"Eles foram construindo a sua própria movimentação, não há nada aqui que tenha sido eu ou o Francisco a dizer mexe-te assim, faz aquele movimento, mas têm uma base que é o 'Gust'. Os movimentos são aqueles que eles têm vindo a fazer, ou seja a descobrir ao longo dos ensaios e que se vão fixando", disse à Lusa a coreógrafa que acompanha o projeto no Porto, Joana Providência.

O P.E.D.R.A. é desenvolvido em simultâneo no Porto, Lisboa e Viseu, "num regime de cocriação entre os participantes e um coreógrafo local", com o acompanhamento de Francisco Camacho, o coreógrafo convidado desta edição.

Os 13 jovens que compõem o grupo de intérpretes do Porto, com idades entre os 16 e os 18 anos, tiveram o primeiro ensaio em dezembro e desde janeiro ensaiam uma vez por semana, inicialmente com Francisco Camacho e depois com Joana Providência, recebendo ainda acompanhamento mensal do coreógrafo.

Em relação à obra na base do projeto, a participante Alice Veloso contou que, para si, "o ponto fulcral de 'Gust' não foi o esbater da linha entre o homem e o bicho, mas sim o decair do homem num bicho", e explicou que a forma como os intérpretes "tinham de representar [as emoções] eram tão excessivas que se tornavam quase patéticas e criavam uma imagem não humana, mas sim quase que animalesca".

Também Francisca Melo disse que ao longo de 'Gust' "a imagem geral era sempre de uma comunidade, onde cada um tinha a sua função" e "apesar de cada intérprete estar a fazer a sua coisa estavam todos em grupo e muitas dessas ações eram como se não nascessem dentro deles mas de fenómenos exteriores ou até da relação um com o outro."

Já Mafalda Garcia realçou que "durante toda a peça o movimento dos intérpretes dava sempre a sensação que estavam a ser puxados por alguma força maior do que eles", enquanto Bernardo Alves acrescentou que "essa força está associada à natureza" pela presença de elementos como a "terra, a chuva, os ruídos do vento e os sons dos animais."

Joana Providência disse que "em termos de sonoridade, qualidade de movimento, qualidade de interpretação, 'Gust' é uma peça muito fresca [...] que uma pessoa olha hoje para ela e ela podia ter acabado de [se] estrear". Alice Veloso completa dizendo que "como é uma peça muito focada no interior há uma quase que universalidade temporal".

Sobre a experiência de participar neste projeto, João Vieira descreve-a como uma "uma oportunidade muito boa" que lhe permitiu encontrar "sentido no movimento", e Miguel Mota explicou que "[em teatro] interpretam uma personagem, no P.E.D.R.A. não existe uma personagem, tudo o que está em palco e todas as coisas que estão implicadas em palco são eles próprios."

Dez dos 13 jovens que compõem o projeto no Porto estudam interpretação na ACE/Escola de Artes, no Porto, onde Joana Providência integra a direção artística.

Os restantes três jovens são alunos de artes interessados em dança, como Alice Veloso, que afirmou ter-se sentido inicialmente "intimidada" por desconhecer o restante grupo que já "tinha uma linguagem coletiva", mas "o desenvolvimento foi muito bom" e "agora sente-se à vontade de improvisar com os outros".

No dia 16 de abril, os exercícios das três cidades vão ser apresentados em conjunto no Teatro Viriato, em Viseu.

Joana Providência lembrou que desconhecem os outros projetos e que "só no ensaio geral é que vão ter oportunidade de se ver uns aos outros".

O espetáculo pode ser visto no Teatro do Campo Alegre, no Porto, sexta-feira, às 19h00, e sábado, às 16h00.