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I República "foi a possível" num país "na cauda da Europa"

O historiador Fernando Pereira Marques afirma que a I República "foi a possível num país a braços com realidades estruturais" que o colocavam "na cauda da Europa", e "só por milagre" conseguiria mudar a mentalidade portuguesa.

I República "foi a possível" num país "na cauda da Europa"
Notícias ao Minuto

09:45 - 26/02/19 por Lusa

País Historiador

Pereira Marques faz estas afirmações na obra "A República Possível (1910-1926)" que é apresentado hoje à tarde, no Museu do Aljube, em Lisboa, pelo historiador António Ventura.

Na introdução do livro, publicado pela Gradiva, relativamente aos primeiros anos do regime republicano Pereira Marques esclarece: "Foi a República possível num país a braços com realidades estruturais que o continuavam a manter naquele lugar, algo desagradável, da 'cauda da Europa', e que se deparava com forças e dinâmicas em muitos aspetos contraditórias".

O autor, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, sublinha que a I República "não foi a 'bagunça' de que falam alguns textos referindo-se a este período, o caos ou a catástrofe que a propaganda salazarista descrevia e que ainda vários sustentam, nem foi uma 'Cousa santa' traída por militares e um ditador".

Sublinha Pereira Marques que "a I República não foi o que os seus mais fiéis partidários e mesmo hoje alguns historiadores gostariam que tivesse sido".

A instauração do regime republicano foi, contudo, "uma rutura modernizadora que falhou porque foi travada pela força".

Referindo que não reconhece "fatalidades históricas", o autor afirma que "o êxito do republicanismo residiu na profundidade atingida enquanto movimento social e político interclassista", enquanto o "seu fracasso teve origem na incapacidade em institucionalizar esse interclassismo numa democracia capaz de gerir e assimilar a conflitualidade indissociável da modernização".

"Efetivamente - prossegue o investigador -, só por milagre a 'mentalidade portuguesa' e a sociedade teriam mudado radicalmente em 16 anos. E o problema do voluntarismo revolucionário é o de querer que milagres desse teor existam, que a mudança seja possível ao ritmo da promulgação de decretos", acrescentou.

"Foi a República possível nas circunstâncias concretas de Portugal daquele tempo", remata o historiador, referindo que todavia, "não foi muito diferente da generalidade de situações coetâneas noutras sociedades europeias, do ponto de vista da radicalização, da conflitualidade social e da instabilidade política, donde acabariam por surgir forças e regimes de caráter autoritário-totalitário".

A República foi proclamada a 05 de outubro de 1910, derrubando o regime monárquico parlamentar, e a 28 de maio de 1926 o regime republicano constitucional foi derrubado por um golpe militar liderado pelo general Gomes da Costa, dando início a uma ditadura que se tornou constitucionalmente num regime corporativista, em 1933, vigorando até ao 25 de Abril de 1974.

Fernando Pereira Marques, doutor de Estado em Sociologia pela Universidade de Amiens, em França, participou na tentativa de tomada da cidade da Covilhã, em agosto de 1968, chefiada por Hermínio da Palma Inácio, tendo sido preso pela então polícia política. Após esta detenção foi refugiado político em França.

É autor de vários títulos, entre eles "Do Que Falamos quando Falamos de Cultura" (1994), "Exército, Mudança e Modernização na Primeira Metade do Século XIX" (1999), "A Praia Sob a Calçada -- Maio de 68 e a 'Geração de 60'", (2005), e "Sobre as Causas do Atraso Nacional" (2010), sendo diretor-adjunto da revista Finisterra e da revista de Ciência Política Respublica.

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