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Agricultores da Vigia no Alentejo com "ano mais grave" de seca de sempre

Os efeitos da seca na barragem da Vigia, no Alentejo, "saltam" à vista. A albufeira está com 10% do seu nível de armazenamento e os agricultores queixam-se de prejuízos e do "ano mais grave" de sempre.

Agricultores da Vigia no Alentejo com "ano mais grave" de seca de sempre
Notícias ao Minuto

18:59 - 09/10/19 por Lusa

País Reportagem

Esta é, "seguramente, uma das barragens mais problemáticas neste momento", afiançou hoje à agência Lusa Luís Bulhão Martins, presidente da Associação de Beneficiários da Obra da Vigia, no concelho de Redondo, distrito de Évora.

"Nós estamos mal", desabafou o responsável, sem grandes dúvidas quando questionado pela Lusa sobre a comparação deste ano com os anteriores: "Talvez 2019" seja "o ano mais grave do perímetro de rega da Vigia desde sempre".

Este perímetro "tem quase 40 anos" e, segundo Luís Bulhão Martins, este deve ser o ano em que os regantes começaram a campanha "com o nível de água mais baixo" e aquele em que chegam ao fim da época "com o nível da água também mais baixo".

Segundo o responsável, um dos 100 agricultores que fazem regadio neste perímetro de rega, a albufeira encontra-se, atualmente, "a 10% da sua capacidade".

A barragem "leva 17 milhões de metros cúbicos" de água e "está com 1,7 milhões", sendo que, destes 10%, "cerca de 4% são úteis e os outros 6% são o chamado volume morto" do qual "é impossível extrair água", explicou.

Luís Bulhão Martins disse à Lusa que, com estes 4% de água, o que corresponde a "400 ou 500 mil metros cúbicos", a associação de regantes está no ponto que preconizou para esta altura do ano, aquando da programação da campanha de rega das culturas de primavera/verão.

"No fundo, é uma pequenina folga de segurança depois de um verão extremamente seco e longo", afirmou.

Num perímetro de rega em que predominam o olival, a vinha, culturas arvenses e hortícolas, nomeadamente o tomate, milho, cereais, alho, cebola ou ervilha, a campanha de primavera/verão já foi realizada com restrições.

Este ano, "75% do uso da água habitual não foi permitido, ficámo-nos por 25%", disse, explicando que os agricultores optaram por culturas mais economizadoras de água, mas com menos produção e rentabilidade, ou deixaram áreas por cultivar, o que originou "perdas consideráveis" no seu rendimento.

No global, o prejuízo, "seguramente, supera um milhão de euros".

Ali perto, num dos "braços" da albufeira que se encontra seco, deixando a descoberto uma ponte antiga, é possível ver, na água mais rasa, pequenos cardumes de carpas à superfície, aqui e ali, em que os peixes aparentam estar em dificuldades, com falta de oxigénio. Mas não se avistam peixes mortos.

O guardador de gado Manuel Joaquim Rosa, de 63 anos, que a Lusa encontrou na zona, quando encaminhava algumas vacas para junto do resto da manada, já se habituou, nos últimos anos, ao reduzido nível de água da Vigia.

"De há uns anos para cá, ela baixou assim bem e para ela encher agora vai ser muito difícil. Como não chove não toma água", disse.

Chuva como havia antigamente "já não chove nunca mais", sentencia o vaqueiro, que refere que, "há poucochinhos dias" caiu "uma pinga de água, mas mal molhou quase as pedras" e "não chegou nem para matar a sede ao passarinho".

"Há uns 15 dias", a albufeira "estava mais baixa do que agora", pois, até "está a subir um pouco" porque os regantes "fecharam as bocas de rega", senão, "daqui a pouco ninguém bebia" ficava tudo com sede", disse, lembrando que a albufeira, além de fins agrícolas, serve para abastecimento público ao concelho de Redondo.

O presidente da associação de regantes da Vigia, barragem que é "alimentada" pelo Alqueva, rejeitou qualquer risco em relação ao abastecimento público, garantindo que a água não vai faltar nas torneiras dos habitantes.

"Não há risco nenhum. Está garantido o abastecimento de água ao nível das necessidades normais sem qualquer restrição do concelho de Redondo e disponibilidade de água de qualidade", captada a partir da conduta de ligação ao Alqueva, vincou.

Agora, com a campanha de rega terminada e com o calendário a marcar o mês de outubro, os agricultores deviam estar a preparar a campanha de outono/inverno, habitualmente servida pela chuva, mas o cenário da Vigia, com a água a bater nas margens bem abaixo do normal, as perspetivas dos agricultores não são as melhores.

"O grande problema é que o verão continua. Terminámos a campanha de rega a 20 de setembro" e, desde então, "temos um clima de agosto novamente, com temperaturas máximas acima dos 30 graus. Se não chove rapidamente e a barragem não aumenta o seu armazenamento, vai ser muito difícil", afirmou.

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