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Cordão humano em defesa das pegadas de dinossauros de Carenque

Uma centena de alunos da Escola Básica Galopim de Carvalho, no Pego Longo, concelho de Sintra, formou hoje um cordão humano junto das pegadas de dinossauros de Carenque, apelando à construção de um museu que preserve aqueles vestígios paleontológicos.

Cordão humano em defesa das pegadas de dinossauros de Carenque
Notícias ao Minuto

15:24 - 02/04/19 por Lusa

País Sintra

"O Instituto de Conservação da Natureza, que classificou as pegadas como monumento natural, tinha obrigação, por força do próprio decreto, de zelar por este património, mas não, está uma vergonha das vergonhas", comentou à Lusa António Galopim de Carvalho.

O antigo diretor do Museu Nacional de História Natural (Lisboa), que falava após uma ação de sensibilização de alunos da Escola Básica 2,3 Prof. Galopim de Carvalho, admitiu que, há uns meses, o espaço da jazida de pegadas de Pego Longo encontrava-se coberta com "árvores de uma altura de dois ou três metros", entretanto cortadas.

"Não sei como é que estão as pegadas, porque elas foram cobertas por geotêxtil e terra em 1993, quando se começou a fazer o túnel, mas, por baixo da tela, as raízes estão a fazer estragos, com certeza", alertou o geólogo e professor jubilado pela Universidade de Lisboa.

Alunos da escola do Pego Longo formaram esta terça-feira de manhã um cordão humano junto da jazida de pegadas de dinossauros, preservada com a construção do duplo túnel de Carenque na Circular Regional de Exterior de Lisboa (CREL), que liga Alverca a Oeiras.

"Os alunos fizeram um cordão humano junto às pegadas. Isto é o trabalho de duas turmas, no âmbito da flexibilização curricular, mas também participaram alunos de outros projetos, que têm a ver com a defesa do património e voluntariado", explicou Fátima Pina, bibliotecária da escola básica.

Na ação também participou Galopim de Carvalho, 'patrono' da escola, mas, apesar de a Proteção Civil Municipal de Sintra ter disponibilizado um jipe para facilitar a deslocação à antiga pedreira, "uma zona intransponível" obrigou o geólogo, de 87 anos, a assistir "do cimo de um barranco" à manifestação dos alunos, contou a professora.

"O principal risco são as raízes da vegetação, que se infiltram nas lonas e que vão prejudicar as pegadas", avisou Fátima Pina, notando que o local serve para deposição de lixo e que principal ameaça para os vestígios paleontológicos reside na vegetação.

A jazida de pegadas de dinossauros de Carenque, descoberta em 1986 numa pedreira desativada da então freguesia de Belas, transformada em lixeira, está localizada numa delgada camada de calcário do Cretácico, com cerca de 92 milhões de anos, e foi classificada em 1997 como "monumento natural".

Segundo explicou Galopim de Carvalho, numa nota a que a Lusa teve acesso, a "importante jazida paleontológica corresponde a uma superfície rochosa com cerca de duas centenas de pegadas", de onde sobressai "um trilho com 132 metros de comprimento, no troço visível, formado por marcas subcirculares, com 50 a 60 centímetros de diâmetro, atribuídas a um dinossáurio bípede".

"Além deste, considerado na altura o mais longo trilho contínuo da Europa, identificaram-se, na mesma superfície, pegadas tridáctilas atribuíveis a carnívoros (terópodes), parte delas igualmente organizadas em trilhos", acrescentou.

O investigador liderou, em 1982, uma campanha para a preservação das pegadas, ameaçadas pela construção da CREL, conhecida como "a batalha de Carenque", que culminou na abertura da via em túnel sob a jazida, num investimento acrescido de oito milhões de euros (um milhão e seiscentos mil contos, na época).

"O túnel custou oito milhões a escavar e o museu, com o projeto e tudo, há 20 anos ou mais, eram uns trocos", desabafou Galopim de Carvalho, lamentando que a autarquia nada tenha avançado para concretizar o Museu e Centro de Interpretação de Pego Longo.

A maquete do projeto está à guarda da escola de Pego Longo, o que levou os alunos a escreverem uma carta ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a questionar se foi gasto "tanto dinheiro para nada" e prometendo ajudar "a cumprir" o sonho do "patrono" da escola de ver o espaço musealizado.

Uma petição pública na internet, para salvar as pegadas de dinossauros de Carenque, advoga "a imediata limpeza do local" e "vigilância mais frequente", apelando "ao avanço da musealização, através da construção do 'pegário', com a já pensada estrutura em vidro sobre as várias pistas, por forma a preservar definitivamente o local".

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