Obra da artista Irma Blank pretende "atingir um sentido universal"

Mais de 60 anos da carreira artística de Irma Blank, desde os desenhos iniciais com a escrita, à exploração da cor, pretendem "atingir um sentido universal", segundo as curadoras da exposição que é inaugurada na sexta-feira, em Lisboa.

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Lusa
27/06/2019 14:09 ‧ 27/06/2019 por Lusa

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Culturgest

Este objetivo da artista alemã, atualmente com 85 anos, a residir em Milão, Itália, atravessa toda a sua obra, cuja retrospetiva pode ser vista na Culturgest até 8 de setembro, e seguirá depois em digressão para mais sete instituições culturais.

"É a concretização de um sonho", comentou Delfim Sardo, programador da área das artes plásticas da Culturgest, durante uma visita guiada para os jornalistas da exposição "Blank", sublinhando a importância da exposição que dá a ver desde as obras iniciais até às mais recentes, de 2017.

Pintora e escritora, grande apaixonada pela literatura, Irma Blank - que estará em Lisboa para a inauguração da mostra - começou a fazer experiências criativas com a escrita na sequência da mudança do seu país natal, a Alemanha, para o país do seu marido, Itália, em 1955.

"Deste conflito interior nasceu a necessidade de comunicar sem palavras com as pessoas em seu redor", contextualizaram as curadoras Johana Carrier e Joana P.R. Neves, na visita.

É a primeira série de trabalhos, "Eigenschriften" ("auto escritos" ou "escritos por si própria"), do final da década de 1960, que abre a exposição desta artista que começou por trabalhar na área da poesia visual.

Nessa primeira sala, no espaço expositivo da Culturgest, os visitantes vão deparar-se com outro elemento importante para a criadora: o som do seu processo de trabalho, que Irma gravou e estará presente noutras salas da mostra.

Na obra de Irma Blank, "há todo um ciclo sensorial que passa pelo desenho em forma de escrita, o som, os livros que criou porque tinha necessidade de ter o objeto em papel para tocar".

A autora criou dezenas de livros à mão, em vários formatos, que reúnem o seu trabalho meticuloso inspirado na escrita, e em obras de alguns escritores, como Simone Weil.

Outro aspeto importante na obra da artista, segundo as curadoras, "é a parte espiritual, meditativa do processo de trabalho, em que tenta libertar-se de tudo, sobretudo do significado da escrita, para representar o mundo".

No entanto, nos anos 1990, Irma Blank - nascida em Calle, na Alemanha, em 1934 - inventou um alfabeto que é apresentado em algumas telas nesta exposição, e também introduziu a cor, em obras de grande formato.

Ao longo das décadas, Irma, que descobriu, por ter mudado de país e de cultura, que "não existe a palavra certa", usou o seu próprio corpo, gestos, presença e respiração, como ferramentas criativas.

Depois de várias fases de vida e de expressões artísticas, em 2016, na sequência de um problema de saúde que lhe paralisou o lado direito do corpo, aprendeu a desenhar com a mão esquerda, o que conduziu a uma nova série na qual continua a trabalhar, intitulada 'Gehen, Second Life' ('Seguir em frente, segunda vida", em tradução livre), iniciada em 2017.

O título da exposição, 'Blank', é um jogo de palavras com o apelido da artista, pegando na palavra "blank" que reflete, quer em alemão, sua língua-mãe, quer em inglês, a sua dedicação a um processo minimalista de escrever sem palavras.

'Eigenschriften' (1968--1973), 'Trascrizioni' (1973--1979), 'Gehen, Second life', 'Radical Writings' (1983--1996), 'Avant-testo' (1998-2006), e 'Global Writings' (2000-2016) são algumas das séries que poderão ser vistas em sete salas da mostra.

A retrospetiva - que tem como instituição produtora original a Culturgest - irá iniciar, depois de setembro, uma itinerância até 2021, em seis museus, assumindo diferentes configurações em cada nova apresentação.

'Blank' passará pelo Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Genebra, na Suíça (de outubro 2019 até fevereiro de 2020), seguindo-se o Museu de Arte Contemporânea de Bordéus, em França (primavera de 2020), o Centro de Arte Contemporânea de Telavive, em Israel (verão de 2020), o Instituto de Arte Contemporânea de Milão, em Itália (primavera de 2021), o Museo Villa dei Cedri, em Bellinzona, na Suíça (verão de 2021), e o Bombas Gens Centre d'Art, em Valência, Espanha (outono de 2021).

O catálogo da exposição - que tem a chancela Walther König - é da autoria das curadoras, de Douglas Fogle e Miriam Schoofs, e inclui uma entrevista do curador, crítico e historiador de arte Hans Ulrich Obrist à artista.

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