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Otelo: Jornalista Paulo Moura destaca generosidade total

O jornalista Paulo Moura, biógrafo de Otelo Saraiva de Carvalho, destacou a generosidade total e a capacidade de realização do militar, que hoje morreu, considerando que não foi apenas quem delineou o golpe, mas o seu protagonista.

Otelo: Jornalista Paulo Moura destaca generosidade total
Notícias ao Minuto

15:09 - 25/07/21 por Lusa

País Otelo Saraiva de Carvalho

"Ele representa muitas das características que os portugueses nem sempre têm, que é a generosidade total e a capacidade de realização, de fazer", disse à agência Lusa Paulo Moura, autor do livro "Otelo", referindo que o militar "teve a capacidade, sozinho -- mais ninguém se chegara à frente -" de planear, executar e fazer a revolução, "isto com total espírito de missão, sem ambição de poder".

Realçando o lado humano, "mais do que o estratega militar ou o político", o jornalista salientou que Otelo Saraiva de Carvalho era uma "pessoa extremamente generosa, abnegada, sem nenhum apego ao poder, sem nenhum egoísmo, totalmente dedicada às causas que abraçou, fossem corretas ou não, hoje em dia".

Paulo Moura adiantou que o militar "não teve uma ideologia muito vincada" e "nunca pertenceu a nenhum partido", apesar de "muitos partidos o terem aliciado para se filiar", mantendo-se sempre independente.

"Outra característica da sua personalidade foi a coragem. Fala-se do estratega, porque planeou a revolução e executou o plano com êxito, mas mais importante é o facto de ele ter tomado a decisão de fazer a revolução. Ele é, de facto, o líder da revolução", frisou, para acrescentar: "Ele é o protagonista".

Paulo Moura declarou que, "quando tinha falhado o 'Golpe das Caldas' [16 de março de 1974] e, portanto, os militares que estavam a preparar a revolução tinham sido presos ou afastados e o movimento desmembrado", foi aí que Otelo Saraiva de Carvalho se "assumiu como líder".

"Houve um momento em que foi uma ação muito solitária. Fechou-se em casa três dias, creio eu, a fazer o plano. Contactou, pessoalmente, um a um os líderes militares e convenceu-os a participar no golpe, muitas vezes através da sua capacidade de sedução pessoal", afirmou.

Para o jornalista, "Otelo é um sedutor".

"Ele sempre quis ser ator, mas foi pressionado pela família para seguir a carreira militar, por ser um emprego seguro. Tem esse lado de palco, de cativar as pessoas", lembrou o jornalista, observando que Otelo Saraiva de Carvalho "chegou a convencer pessoas que eram do regime a fazer parte da revolução".

A biografia "Otelo" teve como principal fonte o testemunho do militar, sendo "muito baseada em entrevistas de muitas horas, muitos encontros" com o militar, disse ainda Paulo Moura.

Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu hoje de madrugada, aos 84 anos, no hospital militar.

Nascido em 31 de agosto de 1936, em Lourenço Marques, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por vários atentados e mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.

Leia Também: Otelo, o estratego "inconformista e temperamental" do 25 de Abril

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