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Marinha estreia-se no salvamento submarino em profundidade

 Um exercício inédito da Marinha portuguesa afundou hoje o submarino Tridente junto ao cais do Alfeite para treinar o salvamento em profundidade, numa operação complexa de seis horas que trouxe de volta à superfície oito marinheiros.

Marinha estreia-se no salvamento submarino em profundidade
Notícias ao Minuto

18:31 - 17/09/20 por Lusa

País Marinha

Na Base Naval de Lisboa, perto de 100 militares da esquadrilha de subsuperfície da Armada estiveram envolvidos no treino de ascensão livre "Escapex20", entre a guarnição do submergível, os mergulhadores das lanchas salva-vidas, médicos e enfermeiros e outro pessoal de apoio.

Frente à bacia do rio Tejo estavam a tenda do centro de comando para controlo das operações, a tenda da enfermaria de campanha e a importante câmara hiperbárica portátil, destinada a tratar os casos de "doença do mergulhador" (descompressão demasiado rápida).

Cada um dos submarinistas que simularam a fuga do navio teve de entrar para uma antecâmara do Tridente, que foi então alagada antes de se abrir a escotilha, rumo à superfície.

Alegadamente inconsciente, devido à veloz subida, chegou o segundo sargento Santos Carrilho, recolhido em maca e transportado para terra firme, ainda com o fato impermeável e insuflável, cor de laranja, uma espécie de balsa humana que aguenta até 19 atmosferas de pressão hidrostática (180 metros).

"Estou contente, uma experiência única. Já tinha feito em Espanha (torre de escape livre de 10 metros, em Cartagena), num ambiente mais controlado. Assim, dá um bocadinho mais de pressão. O espaço é muito mais fechado, aqui a água fica ao nível dos olhos. É mais difícil, mas mais aproximado da realidade", relatou, após deixar a proa submersa e percorrer "três metros" até à tona, "em dois segundos".

O capitão-tenente Diogo Cavalheiro, médico, afirmou tratar-se sempre de uma situação "muito complexa" pelos problemas de "localização e comunicação com submarino" e, depois, o próprio "resgate, avaliação clínica e tratamento dos submarinistas".

"Em potência, se nada for feito e não houver apoio médico adequado, pode ser mortal. Daí termos esta estrutura porque se houver um tratamento rápido, nomeadamente uma recompressão na câmara hiperbárica no local, rápida, conseguimos evitar esse risco e evitar sequelas para o futuro dos nossos militares", disse, explicando que as subidas inusitadas produzem "bolhas em vários órgãos do corpo humano".

Em novembro de 2017, o submarino argentino San Juan afundou-se após explosões, entre Ushuaia e Mar del Plata, com 44 tripulantes. Só um ano depois foi localizado, a 907 metros de profundidade.

Há 20 anos, o submarino nuclear russo Kursk afundou-se também no Mar de Barents, após registo de explosões, com uma tripulação de 118 homens, mas à escassa profundidade de 108 metros.

"A operação com submarinos está sempre assente no risco, que é maximizado pelas características do navio: baixa assinatura acústica, visual e térmica, que o torna difícil de ser detetado e potencia colisões à cota periscópica, com contactos com navios de superfície", descreveu o capitão de fragata Amaral Henriques, acrescentando que "a água é um meio hostil e tipicamente opaco".

Segundo Amaral Henriques, "este exercício de salvamento de submarinos é um dos mais importantes que foi feito porque potencia um conjunto de treinos e de avaliação em diversas áreas que nunca foi feito até agora".

"Permite treinar toda a cadeia de apoio inerente ao salvamento de submarinos e pessoal sinistrado. Permite o treino da guarnição com os equipamentos de salvamento reais existentes a bordo, aos militares, de forma individual, fazer os procedimentos de abandono [do navio], permite que toda a estrutura de coordenação e organização de comando e controlo seja testada e avaliada, assim como toda a ação médica, que vai trabalhar para maximizar a sobrevivência do militar assim que chega cá a cima", disse.

O Tridente e o outro submarino português, Arpão, têm um comprimento total de 67,79 metros e uma altura (da quilha ao topo da torre) de 13 metros, com autonomia para 50 dias no mar. O navio pesa 2.180 toneladas, pode "mergulhar" até mais de 300 metros e consegue uma velocidade de 20 nós (37 km/h) em imersão.

Estes U-209PN, fabricados pela empresa alemã Howaldtswerke Deutsche Werft GmbH (HDW) são movidos através de dois geradores AIP Siemens Sinavy (BZM-120), dois motores diesel MTU 16V396 TB-94 e um motor elétrico Siemens Permasyn, contendo um sistema de lançamento para seis mísseis Harpoon UGM 84 e 12 torpedos.

O Estado português decidiu comprar novos submarinos em 1998, enquanto o socialista António Guterres chefiava o seu primeiro Governo. Contudo, a encomenda dos dois navios só foi formalizada em 2004, já com a coligação governamental PSD/CDS-PP no poder, primeiro com Durão Barroso e depois com Santana Lopes.

O democrata-cristão Paulo Portas era o ministro de Estado e da Defesa Nacional e, posteriormente, dos Assuntos do Mar. Os submarinos viriam a ser entregues em 2009 e 2010 e o negócio gerou polémica anos mais tarde, por suspeitas de corrupção, envolvendo ainda o grupo Espírito Santo.

Na altura, os dois navios custaram a Portugal 840 milhões de euros, mas alguns atrasos verificados fizeram a verba total subir para mais de mil milhões de euros, sem incluir os custos de manutenção. Por sua vez, o consórcio alemão daria contrapartidas à volta de 1.210 milhões de euros.

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