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Independentismo foi a "causa principal" da autonomia dos Açores

O professor catedrático e historiador Avelino Menezes considera que a manifestação realizada a 06 de junho de 1975, em Ponta Delgada, conotada com o independentismo, é a "causa principal" da institucionalização da autonomia dos Açores, instaurada em 1976.

Independentismo foi a "causa principal" da autonomia dos Açores
Notícias ao Minuto

11:46 - 04/06/22 por Lusa

País Avelino Menezes

No ano em que o Dia da Região Autónoma dos Açores, que se comemora na segunda-feira, coincide com o dia da manifestação de 06 de junho de 1975, o investigador refere que este evento "é a causa principal da institucionalização da autonomia em 1976".

O historiador salvaguarda que "tudo é consequência do 25 de abril de 1974, que faculta a descolonização das parcelas do além-mar, com repercussões nos Açores".

"Em alguns suscita a reivindicação do direto à independência e, em quase todos, acresce a ânsia e o desejo de reconquista e do aprofundamento da autonomia", afirma.

Avelino Menezes considera que a FLA - Frente de Libertação dos Açores, teve em 1975 um "papel fulcral para o futuro dos Açores", uma vez que "sem a pressão separatista, sobretudo sem o temor do 06 de junho, jamais os Açores e a Madeira teriam alcançado uma autonomia política ampla e avançada".

É então criada a Junta Administrativa dos Açores, que perdura até à posse do primeiro Governo dos Açores, em setembro de 1976, de acordo com o investigador, constituindo uma "antevisão do futuro executivo açoriano autónomo, já a favor da unidade das [nove] ilhas, contra o espartilho distrital" de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta (concelhos das ilhas de São Miguel, Terceira e Faial, respetivamente).

Para o historiador, a autonomia dos Açores "é um processo histórico multissecular" que "não radica somente nas transformações democráticas de 1974-76" nem "nas manifestações regionalistas e antirrepublicanas da década de 1920".

"Nem sequer radica na contestação de finais do século XIX, resultante da crise da economia e do agravamento dos impostos, que geram a impressão do abandono dos Açores pelo governo de Portugal. Tudo próprio de um povo que ao governo de Lisboa paga mais, que do governo de Lisboa recebe menos. Tudo próprio de um povo português na hora do tributo, estrangeiro na hora do benefício", defende o investigador.

Avelino Meneses cita uma carta de Antero de Quental a Oliveira Martins, onde o poeta e filósofo açoriano "exprime bem o desencanto dos insulanos do termo de oitocentos".

De acordo com o docente da Universidade dos Açores, "na verdade, já em 1891, pouco antes de finado, sobre as aspirações dos açorianos, afirma (Antero) sem rodeios, que «... uns desejariam ser americanos, outros ingleses, ninguém manifesta sentimentos de português»".

O historiador sustenta que a autonomia dos Açores "tem talvez raízes mais antigas, porventura nas amplas jurisdições dos poderes locais de senhores e municípios do antigo regime, cerceadas com a instituição da Capitania Geral em 1766, ainda mais com o triunfo do Constitucionalismo no 1º terço do século XIX".

"Na época pombalina, a preponderância do poder real determina a imputação à corte de Lisboa de toda a responsabilidade pelos infortúnios insulares. Na administração liberal, a fruição da liberdade confere o direito da contestação, que culmina na reivindicação de um governo próprio, condizente com os anseios dos nossos povos, melhor dizendo dos nossos maiores, os únicos então investidos de efetiva capacidade de mando", afirma.

Para Avelino Menezes, hoje, a autonomia "é um projeto com fragilidades, uma vez que "não tem datas emblemáticas" e "o 02 de março (o de 1895) é comummente ignorado até pelos jornais de Ponta Delgada, que é o berço da autonomia dos Açores".

O 16 de fevereiro (de 1928) "caiu por completo no esquecimento e o 06 de junho (de 1975) ainda não conquistou reconhecimento social e institucional".

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