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Marcus Quiroga lança livro de poesia fora do que está em voga no Brasil

O escritor lusodescendente Marcus Vinicius Quiroga, que venceu este mês o Prémio Literário Ferreira de Castro, lançará em setembro em Portugal um livro de poesia que reconheceu não se enquadrar nos padrões em voga no Brasil.

Marcus Quiroga lança livro de poesia fora do que está em voga no Brasil
Notícias ao Minuto

11:00 - 01/03/20 por Lusa

País Poesia

O professoro de Literatura e Escrita Criativa do Rio de Janeiro, cujos avós eram oriundos dos distritos portugueses de Viana do Castelo e Vila Real, tem já 26 livros publicados no seu país e irá estrear-se em Portugal com "Não viajarei por nenhuma Espanha", após vencer o prémio instituído pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, em parceria com o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

"O novo livro vai ter muitos poemas metrificados e rimas, e apresenta um tipo de poesia que eu não sei se ainda se usa cá em Portugal. Sei é que, no Brasil, eu não estaria na moda", diz Marcus Vinicius Quiroga, em entrevista à Lusa.

Aposentado após vários anos de docência universitária nas áreas da Literatura e Cultura Portuguesas e coordenando atualmente oficinas de escrita criativa, o autor lusodescendente diz-se um leitor assíduo da escrita criada em Portugal, mas assume mais facilidades no acesso à prosa do que à poesia.

"A literatura portuguesa faz parte do nosso repertório educativo e o primeiro livro que eu adquiri foi a obra completa de Fernando Pessoa. Mas hoje, curiosamente, leio mais prosa contemporânea portuguesa, como a de José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares e Valter Hugo Mãe", refere.

Marcus Vinicius Quiroga segue também ensaístas como Carlos Reis, o especialista em estudos queirosianos que presidiu ao júri de seleção do Prémio Literário Ferreira de Castro, e, nesse contexto, confessa: "Eu era leitor do Carlos Reis, aprendi Literatura Portuguesa com ele e conhecê-lo agora na entrega do prémio - ver que o autor existe mesmo - foi outra felicidade".

O escritor brasileiro admite, contudo, desconhecimento total quanto à poesia portuguesa contemporânea. "Não há poetas portugueses no Brasil. Acredito que haja quem esteja escrevendo poemas, mas a realidade é que esses livros não são editados no Brasil, não chegam às nossas livrarias", afirma.

O livro "Não viajarei por nenhuma Espanha" reúne uma série de textos explorando a temática da cultura ibérica e distinguiu-se entre os cerca de 70 candidatos ao Prémio Literário Ferreira de Castro, pelo que o júri definiu como a particular sensibilidade expressa na "unidade temática e estilística" dessa abordagem.

Marcus Vinicius Quiroga vai dedicar essa obra aos seus avós portugueses, a título póstumo, e defende que, ao debruçar-se sobre a cultura ibérica, "o livro fala por extensão do Brasil, tendo, por isso, um significado especial enquanto testemunho do caminho partilhado por várias gerações" da sua família.

"Um brasileiro não vem a Portugal - ele retorna a Portugal. É difícil saber onde realmente termina um país e começa o outro, e, sobretudo no caso dos descendentes de emigrantes, eles não sabem bem o que fazer com todas essas referências", defende.

Um dos trabalhos de Marcus Vinicius Quiroga recentemente premiado no Brasil foi o poema "Inventário". Entre várias estrofes sobre memórias de infância do autor, o lusodescendente revela: "Penso no pai sempre com uma pasta / de desatenções na mão. / Esqueceu os afetos trancados / em alguma gaveta do escritório. / Tinha pressa de chegar a algum lugar, / embora ele não soubesse nomeá-lo. / Será que sou sua continuidade / ou o seu contrário?".

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