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MP quer extorsões testemunhadas à distância para afastar receios

Mais de meio milhar de testemunhas vão depor num tribunal do Porto, a partir de abril, num julgamento de 55 acusados por extorsões e o Ministério Público (MP) pede que a maioria se ouça por videoconferência, para não se sentirem coagidas.

MP quer extorsões testemunhadas à distância para afastar receios
Notícias ao Minuto

14:24 - 22/02/19 por Lusa

País Justiça

"Desde já se promove, face ao número de ofendidos e testemunhas residentes fora da área do tribunal de julgamento e ainda aos fundados receios que poderão advir do depoimento na presença [na sala de audiências] de elementos da referida organização, que sejam (...) ouvidos através do sistema de videoconferência", refere o MP, numa acusação de 827 páginas, que a agência Lusa analisou hoje.

Do pedido excluem-se apenas os polícias chamados a depor: vários agentes da PSP e militares da GNR, bem como pelo menos um sargento da Guarda Civil espanhola.

O processo em causa reúne 246 inquéritos anteriormente dispersos por comarcas de todo o país e relaciona-se com um grupo internacional acusado de concretizar em Portugal pelo menos 250 extorsões, num esquema que começaria por propostas para afiar facas e ferramentas e evoluiria para ameaças de morte.

Os casos ocorreram de 2002 a 2013, sendo que três dos 55 arguidos estão em prisão preventiva e a maioria dos restantes em parte incerta, com mandado de captura internacional pendente.

Os alvos do grupo eram empresas, públicas e privadas, ligadas à agroindústria, metalurgias, pichelarias, talhos, pastelarias, tipografias, consultórios de dentistas e hospitais.

Um dos casos deste processo ocorreu no hospital de Valongo, numa altura em que a unidade ainda não estava integrada no Centro Hospitalar de São João, onde o Conselho de Administração se viu obrigado a pagar aos chantagistas para fazer cessar ameaças de agressão "à facada" a uma responsável hospitalar.

Os episódios daquele hospital começaram em 15 de fevereiro de 2010, altura em que dois dos arguidos ali foram propor um serviço de afiação de material cirúrgico. Utilizaram um impresso que continha palavra "fatura", que foi riscada e substituída por "orçamento" e onde foi manuscrito o preço de 48 cêntimos por "comprimento do corte da peça".

"Não obstante saberem que tal serviço não havia sido contratado, até porque dependia de aprovação superior", os arguidos voltaram ao hospital para levar 300 peças para afiar, alegando que tinham autorização para o efeito, refere o texto do inquérito-crime.

Já no dia 01 de março de 2010, voltaram ao hospital, restituíram os objetos e reclamaram o pagamento de 19 mil euros.

Perante a recusa, passaram à intimidação e à chantagem, "propalando, para o efeito e em tom sério e convincente, anúncios de agressão 'à facada'". As ameaças só pararam quando, a 19 de março, o Conselho de Administração transferiu para uma conta indicada pelos chantagistas a quantia de 7.100 euros.

Uma das situações mais gravosas, tendo em conta o valor obtido pelos chantagistas, aconteceu em novembro de 2009 na Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, onde conseguiram extorquir de 23.541 euros a um responsável daquela firma do universo empresarial de José Roquette.

"Tens filhos e sabes como é", ameaçaram, repetidamente, o homem até conseguirem extorquir-lhe a quantia exigida.

O julgamento, no Tribunal de São João Novo, no Porto, tem já duas datas marcadas: 1 e 2 de abril.

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