A Fundação Gulbenkian e o Instituto Universitário de Florença anunciaram hoje a criação de um fundo europeu para combater a desinformação global, que visa apoiar projetos de literacia digital e verificação de factos na Europa.
"Os primeiros concursos vão sair este ano, é provável que seja no segundo semestre", disse Luís Madureira Pires, coordenador da comissão de gestão do fundo europeu.
Neste momento, o fundo ainda não tem um valor, mas tem havido "vários contactos a nível de grandes companhias europeias e globais" para o financiamento, uma vez que este se destina a 40 países.
"Temos naturalmente boas expectativas que nos próximas dias e semanas vamos ter financiadores", afirmou.
O novo Fundo Europeu para os Media e Informação destina-se a apoiar projetos de literacia digital e verificação de factos em todos os países da Europa, incluindo a União Europeia, EFTA (Associação Europeia do Comércio Livre) e Reino Unido.
"Vamos ter todos os anos de apoiar vários países porque há uma preocupação grande de expressão dentro dos 40, em particular dos 32 que corresponde à União Europeia, à EFTA e Reino Unido, porque são o maior 'target'", disse Luís Madureira Pires, salientado que não serão excluídos "nem os países a leste, nem os países dos balcãs".
A ideia é haver uma dispersão dos apoios.
Este fundo é apoiado pela Comissão Europeia e a gestão partilhada do projeto atribui ao Observatório Europeu de Media Digital (EDMO) -- da School of Transnacional Governance do Instituto Europeu de Florença (IUE) - as componentes académica, ética e de avaliação de projetos e à Fundação a sua gestão administrativa e financeira.
Ou seja, "a gestão do fundo fica na Fundação" Gulbenkian, salientou o responsável.
Com esta iniciativa, a Fundação Gulbenkian assume um papel de relevo no combate à desinformação.
"Entrámos neste processo e com vontade de atingir bons resultados", salientou o coordenador da comissão de gestão, que destacou ainda as três dimensões do fundo.
"Por um lado, é a questão das novas desigualdades que decorrem da iliteracia digital", pelo que a "promoção da literacia digital mediática para nós é muito importante", porque permite às pessoas saberem aceder à informação, entender, criticar.
"É importante que as pessoas possam ter capacidade de avaliar notícias e de criticá-las", acrescentou.
Depois, "há a questão do combate à desinformação, às 'fake news', a questão da verificação de factos e das campanhas de desinformação que são cada vez mais frequentes em campanhas eleitorais", prosseguiu.
Ou seja, a primeira dimensão tem a ver com a "questão da desigualdade" e a segunda "mais a ver com a democracia, os direitos humanos, os discursos de ódio, tudo o que está ligado normalmente a campanhas de desinformação e que são preocupações que a Fundação sempre teve e que são fundamentais à nossa sociedade", resumiu.
A terceira grande área do fundo é a investigação, à qual a Fundação Gulbenkian está muito ligada, que permite conhecer melhor o setor e saber o que está por trás do que acontece.
"São as três grandes áreas do fundo, não é só sobre desinformação", mas esta é a "maior", rematou.
Além do fundo, a Fundação gere, desde 2013, as verbas atribuídas a Portugal para a sociedade civil no âmbito dos EEA Grants, uma iniciativa da Islândia, Liechtenstein e Noruega para reduzir as disparidades económicas e sociais na Europa.