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Pandemia não afetou caça ao pato mas sim os convívios entre caçadores

A pandemia de covid-19 não afetou a caça ao pato no estuário do rio Mondego, mas os convívios realizados pelos caçadores no final das caçadas deixaram de suceder devido ao novo coronavírus.

Pandemia não afetou caça ao pato mas sim os convívios entre caçadores
Notícias ao Minuto

08:00 - 21/08/20 por Lusa

País Covid-19

A época de caça ao pato abriu no domingo e a ilha da Morraceira, junto à Figueira da Foz, espaço natural com 600 hectares onde coexistem salinas (embora várias em pousio) e pisciculturas, mas também uma zona de caça associativa, voltou a ser destino obrigatório de caçadores da região.

Bem no coração da ilha, quase no seu extremo nascente, equidistante dos braços norte e sul do Mondego, em zona húmida de sapais e canaviais, situa-se a zona de caça concessionada ao Clube de Caçadores do Vale do Mondego. Pela manhã, a reportagem da Lusa foi ao encontro de Nuno 'Chumbo' - o apelido pelo qual é conhecido não consta da sua identificação oficial, antes vem do pai, avô e bisavô e não tem a ver com a caça, apesar dos antepassados serem todos caçadores - que, apesar da chuva que caía insistentemente, logrou abater três patos, metade do limite diário imposto a cada caçador.

"Na caça propriamente dita, a covid-19 não tem influência, aqui não há perigo, há muito espaço e as pessoas estão separadas e muito longe umas das outras. Onde afetou foi na altura do confinamento, em que as assembleias dos clubes tiveram de ser todas adiadas. E também afeta o convívio no final, gostamos de nos juntar, mas temos evitado isso", afirma Nuno Chumbo.

O caçador, oriundo da povoação de Casal Verde, freguesia do Paião, a 15 km de distância da Morraceira, não caça em grupo, preferindo fazê-lo em modo solitário, mesmo se a opção lhe impõe meia hora de percurso, sozinho e a pé (em terrenos onde predomina a água, lama e lodo), longe dos vários caminhos de terra que serpenteiam pela Morraceira, onde os participantes nas caçadas estacionam as viaturas.

"Gosto da companhia de toda a gente, mas sou caçador solitário. Toda a gente gosta de levar caça para casa, mas o prazer maior é saber o que estamos a fazer e usufruir do momento. Ao estar sozinho, ou mato ou erro, mas sei sempre que fui eu", argumenta Nuno.

Para este caçador, o ato de caçar na Morraceira não se resume a "matar por matar" patos, é necessário saber o que se está a fazer e cumprir as regras associadas à caça.

"Por exemplo, há muitas zonas de refúgio onde os patos criam. Hoje, apareceram poucos patos, porque se refugiaram nos sítios onde não se pode caçar, nas salinas e pisciculturas e tem de ser mesmo assim, não se pode matar até ao último, porque a caça é para continuar", nota.

"Quem é caçador tem de perceber essa parte. A mentalidade de há uns anos para cá mudou muito, as pessoas respeitam mais a caça, fazem por ter esse respeito, é a ideia que eu tenho", garante Nuno Chumbo.

Por outro lado, lembra que na caça "nada é garantido".

"Há muita coisa que tem influência, se está mau tempo ou não, o vento, ou a zona de passagem [dos patos em voo], que muitas vezes não é a mesma. Os patos têm muita defesa e são inteligentes, o pato é das espécies mais desconfiadas que existe e depois têm um poder grande, voam, têm essa vantagem", brincou.

No relato feito sobre as especificidades e dificuldades da atividade venatória, Nuno Chumbo acaba por comparar a caça ao futebol: "O caçador tem de conhecer muita coisa e há muitos pormenores que fazem a diferença. E não é para qualquer um, isto é como no futebol, há aqueles que nascem para isto e os que vão treinando e nunca chegam lá", ilustrou.

Nuno Chumbo caça acompanhado da cadela "Cesa", que invariavelmente recolhe, muitas vezes dentro de água, o animal abatido pelo dono. "Cesa", abreviatura de Princesa, pela necessidade de ter "um nome mais curto e mais fácil de prender a atenção", teve "muitas horas de treino", geralmente em época de defeso da caça, para conseguir cumprir a função.

"Os caçadores têm muito a fama de abandonar os cães. Mas esta cadela estava abandonava, não andava, era para ser morta e resgatei-a. É muito simpática e meiguinha e hoje apanha patos", assinala.

Ali perto, mas dentro de água, com esta pelos joelhos, está Pedro Amaro, amigo de Nuno e também participante habitual nas caçadas aos patos na Morraceira. Mas desta vez há de retornar a casa, na freguesia de Quiaios, no norte do concelho, de mãos a abanar.

Perante a reportagem da Lusa, um pato passa vários metros acima do local onde Pedro está, Nuno Chumbo alerta-o com um berro, mas o caçador falha o tiro. Já em seco, justifica o porquê de sair da Morraceira sem qualquer pato abatido.

"Isto implica madrugar muito cedo [por vezes ainda noite alta] para garantir os melhores locais. Hoje, estive a trabalhar, vim tarde [pelas 09:00] e não matei nada. No domingo sim, correu bem e fiz o limite máximo", argumenta Pedro Amaro.

"É que os patos têm hora de chegar, têm crenças de passagem e é preciso estudar o hábito dos animais. E o pato foge e muito", desculpa-se, com uma gargalhada.

Se reconhece que o mais difícil da função "é acertar nos patos", a zona da Morraceira fascina-o: "Estou sempre dentro de água, já sou quase anfíbio. O terreno tem algumas armadilhas, é irregular, mas devagarinho e com algum cuidado anda-se bem", explica Pedro Amaro.

Já com os caçadores de regresso a casa, acerca-se Paulo Jorge, primo e vizinho de Nuno e definido por este como "o maior matador de patos da região", que também não conseguiu caçar qualquer pato.

"Foi muito mau, com a chuva está muito fraquinho, pouca caça", alegou Paulo Jorge.

Sem lograr, desta vez, um único tiro certeiro, o "Grazina", como é mais conhecido, acabou por ajudar o primo na caçada, garantindo-lhe o último dos três patos, já Nuno fazia o caminho apeado de regresso ao carro: "Gritei-lhe e foi só um tiro, [o pato] caiu logo", observou.

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