Segundo o comandante Paulo Isabel, que tomou posse em 02 de outubro de 2018, o capitão Bengalinha estava a dirigir a investigação desencadeada naquela polícia ao furto de Tancos e tinha a coadjuvá-lo o major Brazão [arguido no âmbito da investigação ao aparecimento do material], entre outros investigadores.
"Entretanto, e até por sugestão do então diretor da PJM [Luís Vieira, que se encontra com termo de identidade e residência], foi de férias nesse período. Como o major Brazão estava a acompanhar, ficou ele com o caso", relatou.
Quando o capitão João Bengalinha regressou de férias, percebeu que "havia diligências que tinham sido feitas que ele desconhecia e ficou com a sensação que não lhe estava a ser passada toda a informação".
"Aí pediu, e também porque tinha estado com processos muito absorventes como o caso dos Comandos [morte de dois recrutas no 127.º curso] para ser afastado dessa investigação", contou Paulo Isabel.
João Bengalinha "sentiu que lhe estava a ser sonegada informação e achou por bem afastar-se do caso", disse.
Ouvido hoje na comissão de inquérito ao furto de matéria militar de Tancos, o comandante da PJM acrescentou que "era hábito" o capitão Bengalinha gozar férias naquele período, frisando que "o que pode ser relevante é ele ter percecionado, quando regressou, que não lhe estava a ser transmitida a informação".
"Não é normal que as pessoas se sintam compelidas a abandonar a investigação", sublinhou.
Em consequência, o major Vasco Brazão passou a chefiar a investigação na PJM e a restante equipa "foi afastada", o que ocorreu "em agosto ou setembro de 2017", antes do reaparecimento do material militar na Chamusca, em 18 de outubro.
O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.
O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho de 2019, depois de o parlamento prolongar os trabalhos por mais 90 dias.