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José Queirós foi "autoridade ética" que lutou para ter "massa crítica"

Escrupuloso quanto à verdade, foi um exemplo "de tolerância" e "responsabilidade ética", lutando para que o Porto não perdesse "massa crítica", recordam amigos de José Queirós, o jornalista fundador do diário Público que morreu hoje aos 67 anos.

José Queirós foi "autoridade ética" que lutou para ter "massa crítica"
Notícias ao Minuto

16:34 - 15/02/19 por Lusa

País Óbito

Entre a "bondade, a tolerância, a abertura de espírito e a ética", o atual diretor do Público, Manuel Carvalho, destaca que José Queirós, um jornalista que "não deixou inimigos", ter feito da tolerância "uma responsabilidade ética", rejeitando preconceitos e um mundo a preto e branco.

O amigo Joaquim Fidalgo, com quem José Queirós criou a delegação do Porto do semanário Expresso e que o acompanhou na fundação do Público com uma redação no Porto, lembra que o jornalista quis, e conseguiu, que a cidade e a região fossem "um centro de massa crítica, e não meros executores das ordens de Lisboa".

"Contento-me de ver que foi possível fazer algumas das coisas em que ele mais acreditou. Quando havia, no Porto, alguém que escrevesse uns textos mais interessantes, o que as pessoas diziam era: 'Porque é que não vais para Lisboa'. O Zé decidiu que queria ficar no Porto e foi trilhando um caminho, pedra a pedra, para que o Porto fosse o segundo polo de afirmação de um jornal", descreve o também professor Joaquim Fidalgo.

De acordo com Fidalgo, isso começou a acontecer com a criação da delegação do Expresso e "o Público é herdeiro dessa ideia, levando-a a outra dimensão, porque na altura não havia em Portugal um jornal com duas redações".

De resto, diz, José Queirós tinha "rigor, perspicácia, grande clarividência, era consequente e, enquanto condutor de uma redação, tinha uma enorme capacidade de motivar sem deixar que nada passasse em claro".

"Tinha todas as características que aprecio num jornalista", resume.

Para Manuel Carvalho, José Queirós "era uma pessoa absolutamente única" e "uma autoridade intelectual e ética".

"Era reservado, até um pouco tímido. O seu grande segredo era a reflexão. Como superior hierárquico, não impunha nada. Mas debatia com um poder de argumentação e sensatez que éramos obrigados a reconhecer que tinha razão", descreve.

Queirós era, ainda, "escrupuloso quanto à verdade dos factos".

"Tinha, em relação à verdade, um grande sentido de responsabilidade. Ensinou-nos a pensar. Ajudou-nos imenso a ser jornalistas", acrescenta.

O diretor do Público assinala ainda a capacidade de "debate democrático", o "sentido de tolerância" e a procura por "acolher a diversidade" e não ter preconceitos em relação a nada.

"Foi o jornalista que mais admirei, o que mais tentei copiar. Era o meu jornalista de referência", descreve.

Na lista de referências deixadas por José Queirós, Carvalho indica ainda "a exigência, o rigor, a ética" e a preocupação de "colar o jornalismo ao interesse público".

"Hoje é um dia muito triste para o Público mas também para o jornalismo português", conclui.

Nuno Pacheco, também jornalista fundador do Público, destaca a "precisão e generosidade incríveis" de José Queirós.

"Estava sempre disponível para ajudar e colaborar. Enquanto esteve na direção, viveu o jornal como se fosse a vida dele", descreveu.

Para Pacheco, Queirós era, também, "muito ativo" e uma pessoa de grande "franqueza, lealdade e carinho".

Como Provedor do Leitor do Público, José Queirós "deu ao cargo um relevo muito grande", assegura o jornalista.

"Foi um trabalho de provedor fantástico e não criou inimizades com ninguém", observa.

O jornalista José Queirós, diretor do jornal Público na sua fundação, em 1990, e seu ex-provedor do leitor após mais de 30 anos de carreira, morreu hoje aos 67 anos.

Queirós nasceu no Porto, em 1951 e foi um membro particularmente ativo na conceção e do jornal Público, tendo integrado, em 1990, a direção fundadora do diário e assumindo, nos primeiros anos do diário, a responsabilidade do caderno Local -- Porto.

Voltaria a assumir um cargo de direção (diretor-adjunto) no fim da década de 90, sempre a partir do Porto, onde se estreou como estagiário no diário O Primeiro de Janeiro, em 1977.

Em 2002, Queirós integrou, como chefe de redação, o Jornal de Notícias, de onde saiu em 2008.

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