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Seixal: Promotores de protesto garantem que há moradores na organização

Os promotores da manifestação contra a violência policial marcada para hoje no Seixal dizem compreender a posição da Associação para o Desenvolvimento de Vale de Chícharos, que se demarcou do protesto, mas asseguram que há moradores a participar na iniciativa.

Seixal: Promotores de protesto garantem que há moradores na organização
Notícias ao Minuto

13:16 - 25/01/19 por Lusa

País Bairro

Quase uma semana depois dos incidentes com a PSP e moradores em Vale de Chícharos, conhecido como bairro da Jamaica (distrito de Setúbal), realiza-se esta tarde junto aos Paços do Concelho uma manifestação contra "a brutalidade policial" e por "habitações dignas", numa organização assumida por alguns movimentos e associações, como o Coletivo Consciência Negra, a SOS Racismo, a Plataforma Gueto, a FEMAFRO - Associação de Mulheres Negras, Africanas e Afro-descendentes em Portugal e a Afrolis -- Associação Cultura.

"Nem os moradores do bairro da Jamaica nem a família Coxi [com alguns elementos envolvidos nos incidentes] estiveram envolvidos na convocatória nem na manifestação que ocorreu em Lisboa no passado dia 21 de janeiro. Não estamos, de igual modo, a organizar nenhuma manifestação em frente à Câmara Municipal do Seixal e não iremos participar nas manifestações agendadas", refere um comunicado da Associação para o Desenvolvimento de Vale de Chícharos, divulgado na quinta-feira.

Segundo Salimo Mendes, um dos subscritores do comunicado, os promotores da iniciativa desta tarde "estão a juntar a manifestação contra o racismo com a reivindicação de habitações condignas, mas o processo de realojamento até está acelerado e poderá ser concluído antes de 2022, data prevista para a conclusão".

"Não faria sentido participarmos nesta manifestação quando o processo de realojamento está a decorrer normalmente", justificou Salimo Mendes, que também disse confiar na investigação do Ministério Público para apurar quem tem razão nos incidentes que ocorreram no passado domingo durante a intervenção policial naquele bairro de habitação precária.

O representante sublinhou, contudo, que "tem de ser uma investigação feita como deve ser".

Confrontado com a posição da Associação para o Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos, António Tonga, do movimento Coletivo Consciência Negra e um dos promotores da manifestação de hoje, disse compreendê-la, face ao receio de mais atrasos no processo de realojamento, mas afirmou que há "pelo menos quatro moradores do bairro da Jamaica na organização da manifestação".

Além disso, acredita que muitos outros moradores poderão participar.

"Não estamos perante um problema do bairro da Jamaica, mas perante um problema dos negros em Portugal e da periferia de Lisboa, que terá de ter uma resposta dos coletivos do movimento negro, dos próprios moradores envolvidos, para que se diga basta e para que se diga que os negros em Portugal têm uma voz, e que se querem organizar para combater o erradicar o racismo institucional", disse.

Segundo António Tonga, a "periferia negra" da capital "não suporta mais o aparato do racismo institucional que faz com que os negros só tenham acesso a um determinado nível de direitos e garantias, que é muito abaixo dos direitos e garantias do resto da população".

A maioria da população negra, sublinhou, só tem acesso aos empregos mais precários e sem direitos.

Questionado pela agência Lusa sobre a possibilidade de surgirem atos de violência durante a manifestação, António Tonga disse que os manifestantes serão os primeiros a não querer que isso aconteça.

"Não tenho esse receio, porque a violência é sempre mais negativa para a comunidade negra. Se as autoridades têm receio de violência, nós temos ainda mais. Quando há prisões, o que acontece é que as pessoas, muitas vezes, desaparecem e não são encontradas em nenhuma esquadra durante algum tempo, há espancamentos e tudo o mais. Isto é um jogo desigual em que as partes negativas tendem a cair para o nosso lado", justificou.

No domingo passado, a polícia foi chamada a Vale de Chícharos após ter sido alertada para "uma desordem entre duas mulheres".

Segundo a PSP, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras. Do incidente resultaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente.

Na segunda-feira, decorreu uma manifestação contra a violência policial, convocada nas redes sociais, em frente ao Ministério da Administração Interna, em Lisboa, que resultou em quatro detenções por apedrejamento aos agentes da PSP, de acordo com a polícia.

Em declarações à Lusa, vários moradores afirmaram que "não convocaram" nem participaram no protesto.

O Ministério Público e a PSP abriram inquéritos aos incidentes no bairro da Jamaica.

Numa resposta enviada à Lusa, a Câmara do Seixal referiu que o ambiente tem estado "completamente tranquilo" em Vale de Chícharos e que "os esforços do município estão concentrados na resolução dos problemas habitacionais existentes".

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