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Implicação da PJM e GNR conhecida pouco tempo após achamento das armas

Um ofício da PJ no inquérito de Tancos indica que, em 07 de novembro de 2017, a Procuradoria-Geral da República soube da denúncia anónima implicando elementos da PJ Militar e da GNR de Loulé no "achamento" das armas furtadas.

Implicação da PJM e GNR conhecida pouco tempo após achamento das armas
Notícias ao Minuto

15:24 - 03/10/19 por Lusa

País Tancos

Um ofício de um inspetor da Polícia Judiciária (PJ) nos autos do processo refere que, em reunião naquela data, menos de um mês após o achamento das armas, em 18 de outubro, foi dado conhecimento à Procuradoria-Geral da República de uma denúncia anónima visando diversos responsáveis da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR de Loulé relativamente à situação/implicação no "achamento" do material de guerra furtado nos paióis de Tancos.

Na reunião estiveram presentes Amadeu Guerra, na altura diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP, os procuradores Vitor Magalhães e João Melo e o então diretor da Unidade Nacional de Contra Terrorismo (UNCT) da PJ, Luís Neves.

O ofício, que está junto ao processo consultado pela agência Lusa, revela ainda que foi através de Bruno Ataíde, elemento da GNR de Loulé, que surgiu a informação que permitiu aos elementos da PJM e GNR de Loulé o contacto posterior e um acordo com os autores do furto.

De acordo com o inspetor que assinou o ofício, enviado a Luís Neves, não obstante a denúncia não identificar o informador, resulta do conhecimento informal da PJ que Bruno Ataíde (da GNR de Loulé) é amigo de infância de João Paulino, apontado já como "principal suspeito do furto".

O ofício indica que Bruno Ataíde e João Paulino mantiveram contactos nos meses de agosto e setembro de 2017 na zona de Albufeira, Algarve, dizendo o inspetor não ter qualquer dúvida que foi João Paulino, com o auxílio de Bruno Ataíde, a entregar parte do material furtado aos investigadores da PJM e GNR de Loulé, combinado e chegando a acordo com estes sobre a sua não indiciação no furto ocorrido nos paióis de Tancos.

O inspetor alega também que a denúncia identifica de forma cabal os intervenientes nos factos em análise, evidenciando que houve uma "cabala" perpetrada em conluio com elementos da PJM e da GNR de Loulé, com o intuito de condicionar a investigação da PJ, por existirem suspeitas do envolvimento de militares.

A denúncia, indica o ofício, descreve de forma concreta a existência de um acordo efetuado pela PJM com os autores do furto do material de guerra, com vista à devolução das armas, com a colaboração da GNR de Loulé.

O inspetor da PJ salienta que os factos denunciados são "extremamente graves e lesivos" da confiança e honorabilidade que a PJM e a GNR representam na sociedade portuguesa, acrescentando que a atuação descrita é ainda mais grave na medida em que as suspeitas recaem sobre responsáveis de instituições que têm um dever acrescido sobre a Justiça.

O inspetor alertou assim para a eventual prática dos visados dos crimes de favorecimento pessoal, denegação de justiça e prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influências, corrupção e associação criminosa.

Para aquele inspetor, os factos investigados permitiram também confirmar as relações de amizade entre Bruno Ataíde (GNR de Loulé) e João Paulino (autor do furto e informador da GNR de Loulé), assim como de Caetano Lima Santos (Comandante do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé) e Mário Carvalho (investigador da PJM do Porto).

Desta forma, e para recolha de prova útil ao inquérito, o inspetor solicitou a Luís Neves que promovesse as autorizações para colocação de escutas no equipamento telefónico de João Paulino, bem como na viatura utilizada por este, pedido que mereceu a concordância do então diretor da Unidade de Contra Terrorismo da PJ.

Após a investigação do caso de Tancos, o Ministério Público acusou 23 pessoas, entre as quais o ex-ministro da Defesa José Azeredo Lopes.

Os arguidos são acusados de terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.

O caso abalou as forças armadas, levou à demissão de Azeredo Lopes em 2018 e a polémica em torno do furto, tornado público pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, subiu de tom depois da, aparente, recuperação do material na região da Chamusca, no distrito de Santarém, a 18 de outubro de 2017, numa operação da PJM.

Nove dos 23 arguidos são acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis nacionais e os restantes 14, entre eles o ex-ministro, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.

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