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Antes "da idade da vergonha" alunos aprendem a pedalar em Alvalade

Os alunos do pré-escolar da freguesia de Alvalade (Lisboa) tiveram este ano letivo pela primeira vez ciclismo nos seus planos curriculares, um projeto pioneiro que quer pôr as crianças a pedalar antes da "idade da vergonha" e "sem rodinhas".

Antes "da idade da vergonha" alunos aprendem a pedalar em Alvalade
Notícias ao Minuto

06:12 - 21/06/19 por Lusa

País Educação

"Chegávamos a escolas e turmas do primeiro, segundo, terceiro e quarto ano, e havia cerca de 90% das crianças que não sabia andar de bicicleta, o que é uma enormidade. Estamos a falar, em muitos casos, de crianças de 09 anos, que daí a um, dois anos, três anos, estão na idade da vergonha e já não vão querer aprender", contou à Lusa Paulo Vaz, presidente dos 'Coelhinhos', Escola Clube de Ciclismo de Lisboa.

Foi a constatação de que havia um "número gritante" de crianças que não sabia andar de bicicleta que levou a Junta de Freguesia de Alvalade a desafiar a associação de pais que tinha criado um projeto de ciclismo na escola São João de Brito, de forma a abranger mais alunos.

Assim nascia "um clube do bairro, que tem uma implementação na freguesia, embora se estenda a outras freguesias", dando às crianças a possibilidade de continuarem a modalidade fora da escola, assinalou à Lusa o vogal da Junta de Alvalade Ricardo Varela, eleito da CDU, que tem o pelouro do Desporto e Educação no executivo liderado pelo PS.

Foi em 2014, antes de o Governo incluir na Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa a obrigatoriedade de aprender a andar de bicicleta no ensino básico (a partir do próximo ano letivo); antes de muitas juntas da capital criarem projetos semelhantes e de a Câmara lançar o programa 'Lisboa sem rodinhas'.

A satisfação pelo pioneirismo do projeto é redobrada: "Ficámos satisfeitos ao saber que, de certa forma, estávamos um passo à frente, porque já tínhamos iniciado este projeto no contexto das escolas, porque estamos mais uma vez um passo à frente porque alargamos ao pré-escolar", disse Ricardo Varela sobre a forma como receberam a notícia de que o Governo queria que os alunos do básico passassem a saber andar de bicicleta.

Na Escola Básica Dom Luís da Cunha, crianças entre os 3 e os 5 anos têm a última das quatro aulas de 40 minutos que lhes permitem ter um primeiro contacto com as bicicletas, aprender regras de segurança e, finalmente, a andar de bicicleta.

Com as bicicletas e os capacetes fornecidos pelos 'Coelhinhos', as crianças mais velhas já serpenteiam o campo de jogos, enquanto as mais pequenas ainda estão muito atentas às indicações do treinador, que recorda o primeiro exercício: aprender a montar a bicicleta com um movimento de avião.

São alunos da educadora de infância Cristina Torcato, entre os 800 a quem o projeto chegou este ano em toda a freguesia.

"No ciclismo há uma particularidade muito importante, que é o facto de muitos não saberem andar e estarem num grupo que está habituado a ver todos os seus fracassos e todos os seus sucessos. Sentem-se mais à vontade, sem pressão", afirmou Cristina Torcato à Lusa.

A educadora vê os seus meninos "superarem-se a si próprios, a serem solidários, a brincarem", e destaca a "igualdade de oportunidades" de todos aprenderem em bicicletas adequadas ao seu tamanho, todas iguais, ao contrário das que possam herdar dos irmãos.

Cristina Torcato recordou que, recentemente, uma menina de 05 anos "soube que ia haver aulas de ciclismo e pediu para tirar as rodinhas de trás, e foi assim que aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas".

As rodinhas, aliás, estão excluídas da aprendizagem e são mesmo desaconselhadas.

"As rodinhas são um contrassenso, primeiro, porque não permitem ganhar equilíbrio, e porque obrigam a que as crianças desenvolvam mais força ainda, numa idade em que não é objetivo do desenvolvimento físico da criança trabalhar a parte muscular nas pernas", explicou Paulo Vaz.

O presidente da Escola Clube de Ciclismo de Lisboa aconselha, assim, a começar pelas chamadas 'balance bikes', sem pedais, e depois a passagem para uma bicicleta que permita ir "puxando o selim para cima, para que a criança não ande sentada".

Como na natação, Paulo Vaz aconselha também os pais e encarregados de educação a "procurar quem sabe, para ajudar".

Paulo Vaz sublinha a vantagem da aprendizagem do ciclismo para a mobilidade nas cidades, mas também como uma medida de "saúde pública", ilustrando que "um adulto que demore meia hora de manhã a chegar ao trabalho e meia hora à tarde fez uma hora de exercício físico" diária.

O dirigente associativo ressalva, contudo, que há um caminho a trilhar, apontando que o seguro escolar exclui as deslocações para a escola em bicicleta, apesar de incluir outros meios de transporte, e que o limite legal de 12 anos para andar em cima do passeio também é uma condicionante.

"Acho estranho que essa idade não seja alargada, até porque pais que não se importavam que os filhos fossem para a escola preferiam que eles andassem nos passeios, quando não há ciclovia", observou.

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