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Desfile de crianças "fantasiadas de africanos" gera polémica

Desfile de Carnaval da Escola do Godinho, em Matosinhos, gerou críticas pelo facto de os alunos surgirem "fantasiados de africanos", com a pele da cara pintada de negro. Se, por um lado, a associação de pais rejeita as acusações de racismo, por outro lado, o Bloco de Esquerda fala de uma infantilização e ridicularização do outro, um exemplo do racismo estrutural que existe em Portugal.

Desfile de crianças "fantasiadas de africanos" gera polémica
Notícias ao Minuto

07:55 - 06/03/19 por Melissa Lopes

País Matosinhos

O desfile de Carnaval de uma escola de Matosinhos, no passado dia 1 de março, gerou indignação. Em causa está o facto de as crianças estarem “fantasiadas de africanos”, sendo um dos critérios a cara pintada de negro. E assim foi.

A situação foi denunciada pela página ‘Black Face Portugal’. Na publicação é possível ver a informação da escola que antecedeu o dia do desfile.

“No dia 1 de março irá realizar-se o desfile de Carnaval pelas ruas de Matosinhos. Este ano os nossos alunos deverão ir fantasiados de africanos, uma vez que o tema do Agrupamento são as raças. Para a fantasia, deverá ter em consideração – camisola e calças/leggings pretas; peruca e acessório para a cabeça; cara pintada”, lê-se. 

As fotografias do desfile, partilhadas na rede social Facebook, foram entretanto apagadas, e a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica do Godinho, responsável pelo desfile, obrigada a justificar a opção tomada.

“Na sequência de alguns comentários no Facebook motivados por publicação da AP sobre o desfile (...) em Matosinhos, a Associação de Pais desta escola entende ser oportuno esclarecer que a abordagem sobre África inseriu-se no tema conjunto do Agrupamento de Matosinhos, sobre as diferentes Culturas do Mundo”, lê-se no comunicado publicado na mesma rede social.

Argumenta a associação de pais que no desfile estavam presentes escolas do agrupamento e que foram representadas várias culturas, além da africana – a chinesa, a brasileira, entre outras, e acentua que o objetivo foi “celebrar a diversidade cultural”.

“O Agrupamento de Escolas de Matosinhos, juntamente com os professores das escolas”, justificam os pais, “entenderam escolher este tema para que fossem abordados conteúdos em sala de aula que pudessem dar a conhecer aos alunos a riqueza cultural de cada povo” e asseguram que esse trabalho foi realizado nas semanas anteriores ao desfile.

Em consonância com os conteúdos abordados na sala de aula, decidiu a Escola do Godinho que iria estar presente no desfile com o tema África. Para tal, é defendido, "as vestes usadas tentaram representar a riqueza da sua cultura, com os tecidos tradicionais africanos”.

A associação lamenta, por isso, que o desfile “tenha sido interpretado por alguns como ‘Blackface’. “Não foi essa a intenção, nem nunca esteve subjacente, qualquer comportamento racista”, garantem os pais e encarregados de educação. 

Visão diferente tem Luís Monteiro, do Bloco de Esquerda. O deputado considera que este desfile encaixa, também, naquilo que é o racismo estrutural. “O racismo estrutural manifesta-se das mais variadas formas, uma delas é a ridicularização ou padronização daquilo que é um imaginário sobre o outro, aquele que nos é estranho. Esse imaginário, muitas vezes, não corresponde minimamente à verdade ou é uma simples caricatura sobre a ‘raça negra’", assinala, em declarações ao Notícias ao Minuto.

Nesse sentido, para o bloquista, a escolha de pintar a pele da cara para celebrar a diversidade cultural “é um sintoma de uma infantilização do papel das pessoas negras na nossa sociedade” e sublinha que, “partindo do princípio que existiu uma intenção pedagógica nisto tudo, convém lembrar estes pais e mães que, para se conhecer um povo ou uma cultura, não basta imitarmos os seus penteados".

"Até porque não são desconhecidos: fazem parte do nosso dia a dia e ainda bem - podem ser colegas de carteira dos seus filhos, vizinhos do prédio, utentes do mesmo centro de saúde”, realça ainda.

No entender do deputado, a Escola Pública tem um “papel fundamental” na forma como damos o conhecer o outro. “A Escola não pode cimentar preconceitos nem mensagens fáceis, tem de desconstruir mitos e todo o tipo de impulsos xenófobos, por muito inocentes que pareçam ser, à primeira vista”, remata.

Na mesma linha, Mamadou Ba, ativista da SOS Racismo, aponta que este caso é “bastante revelador do profundo racismo que reina na nossa sociedade”.

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