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Maior desafio é cativar profissionais não só com dinheiro, diz Ana Jorge

A antiga ministra da Saúde Ana Jorge, desde sempre dedicada ao SNS, acredita que, ao fim de 40 anos deste "marco histórico", um dos principais desafios é conseguir cativar os profissionais, e não apenas com argumentos financeiros.

Maior desafio é cativar profissionais não só com dinheiro, diz Ana Jorge
Notícias ao Minuto

06:05 - 14/09/19 por Lusa

País SNS

"Portugal precisa de um Serviço Nacional de Saúde forte, que preste cuidados de qualidade, como tem feito até agora e que pode continuar a fazer, que diferencie os seus profissionais, os retenha e lhes dê condições de trabalho que muitas vezes não são exclusivamente financeiras", defendeu Ana Jorge, em entrevista à agência Lusa a propósito dos 40 anos do SNS, celebrados a 15 de setembro.

Além dos incentivos financeiros, é necessário dar-lhes condições de trabalho, de tecnologia e respeitá-los mais, permitindo o seu envolvimento na organização dos cuidados de saúde, defendeu.

Ana Jorge lembrou ainda que os profissionais podem fazer formação noutros serviços e até fora do país. Alguns fazem essa formação através de bolsas, outros através do próprio investimento pessoal, mas "o serviço permite que saiam, também investe. Pode não pagar o estágio, mas permite que ele [o profissional] vá e não lhes reduz as condições, nem impede". 

"Que isso seja o rejuvenescer do SNS na sua continuação de grande diferenciação, na sua capacidade de intervenção e que permita que quem quer trabalho continue a gostar de trabalhar no serviço público", sublinhou.

Aludindo à situação atual do SNS, a médica disse que "o nível de desenvolvimento de diferenciação de acesso a cuidados é bom", mas existem "algumas dificuldades" relacionadas com a capacidade do Serviço Nacional de Saúde de reter os seus profissionais.

O SNS, além de ter criado condições de prestação de cuidados, formou os seus profissionais, que hoje são "muito requisitados internamente e externamente", devido à sua diferenciação e "grande qualidade".

Por isso, "também saem muito" e "obviamente que a área privada não é alheia a isto", disse Ana Jorge, que chegou a aprovar em 2011, enquanto ministra, um diploma que pretendia obrigar os médicos a manterem-se nas unidades de saúde públicas após o internato, o que acabou por não avançar.

"A fuga" de muitos profissionais deve-se ao "grande desenvolvimento do setor privado da saúde em Portugal, fundamentalmente das grandes empresas de saúde", mas também aos "anos da crise", que vieram agravar esta situação devido à redução dos vencimentos e de algumas condições de trabalho no setor público, disse Ana Jorge, ministra dos governos de José Sócrates.

Contudo, salientou, se não existisse "um serviço público desta qualidade e desta diferenciação" não havia profissionais tão diferenciados.

"Muitas vezes aquilo que é transmitido à população é que o serviço público está mal e muitas vezes convém a algum setor privado que isso passe", disse Ana Jorge, defendendo, contudo, ser importante que haja uma "boa relação" entre os dois setores, que seja complementar.

"O concorrencial é complexo, como tem acontecido, e é muitas vezes desmotivador", afirmou, apontando que "houve algumas intervenções no setor público" na área dos recursos humanos que resolveram alguns problemas no imediato, mas que deixaram "marcas ao fim de alguns anos", nomeadamente "a contratação de pessoal através de 'outsourcing' e de empresas dos próprios grupos".

Segundo Ana Jorge, esta situação levou a "alguma desmotivação" dos profissionais porque "o que era pago através do 'outsourcing' era maior do que o que recebiam na sua contratação enquanto funcionário público".

Para a ex-ministra, as condições dos profissionais precisam de ser repensadas, mas ressalvou que "um serviço público nunca pode ter vencimentos iguais ao setor privado", que é "lucrativo".

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