Meteorologia

  • 24 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 13º MÁX 24º

Ataques racistas da extrema-direita em Portugal são notícia lá fora

The Guardian abordou o tema do racismo em Portugal, recordando vários episódios recentes como o caso de Cláudia Simões, agredida por causa de um bilhete de autocarro, e o homicídio de Bruno Candé, baleado em plena luz do dia em Moscavide.

Ataques racistas da extrema-direita em Portugal são notícia lá fora
Notícias ao Minuto

08:38 - 28/09/20 por Notícias Ao Minuto

País Racismo

O jornal britânico The Guardian dedica esta segunda-feira um artigo ao tema do aumento da violência racial em Portugal, associado ao fenómeno da ascensão da extrema-direita. No artigo em  em causa são recordados vários episódios que levaram a Rede Europeia contra o Racismo (ENAR) a apelar, no início deste mês, a uma "resposta institucional urgente". 

Um dos exemplos destacados é a própria experiência de Mamadou Ba que, conta ao jornal, este verão recebeu uma carta onde se podia ler: "O nosso objetivo é matar os estrangeiros e antifascistas e tu estás entre os nossos alvos". Semanas depois, relatou o líder da SOS Racismo, fora-lhe enviada uma mensagem dizendo-lhe para deixar Portugal, caso contrário a sua família iria sofrer as consequências. 

O artigo recorda também o caso de Bruno Candé, o ator de origem guineense assassinado em julho em plena luz do dia, em Moscavide, assim como o caso de Cláudia Simões, agredida por causa de um bilhete de autocarro, ou ainda os insultos racistas proferidos ao jogador de futebol Marega

"Nos últimos meses, tem havido um aumento muito preocupante de ataques racistas de extrema-direita em Portugal, confirmando que as mensagens de ódio estão a alimentar táticas mais agressivas que visam os defensores dos direitos humanos de minorias raciais", alertou a Rede Europeia Contra o Racismo.

No ano passado, sublinha o artigo do jornal britânico, a Comissão Portuguesa para a Igualdade e Contra a Discriminação recebeu 436 queixas relativas a casos de racismo, um aumento de 26% em relação a 2018.

Para a ENAR, o aumento de episódios racistas começou a ser notório desde as últimas eleições legislativas, em outubro do ano passado, quando André Ventura, líder do Chega, conquistou um lugar no Parlamento. O ressurgimento da extrema-direita, aliás, já tinha acontecido em Espanha com o crescimento do Vox

O The Guardian recorda que André Ventura, conhecido por ter ligações com outros grupos extremistas de extrema-direita, nomeou ex-membros de grupos neonazi para posições de liderança no partido ( embora tenha alegado, mais tarde, não ter conhecimento das origens dos militantes). O jornal lembra, por exemplo, o facto de Ventura se ter referido a Ana Gomes como a "candidata cigana" e de ter defendido a "redução drástica" das comunidades muçulmanas na Europa.

Para o politólogo António Costa Pinto, André Ventura está a crescer porque "diz em público o que muitos portugueses pensam em privado mas não dizem". Ao jornal britânico, o investigador observou que a agenda política do líder do Chega é semelhante à de muitos outros líderes de extrema-direita em todo o mundo, alinhando o discurso crítico contra as "elites políticas típicas e a corrupção".

O The Guardian ouviu também Joacine Katar Moreira, a deputada negra eleita pelo Livre nas últimas eleições - entretanto desvinculada do partido, tornando-se deputada não inscrita - e que tem sido alvo de insultos racistas. "Estamos a assistir ao o início da normalização do discurso de ódio racista. Há uma normalização das agressões racistas e há até uma legitimação político-institucional", disse ao jornal, que relata ainda a manifestação liderada por Ventura para 'demonstrar' que "Portugal não é racista", opondo-se ao movimento 'Black Lives Matter' que se mobilizou depois da morte de Bruno Candé.

O artigo refere ainda que apesar do crescente número de denúncias de discriminação em Portugal, quase nenhuma resultou em condenação. Entre 2014 e 2018, o número de condenações por crimes de discriminação e incitamento ao ódio e à violência é inferior a três".

Recomendados para si

;
Campo obrigatório