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Há hoje uma "pobreza envergonhada que não estava habituada a pedir ajuda"

A declaração é da presidente do Banco Alimentar contra a Fome, que esta segunda-feira, foi recebida no Palácio de Belém pelo Presidente da República. Antes, Marcelo reuniu-se com o presidente da Caritas Portuguesa, Eugénio Fonseca.

Há hoje uma "pobreza envergonhada que não estava habituada a pedir ajuda"
Notícias ao Minuto

17:46 - 11/05/20 por Natacha Nunes Costa com Lusa

País Covid-19

Os representantes da Federação dos Bancos Alimentares e da Caritas Portuguesa foram recebidos, esta segunda-feira, em audiência pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém.

À saída do encontro com o Presidente da República, a presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet, começou por dizer que aquilo que vê, neste momento em Portugal, com a presença da pandemia da Covid-19 no país, “é muito preocupante”, não só nas pessoas que já viviam numa situação de carência, mas também naquelas famílias "que tinham uma vida totalmente equilibrada a nível de rendimentos”.

São pessoas que não estavam habituadas nem nunca imaginaram ficar nesta situação e que hoje, além de lidarem mal com ela, não veem o fim à vista (...). Há um transversalidade nesta pandemia que atinge profissões muito distintas, pessoas para quem recorrer ao apoio de uma instituição social é algo estranho e, portanto, há aqui uma pobreza envergonhada que nasceu hoje e que não estava habituada a pedir ajuda", começou por dizer, revelando que, desde o dia 25 de março, a rede de emergência, criada em parceria com as autarquias e instituições no terreno, o Banco  Alimentar já recebeu 14.962 pedidos de ajuda, o que corresponde a cerca de 59 mil pessoas e "que acrescem às que já pediam ajuda".

Notícias ao MinutoIsabel Jonet da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome© Palácio de Belém“É incrível ver todos os dias mais mil pedidos novos, é muito constrangedor para nós. Um pedido não é uma família, podem vir 30 pessoas ou 150 pessoas, encaminhadas por uma instituição que envia várias pessoas carenciadas”, explicou.

As zonas mais afetadas são a Grande Lisboa e o Grande Porto, com Isabel Jonet a destacar também zonas como Setúbal, Braga ou todo o Algarve, “devido ao impacto na indústria do turismo”.

Já sobre a reação do chefe de Estado a este cenário preocupante, a responsável do Banco Alimentar revelou que "o Presidente da República mostrou sensibilidade social", tal como, lembrou Isabel Jonet, já costuma fazer: "[Marcelo Rebelo de Sousa] é muito próximo das pessoas que têm necessidades e está atento a como é que se pode ajudar nesta situação".

Antes foi ouvido Eugénio Fonseca, da Caritas, disse que nesta crise nota uma mudança no tipo de pedidos de ajuda que chegam aos centros diocesanos: se na crise de 2012 as pessoas pediam ajuda para procurar e encontrar emprego, agora a necessidade é mais funda e básica e pedem sobretudo alimentação.

Daí que defenda que deve existir um plano articulado de medidas de combate à pobreza, que envolva instituições e organismos oficiais, desde o Governo a autarquias, e que se promovam medidas que vão mais longe das tomadas até agora, propondo a revisão do Rendimento Social de Inserção (RSI), "em metodologia e em valor.

"Se as pessoas tiverem autonomia financeira já não precisam de recorrer a instituições como a Caritas", disse, criticando a burocracia que dificulta o acesso a este apoio social, sendo necessário fazer prova de três meses sem rendimentos e depois esperar 45 dias - prazo atual - para receber a primeira prestação.

Quanto a números, na Caritas há 48 mil novas pessoas a precisar de ajuda e Eugénio Fonseca reiterou que as linhas de financiamento de valor global de 130 mil euros criadas pela instituição não vão cumprir o objetivo de chegar até junho, "porque a procura é muita" e os números não revelam toda a realidade, até pela multiplicidade de instituições que estão a prestar apoio.

Notícias ao MinutoEugénio da Fonseca da Cáritas Portuguesa© Palácio de Belém"Ninguém sabe dizer quanto tempo vai durar, o que ouvimos dizer é que vai durar muito tempo e há que equacionar recursos para darmos o mínimo de dignidade às pessoas", disse Eugénio Fonseca, que estima que a situação de desemprego se agrave no próximo outono e inverno e se revelou preocupado nos efeitos que a crise possa ter em termos de endividamento e sobre-endividamento das famílias, criando problemas que se podem "tornar insolúveis" para instituições e para o Estado.

Ao início da noite, numa curta nota publicada no site da Presidência da República, lê-se que "estes responsáveis, durante a análise que efetuaram ao Chefe de Estado, transmitiram as preocupações pela situação de carência das famílias portuguesas, sentidas no terreno pelas equipas que lideram".

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