vítimas do 27 de Maio, em representação de algumas famílias que residem na diáspora.

Especialistas portugueses em Luanda para identificar corpos do 27 de Maio

© Shutterstock

Lusa
18/07/2022 13:48 ‧ há 3 anos por Lusa

País

Luanda

A equipa integra as antropólogas forenses Eugénia Cunha e Inês Santos e é liderada por Duarte Nuno Vieira, ex-presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, sendo acompanhada igualmente de um especialista da Polícia Judiciária.

O objetivo é individualizar os corpos encontrados numa vala comum, a cerca de 20 quilómetro de Luanda, para posterior identificação através da confrontação com o material genético dos familiares, disse à Lusa Duarte Nuno Vieira, que espera juntar-se à missão nos próximos dias, depois de testar positivo à covid-19.

Entre estes, poderão estar os corpos de Sita Valles e José Van Dunem, um jovem casal de dirigentes do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), que estariam envolvidos no suposto golpe de Estado de 27 de maio de 1977, e que foram mortos na repressão que se seguiu.

A individualização e identificação dos restos mortais poderá proporcionar informações sobre as circunstâncias em que ocorreram as suas mortes, indicando patologias e eventuais lesões, acrescentou o especialista.

Para já, não há certezas sobre o número de corpos, admitindo-se que poderão ser mais do que dez.

As ossadas já foram recolhidas e encontram-se em instalações forenses onde serão colhidas as amostras para a tipagem de ADN, depois de serem estudados os ossos para individualizar os corpos.

Serão recolhidas três amostras por corpo, uma para ser processada em Angola, outra em Portugal e outra que servirá de controlo.

Sem querer avançar uma data para a conclusão dos trabalhos, Duarte Nuno Vieira declarou que os resultados serão apresentados "com a maior celeridade possível"

"Não é possível adiantar uma data, é um processo que demora o seu tempo. Pode correr tudo bem à primeira ou pode haver contaminação e ser necessário repetir as análises", apontou o médico.

A vala comum, na zona dos Ramiros, foi visitada no início do mês pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, que falou sobre a pretensão do executivo em transformar o sítio num lugar de homenagem "àqueles que pereceram e foram enterrados de forma tão trágica".

Citado pelo Jornal de Angola, o também coordenador da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), fase II, referiu que o local será entregue às autoridades do Governo Provincial de Luanda e da Administração Local para tratamento adequado.

Francisco Queiroz reconheceu que os conflitos do 27 de Maio foram um acontecimento trágico que não se pretende que volte acontecer nunca mais: "Mas era necessário termos esse momento que tem o seu caráter sensível e forte".

Foram identificadas nesta vala as ossadas de Alves Bernardo Baptista (Nito Alves), Jacob João Caetano (Monstro Imortal), Arsénio José Lourenço Mesquita (Sianouk) e Ilídio Ramalhete Gonçalves, entretanto entregues às famílias e sepultados no Cemitério Alto das Cruzes.

Durante a sua estada em Luanda, a equipa portuguesa, além do trabalho conjunto com os médicos-forenses do Laboratório Central de Criminalística, manterá um encontro de trabalho com a CIVICOP.

Em 27 de maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação aparentemente liderada por Nito Alves --- então ex-ministro da Administração Interna desde a independência, em 11 de novembro de 1975, até outubro de 1976 --- foi violentamente reprimida pelo regime de António Agostinho Neto, o primeiro Presidente da Angola independente.

Num ajuste de contas entre dirigentes do MPLA, que governa Angola desde a independência do país, e com a ajuda de tropas cubanas, o regime deteve e matou milhares de pessoas, cujo total ainda se desconhece.

Leia Também: Empresários portugueses satisfeitos com ambiente em Angola

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com

Recomendados para si

Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

IMPLICA EM ACEITAÇÃO DOS TERMOS & CONDIÇÕES E POLÍTICA DE PRIVACIDADE

Mais lidas

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10