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Guerra colonial. Horas "difíceis e cheias de ansiedade" no verão de 1961

Horas "difíceis e cheias de ansiedade", assim descrevia o comandante naval de Angola em junho de 1961 a situação vivida pelas forças da Marinha de Guerra num relatório secreto dirigido ao chefe do Estado-Maior da Armada.

Guerra colonial. Horas "difíceis e cheias de ansiedade" no verão de 1961
Notícias ao Minuto

09:14 - 08/03/20 por Lusa

País Guerra colonial

"Deslocada para Catete a última companhia branca, ficámos quase sós para enfrentar a situação que as informações desanimadoras e terroristas davam como muito grave", escrevia o comandante José Mexia Salema no documento, agora desclassificado, em que informava a hierarquia militar sobre a mobilização dos recursos disponíveis, face aos avanços da guerrilha angolana.

Desde o início do ano que a violência tinha eclodido em Angola, com ataques como o de 04 de fevereiro em Luanda, com o assalto a vários edifícios oficiais (cadeia, postos de polícia e emissora nacional).

Os navios estavam então a ser usados essencialmente nas designadas "ações de presença", como "elementos de proteção às populações amigas" e de dissuasão dos "agentes da desordem", em apoio às forças terrestres e na vigilância da costa.

"As tropas que chegaram no Niassa libertaram-nos um pouco da tarefa de fornecer pessoal, mas ainda agora se mantém um pelotão no Ambrizete", informava o comodoro, referindo-se ao envio de forças da metrópole num dos paquetes usados para transporte de militares.

Em Luanda, "durante as semanas mais críticas" manteve-se sempre uma fragata com um pelotão de prevenção para "defender a parte central da cidade" de qualquer ataque, "como esteve previsto várias vezes", numa altura em que na capital "praticamente só havia a polícia, e pouca, e soldados indígenas".

Por entre os relatos de mobilização de meios para os vários pontos estratégicos, o oficial assumia: "Vai-se cumprindo assim a mensagem que, pela Páscoa, enviei às guarnições dos navios que outra coisa não lhes poderia oferecer do que trabalho e riscos".

Paralelamente às ações de defesa, decorriam exercícios de treino militar, nomeadamente de bombardeamento de objetivos em terra, iniciados na Baía dos Elefantes pela fragata "Nuno Tristão" e prosseguidos pela "Diogo Gomes".

Após comunicar a abertura de uma carreira de tiro na Estação Radionaval, o comandante especificava a necessidade de alguma pedagogia em torno dos meios bélicos utilizados no terreno, designadamente de pistolas-metralhadoras.

"Criou-se um verdadeiro mito à volta desta arma, atribuindo-lhe méritos que não possui. Todos a querem: o faroleiro, o cabo de mar, a sentinela isolada e distante do seu grupo, etc", lê-se no documento, consultado pela Lusa no Arquivo Histórico da Marinha, no âmbito de um processo de desclassificação de material secreto e confidencial que a instituição tem vindo a desenvolver.

A narrativa prosseguia, dando conta de que fora necessário "divulgar a noção" de que uma pistola metralhadora é, fundamentalmente, uma pistola automática e não uma metralhadora ligeira. "Para distâncias superiores a 30/40 metros o seu uso só dá o resultado de alertar o inimigo e consumir inutilmente munições".

Pouco antes, morrera um grumete telegrafista, da guarnição da "Diogo Gomes", vítima de um acidente com uma metralhadora.

A guerra culminaria com a assinatura do Acordo de Alvor (1975), em Portugal, entre o Governo português e os principais movimentos de libertação de Angola.

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