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Raul José pensou que "não iriam sobreviver" ao ataque a Alcochete

O ex-treinador adjunto do Sporting disse, esta quarta-feira, em tribunal que viveu "quatro a cinco minutos de terror" no ataque à academia de Alcochete, durante os quais pensou que "não iriam sobreviver", e relatou agressões a vários futebolistas. Raul José disse também que foi "sugestão" de Bruno de Carvalho alterar hora do treino.

Raul José pensou que "não iriam sobreviver" ao ataque a Alcochete
Notícias ao Minuto

12:02 - 04/12/19 por Lusa

País Alcochete

"Vi a chegada de um primeiro grupo de indivíduos, entre 10 a 15. Lançaram tochas, havia fumo, agrediram três, quatro jogadores. Gerou-se um clima de pânico total e de terror, em que tivemos dificuldade em perceber o que aconteceu naqueles quatro a cinco minutos de terror", descreveu o ex-treinador adjunto da equipa liderada por Jorge Jesus, que estava no corredor de acesso ao balneário, em frente à porta que dá para o vestiário, no qual estava "90% do plantel".

Raul José, que está a ser ouvido nona sessão do julgamento da invasão à academia 'leonina', em 15 de maio de 2018, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, explicou ao coletivo de juízes ter visto agressões aos jogadores William Carvalho, Acuña e Battaglia, os dois últimos "alvos definidos" pelos elementos que entraram no vestiário, que lhes deram socos, estaladas e empurrões.

Segundo Raul José, Acuña ainda "ripostou, tentou defender-se", mas eram "vários indivíduos" de volta dele.

A testemunha assumiu ser um "cenário difícil de descrever", pois "foram minutos de distúrbio, com muito ruído", em que "um grupo de pessoas, encapuzadas, entra no vestiário e começa a distribuir fruta por uns quantos, com paus, cintos, tochas", acrescentando que se "tornou um clima de pânico" e que pensou "não iriam sobreviver ali".

Raul José disse ter visto um dos elementos à "vergastada com um cinto" e que ele próprio também foi empurrado e levou com um cinto no ombro quando tentava ajudar Bas Dost, quando o jogador holandês estava deitado no corredor a deitar sangue da cabeça.

A testemunha referiu que viu ainda os jogadores Freddy Montero e Rui Patrício a serem agarrados e empurrados, sublinhando que chegaram a estar "cerca de trinta indivíduos" no interior do vestiário.

"Ninguém teve reação. Estamos numa situação em que entra uma série de pessoas sem rosto, o pânico é geral. É difícil descrever aqui o terror que vivi. Não sabíamos se tinham armas. Pareceu-me que vinham mais para o susto e aquilo fugiu-lhes do controlo, mas é só uma suposição minha, pois não vinham para conversar", afirmou Raul José.

Em relação a Jorge Jesus, a testemunha assumiu que não assistiu às agressões ao então treinador principal, que estava no exterior da zona do balneário, mas viu "marcas de agressão", acrescentando que Jorge Jesus "levou uns murros" e estava "ensanguentado".

O antigo treinador adjunto de Jorge Jesus classificou este episódio de "surreal", assegurando que "vai ficar marcado" na sua vida, apesar de o querer esquecer depois de sair hoje do Tribunal de Monsanto.

Raul José explicou ainda ao coletivo de juízes que a equipa técnica reuniu na tarde de 14 de maio de 2018 com Bruno de Carvalho, Rui Caeiro e Carlos Vieira, à data, administradores da SAD.

Na reunião, que começou pelas 15h00 e terminou cerca das 17h00, no auditório do Estádio José Alvalade, Raul José afirmou que Bruno de Carvalho comunicou aos quatro elementos da equipa técnica que "era o fim da linha" e que "não contava mais" com eles, tendo saído "com a noção de que já não eram os treinadores" do Sporting.

O antigo adjunto de Jorge Jesus entendeu que tinham sido "despedidos informalmente", pois mão havia nenhum documento oficial ou nota de culpa.

Raul José contou que foi nessa reunião que Bruno de Carvalho "sugeriu" que fosse alterada a hora do treino do dia seguinte, para que o departamento jurídico do clube tivesse tempo de elaborar e notificar os quatro elementos da nota de culpa, o que foi aceite pela equipa técnica composta por Jorge Jesus, Raul José, Miguel Quaresma e Márcio Sampaio.

O treino de 15 de maio de 2018, dia da invasão a Alcochete, estava inicialmente agendado para a manhã, mas, depois da sugestão de Bruno de Carvalho, Jorge Jesus, após a reunião, passou o treino para as 16h00 desse dia, com conhecimento da restante equipa técnica. A hora do treino foi depois transmitida ao plantel por Vasco Fernandos, secretário técnico, segundo explicou Raul José.

A testemunha relatou que, a pedido de Jorge Jesus, em 15 de maio, entre as 12h30 e as 13h00, foi o primeiro a chegar à academia de Alcochete, para ver se a equipa técnica poderia entrar para dar o treino, pois, até àquele momento, não tinha recebido nenhuma nota de culpa do departamento jurídico do Sporting.

"[O treino] Passou para a tarde [de 15 de maio] para que o departamento jurídico tivesse tempo de formalizar o nosso despedimento. Com justa causa, sem justa causa, chegar a acordo. Tínhamos mais um ano de contrato. Foi Bruno de Carvalho que sugeriu mudar o treino para a tarde, para que o departamento jurídico tivesse tempo. Jorge Jesus aceitou. Fui o primeiro [a chegar à academia] para ver se éramos barrados. De manhã ninguém nos disse nada, por isso comparecemos", explicou Raul José.

Como conseguiu entrar na academia, telefonou ao então treinador principal do Sporting, comunicando-lhe que "podia vir" para Alcochete, pois "não havia nada" que os impedissem de entrar.

Depois de Raul José terminar o depoimento, começou a ser ouvido Miguel Quaresma, que relatou ameaças e agressões, durante a invasão.

Miguel Quaresma contou que, na reunião, Bruno de Carvalho lhes disse que "o melhor" era a equipa técnica "ir à academia" dar o treino de 15 de maio, pois ainda não havia nota de culpa, devido ao facto de o departamento jurídico do clube não ter tido tempo suficiente para a redigir.

Em 15 de maio do ano passado, durante o primeiro treino da equipa de futebol do Sporting, após uma derrota na Madeira com o Marítimo, por 2-1, cerca de 40 adeptos 'leoninos' encapuzados invadiram a academia do clube, em Alcochete, e agrediram vários jogadores, bem como o então treinador, Jorge Jesus, e outros membros da equipa técnica.

O atual líder da claque Juventude Leonina, Nuno Mendes 'Mustafá', o antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do clube, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e 'Mustafá' também por um crime de tráfico de estupefacientes.

Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à academia, o Ministério Público imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Estes 41 arguidos vão responder ainda por dois crimes de dano com violência, por um crime de detenção de arma proibida agravado e por um crime de introdução em lugar vedado ao público.

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