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"O poder não gosta dos pobres"

O professor universitário João César das Neves escreve, esta segunda-feira, sobre ‘a pobreza do discurso’, referindo que apesar de ser “normal” nos dias de hoje falar “muito mais sobre pobreza”, “quase a totalidade dos que elaboram sobre pobreza não são pobres”. Porque, defende César das Neves, “os verdadeiros necessitados não têm voz ou influência” e a “miséria serve” apenas de “pano de fundo para manifestos doutrinais”.

"O poder não gosta dos pobres"
Notícias ao Minuto

13:43 - 04/11/13 por Ana Lemos

País César das Neves

“Hoje fala-se muito mais de pobreza do que antes, o que é normal, dada a crise”, começa por sublinhar o professor universitária João César das Neves, no artigo que hoje assina no Diário de Notícias (DN).

Acontece que, prossegue, “quem fala sobre miséria costuma estar zangado (…) e quase a totalidade dos que elaboram sobre pobreza não são pobres”. Ainda assim, “também isso é normal, pois os verdadeiros necessitados, por o serem, não têm voz ou influência”, por isso, salienta César das Neves, “aqueles que ouvimos falam de algo que de facto não experimentaram, e em geral mal viram”.

“Sem duvidar da integridade e da boa intenção do orador”, o professor considera que “a finalidade imediata da retórica não é aliviar os pobres mas atacar o neoliberalismo, rejeitar a troika, derrubar o Governo, combater a reforma do Estado, o Orçamento ou outro decreto particular”, concluindo, neste sentido, que “a miséria serve de pano de fundo para manifestos doutrinais”.

“O poder não gosta dos pobres”, escreve César das Neves, frisando que por isso “estes confiam mais na ajuda do próximo que nas promessas dos chefes”.

Até porque, “a maioria dos que falam em nome dos desprovidos estão realmente a defender as classes acima, mesmo se nos extractos mais baixos”, “as medidas contestadas não tocam os verdadeiros pobres”, e “as greves dos serviços públicos não se destinam a proteger os desvalidos, que aliás são os que mais sofrem pela falta de transporte e outros sistemas”.

Por isso é que “em Portugal, não há manifestações de mendigos, miseráveis e necessitados. São antes os remediados, que se consideram carentes, que fazem as exigências em nome dos silenciosos”, enquanto “os verdadeiros desgraçados, mudos como sempre, ainda têm de ouvir os muitos aproveitamentos do seu nome”.

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