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Ex-diretor da PJM nega "encenação" da recuperação do material de Tancos

O ex-diretor da Judiciária Militar (PJM) Luís Vieira rejeitou hoje que tenha havido uma "encenação" na recuperação do material militar furtado em Tancos, assumindo que deu ordens aos inspetores para avançarem sem antes dar conhecimento à PJ.

Ex-diretor da PJM nega "encenação" da recuperação do material de Tancos
Notícias ao Minuto

22:38 - 10/04/19 por Lusa

País Comissão de inquérito

"Não houve encenação, para mim o que houve foi uma recuperação de material de guerra", declarou o coronel Luís Vieira, perante a comissão de inquérito ao furto do material militar furtado em Tancos.

Luís Vieira assumiu que deu ordens para os investigadores da PJM avançarem com diligências para a recuperação do material furtado num contexto em que percebeu "uma decisão ilegal" do Ministério Público -- a de retirar, em 03 de julho de 2017, a direção do inquérito à PJM.

"Face à possibilidade de extravio ou destruição do material militar e atendendo à pressão mediática, ao alarme social e a declarações de responsáveis políticos a exigir resultados, determinei dois objetivos estratégicos, a recuperação do material e a detenção da autoria do furto", declarou.

Sobre a operação de recuperação do material, o coronel relatou que os ex-investigadores coronel Estalagem e major Vasco Brazão lhe disseram que "os agentes do crime se preparavam para deitar o material de guerra na barragem de Castelo de Bode".

"Dei instruções para que usassem todo o seu saber para descobrir o material de guerra", disse, considerando que era do "interesse público" a recuperação do material perante a "ameaça de [os autores do furto] fazerem desaparecer o material".

Na madrugada do dia 18 de outubro [de 2017] foi com o major Vasco Brazão ao local onde estaria o material, na região da Chamusca, adiantou.

O coronel Luís Vieira explicou que decidiu entregar o material recuperado na unidade do Exército em Santa Margarida, a "unidade mais próxima", por indicações do ex-chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, a quem tinha telefonado para que uma equipa de inativação de explosivos fosse ao local.

Depois de o material ter sido entregue em Santa Margarida, disse, telefonou "ao coronel Estalagem para informar Ministério Público" e informou o "ministro da Defesa e o chefe da casa militar da Presidência da República".

No dia seguinte, prosseguiu, recebeu uma chamada da secretária do então chefe de gabinete de Azeredo Lopes (à data do ministro da Defesa Nacional), general Martins Pereira, pedindo para ir de "manhã cedo" ao seu gabinete e que o "assunto era Chamusca".

No dia 20 de outubro, apresentou-se no Ministério da Defesa com o major Vasco Brazão que entregou a Martins Pereira um "documento em papel timbrado com epígrafe, assinatura e data" contendo uma "informação de piquete" sobre a operação de recuperação do material, acrescentou.

Esta versão contraria o depoimento de Vasco Brazão na comissão de inquérito, já que o major, também arguido no processo, disse que o documento era um "memorando" escrito em "coautoria" com Luís Vieira em papel não timbrado.

No encontro com o ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, Martins Pereira telefonou ao ex-ministro e passou-lhe a chamada, mas Luís Vieira disse que "quase não falou".

"O general ligou ao ministro e o ministro quis falar comigo, reportou-me que a procuradora-geral da República [Joana Marques Vidal] estava muito zangada e com ameaças", declarou.

Luís Vieira admitiu ter concordado que os investigadores aceitassem a condição alegadamente imposta pelos autores do furto para que não fosse dado conhecimento da operação à PJ e para que não fossem detidos como uma "estratégia" para chegar ao material.

Porque, alegou, depois da recuperação do material, o mais fácil era apanhar os ladrões.

O coronel negou que tenha coordenado toda a operação de recuperação, como tinha alegado o major Vasco Brazão, afirmando que a única intervenção que teve foi ter dado a ordem.

Para o coronel, o que estava em causa na recuperação do material não era tanto a sua "perigosidade", mas sim o "alarme social" criado e a possibilidade de ser destruído, considerando que o único interesse dos autores eram as munições de 9 milímetros, que nunca apareceram.

Questionado sobre se sentia pressões políticas, o coronel esclareceu que se referia ao facto de o "Comandante Supremo das Forças Armadas, que muitas vezes foi à televisão dizer que queria uma investigação célere aos factos de Tancos", e que, da Polícia Judiciária, não recebia nenhuma informação sobre o andamento das investigações.

O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017. Quatro meses depois, a PJM revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.

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