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Empresas não estão preparadas para lidar com trabalhadores com hemofilia

Algumas entidades laborais não estão preparadas para lidar com trabalhadores que têm hemofilia, conclui um estudo desenvolvido pela Associação Portuguesa de Hemofilia, que diz ter relatos de casos de discriminação.

Empresas não estão preparadas para lidar com trabalhadores com hemofilia
Notícias ao Minuto

06:51 - 10/05/19 por Lusa

País Empresas

"Chegam-nos relatos de pessoas que são discriminadas por terem hemofilia, por vezes por desconhecimento das próprias empresas do que é ter esta patologia e, por isso, veem estas pessoas com uma grande probabilidade de estarem sempre doentes e terem um grande absentismo laboral", contou à agência Lusa Miguel Crato, presidente da Associação Portuguesa de Hemofilia e Outras Coagulopatias Congénitas (APH).

O responsável disse que têm chegado à associação alguns relatos de que há pessoas que não contam na empresa que têm hemofilia por receio de serem discriminados.

"Muitos têm medo de ser desconsiderados em termos laborais e medo de que a entidade patronal entenda que uma pessoa por ter uma doença crónica como esta é menos valiosa para a empresa", acrescentou.

Miguel Crato conta ainda que, nalguns casos, quando a entidade patronal sabe que a pessoa tem hemofilia, "quase que faz crer na pessoa que lhe está a fazer um favor por dar emprego" e, por vezes, "usa isso para ter salários mais baixos".

A hemofilia é uma doença que atinge quase exclusivamente nos indivíduos do sexo masculino e caracteriza-se pela ausência ou acentuada carência de um dos factores da coagulação. Por este motivo, a coagulação é mais demorada ou inexistente, provocando hemorragias frequentes, especialmente a nível articular e muscular.

O trabalho, que será apresentado hoje analisou durante oito meses a vida de doentes com hemofilia e suas famílias, propõe para o futuro a administração ainda menos dolorosa e invasiva e a ausência de restrições na quantidade de tratamento com fator de coagulação.

Os autores do estudo defendem que as famílias com crianças hemofílicas precisam de mais serviços de suporte à organização das rotinas familiares e à autonomia familiar no tratamento e defendem, no caso dos hemofílicos adultos, que "é preciso promover condições à integração social".

Sugerem igualmente "novas formas de portabilidade do tratamento com fator, rotinas e procedimentos" e a personalização dos cuidados.

"A personalização é uma ideia transversal a todos os cuidados da hemofilia de futuro (...). Mais do que novas rotinas é preciso haver novas mentalidades, novas tomadas de posição de cada pessoa de que há a obrigatoriedade do clínico o tratar de forma diferenciada de todos os outros pacientes", defendeu Miguel Crato.

O presidente da APH reconhece que, sobretudo na infância, "há um processo disruptivo na forma como o casal vê a patologia do seu filho" e que "os pais não estão preparados quando recebem a noticia".

"Aí, é preciso redes de suporte fortes, que começam na própria família", recorda, sublinhando que é importante o contacto com a associação para ajudar a preparar a família no futuro.

Miguel Crato considera ainda que estes processos de apoio ajudam a família a 'começar de novo' e alerta: "É preciso que as pessoas procurem ajuda e não cometam o erro de procurar informação sobre a doença só nas redes sociais, que pode levar a um pânico desnecessário".

Sobre o apoio da escola, o responsável chama a atenção para a necessidade de pais e, eventualmente, a associação visitarem o estabelecimento de ensino, para informar professores, auxiliares e colegas do aluno e "evitar que a criança seja vista como quem tem necessidades especiais".

"É preciso saber alguns elementos de socorro em caso de acidente. De resto, o facto de a escola não saber lidar com a situação também ajuda a superproteger e a não deixar a criança ter a sua vida normal, como os restantes alunos", afirmou.

O estudo, que será apresentado na conferência Hemofilia em Portugal, no Pavilhão do Conhecimento (Lisboa), envolveu 90 pessoas e durou cerca de 8 meses, durante os quais investigadores da área da Antropologia, Psicologia e Filosofia recorreram a entrevistas, acompanharam atividades quotidianas dos doentes e entrevistaram médicos especialistas em hospitais de referência e pessoas da rede de suporte destas famílias.

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