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Abusos na Igreja. Comissão de estudo do não é investigação criminal

O coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja assegurou hoje que a equipa agora constituída não vai fazer investigação de natureza criminal e realçou a vontade da Igreja de saber a verdade.

Abusos na Igreja. Comissão de estudo do não é investigação criminal
Notícias ao Minuto

17:59 - 02/12/21 por Lusa

País Igreja Católica

Em declarações prestadas na conferência de imprensa realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o médico pedopsiquiatra Pedro Strecht explicou que a comissão "é, acima de tudo, uma equipa de estudo e não uma equipa de investigação", pelo menos numa dimensão judicial, relegando essas matérias para a Polícia Judiciária (PJ), sem deixar de destacar o possível recorde deste ano em casos de violência sexual contra crianças.

"Muito provavelmente em 2021 estaremos à beira de bater um recorde de denúncias à PJ, só no primeiro semestre abriu mais de 1.300 investigações. A PJ tem imensa experiência nesse campo, mas é claro que vamos estar atentos a tudo o que possa ter acontecido retrospetivamente", frisou o responsável pela comissão, precisando o limite temporal dos trabalhos na idade mais anterior de qualquer das vítimas que venha a ser referenciada.

Assumindo que a revelação dos arquivos históricos da Igreja tem sido abordada junto da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Pedro Strecht salientou a "óbvia e genuína" vontade da Igreja Católica Portuguesa em querer saber o que aconteceu ao nível do abuso sexual de menores dentro da instituição. No entanto, reiterou a total independência da comissão e a denúncia de eventuais obstáculos.

"O todo não pode ser tomado apenas a partir de parte. Contamos com a disponibilidade e o interesse da Igreja de conhecer a verdade. Se sentirmos dificuldades ao longo do caminho, estamos cá para isso e, se vier a acontecer, cá estamos para denunciar a outras estruturas competentes. Durante muito tempo, infelizmente, a Igreja protegeu e o Estado escondeu. Felizmente, as mentalidades mudaram", explicou.

Para o coordenador, "o objetivo é provocar consequências e mudanças" na cultura instituída ao longo dos anos no seio da Igreja Católica, na qual muitas situações de abuso acabaram por ser alvo de encobrimento.

"Não nos interessa enquanto comissão chegar ao final deste trabalho e fazer apenas um relato mais ou menos pormenorizado do que encontrámos. Para nós todos interessa ainda concluir dando sugestões e traçando desafios que, obviamente, nos possam ajudar a todos e à própria Igreja a reconstruir-se", observou.

Já em relação ao financiamento da comissão, Pedro Strecht disse que tal estará a cargo da CEP, embora tenha recusado que isso possa representar um condicionalismo no seu trabalho. Sem adiantar números, o médico pedopsiquiatra resumiu apenas que não chegará aos meios colocados à disposição em França e que rondaram os 2,5 milhões de euros, num trabalho que se prolongou por dois anos e meio e que abalou a Igreja Católica francesa.

"O financiamento, os meios, material e trabalho está a cargo da CEP, sem que isso nos torne dependentes ou não livres de executar o nosso trabalho. Se outros elementos da sociedade civil quiserem ou puderem vir a contribuir, obviamente agradecemos", afirmou.

Em representação da CEP, o bispo José Ornelas reforçou o interesse da Igreja em apurar a verdade, mas evitou traçar expectativas sobre as descobertas e conclusões da comissão, a quem garantiu que terá meios de trabalho.

"Não sei o que espero, se soubesse não precisava de tanto trabalho. Assusta-me mais não saber do que a realidade que vai surgir. E que surja o mais realisticamente possível e o mais certa possível: este é o nosso interesse. Não vamos negar os meios necessários para facilitar a própria investigação. Será feito de acordo com as sugestões e as necessidades da comissão para a realização do seu trabalho", concluiu.

O trabalho desta comissão independente vai decorrer ao longo de 2022, estando prevista a apresentação de um relatório no final do próximo ano.

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