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PGR reconhece o "baixo índice de confiança dos portugueses na justiça"

A recém-empossada procuradora-geral da República discursou, esta terça-feira, na cerimónia de abertura do ano judicial, onde também marcou presença o Presidente da República, o primeiro-ministro, a ministra Van Dunem e o bastonário da Ordem dos Advogados.

PGR reconhece o "baixo índice de confiança dos portugueses na justiça"
Notícias ao Minuto

15:35 - 15/01/19 por Patrícia Martins Carvalho com Lusa

País Ano Judicial

Lucília Gago começou o seu discurso de abertura do novo ano judicial por reconhecer que existe um “baixo índice de confiança dos portugueses na justiça” e, por esta razão, é preciso haver um “inadiável esforço coletivo” para que esta situação se altere tão depressa quanto possível.

Perante todos os que assistiam à cerimónia, a procuradora-geral da República alertou para a "inevitável turbulência" provocada pelas alterações decorrentes da reforma do Estatuto do Ministério Público, que colocam desafios numa magistratura com falta de meios humanos.

As previsíveis alterações, explicou a PGR, são de apreciável dimensão, no funcionamento e na estrutura organizativa e implicam ajustamentos "cujas repercussões e alcance prático não são totalmente antecipáveis".

"Colocarão desafios de relevo numa magistratura em que os meios humanos não se mostram cabalmente providos e em que à tensão quotidiana acrescerá, por força da entrada em vigor de tais alterações, inevitável turbulência", alertou Lucília Gago no discurso da cerimónia de abertura do ano judicial no cargo, o primeiro que profere desde que chegou ao cargo.

As modificações estatutárias que se perspetivam, adiantou, abarcam relevantes domínios com destaque para a consagração formal de um Departamento Central de Contencioso do Estado e Interesses Coletivos e Difusos, o qual considera que irá substituir, "com inegáveis ganhos de eficácia e celeridade, a estrutura informal hoje existente e que resultou de auto-organização do Ministério Público".

Relativamente à autonomia do Ministério Público, a procuradora-geral da República disse estar certa que, sendo um princípio basilar do Estado de Direito Democrático, e na qual se inscrevem matérias como a composição e competências do Conselho Superior do Ministério Público, será como tal inteiramente preservada.

Lucília Gago considera essa autonomia "absolutamente imprescindível".

Na sua intervenção, a procuradora-geral da República destacou a importância de prosseguir e aprofundar a sensibilização e formação específica dos magistrados para a cibercriminalidade, designadamente quanto à obtenção de prova digital, apostando quer no diálogo com os órgãos de polícia criminal, que na interlocução com entidades públicas responsáveis pela segurança informática.

Outra área que destacou foi a da corrupção e criminalidade económico-financeira, considerando que necessita de particular atenção. "Sob pena de inevitáveis e dramáticas consequências, designadamente de cariz socioeconómico, não podemos ignorar os resultados de múltiplos estudos de distintas entidades que invariavelmente apontam dados reveladores de estarmos longe de obtermos vencimento na luta contra a corrupção", frisou.

A magistrada reiterou que a abordagem a uma multiplicidade de fenómenos criminais, com especial destaque para a criminalidade económico-financeira, exige dotação dos imprescindíveis meios humanos e técnicos.

Para 2019, Lucília Gago destaca também outras duas áreas temáticas: a proteção dos direitos das vítimas particularmente vulneráveis e a intervenção do Estado, em particular do Ministério Público, no âmbito do direito da família e das crianças.

A procuradora-geral explicou que a justiça tutelar educativa será ao longo do ano judicial objeto de uma profunda abordagem pelo Ministério Público e pela Procuradoria-Geral da República,

Em breve, adiantou Lucília Gago, terá início a execução do plano de ação "Crianças e Crimes na Internet 2019-2020", uma iniciativa da Procuradoria-Geral da República, que visa melhorar a capacidade de atuação do Ministério Público relativamente a fenómenos ocorridos com utilização das redes de comunicações, quer quando tenham natureza criminal quer quando sejam objeto de intervenção tutelar educativa.

No domínio do sistema da promoção dos direitos e proteção de crianças e jovens, alertou para a necessidade da regulamentação dos regimes de execução das medidas de acolhimento residencial e familiar. A não regulamentação da medida de acolhimento familiar, defendeu, tem condicionado fortemente a respetiva aplicação.

Marcelo pede justiça sem pré-julgamentos, partidarização ou pessoalização

O Presidente da República apelou na sua intervenção a "uma cultura cívica de exigência quanto à justiça", mas que rejeite pré-julgamentos, partidarização do setor ou uma pessoalização que leve a "endeusar ou diabolizar" os seus agentes.

O chefe de Estado centrou o seu discurso na necessidade de afirmação, na prática, dos valores do Estado de direito democrático e, ao longo de dez minutos, elencou os princípios que, no seu entender, a sociedade coletivamente deve promover no plano da justiça e aqueles que deve rejeitar.

Como valores fundamentais a proteger, logo no início mencionou "a afirmação da independência dos tribunais e dos juízes", bem como "a afirmação da autonomia do Ministério Público, essencial ao respeito dos magistrados que o integram". Depois, passou àquilo que se deve recusar.

É preciso articular investimento com "movimentos reivindicativos"

A ministra da Justiça afirmou hoje que é preciso articular de forma "coerente" e "responsável" as necessidades de investimento em infraestruturas da área da justiça com as "legítimas ambições das classes profissionais" do setor em matéria reivindicativa.

"As expectativas geradas com a melhoria do ambiente económico e da saúde das finanças públicas romperam os diques que vinham contendo longos anos de insatisfações acumuladas de algumas classes profissionais da área da justiça e geraram movimentos reivindicativos legítimos, mas cujos programas nem sempre são realizáveis hoje e agora", disse Francisca Van Dunem na sua intervenção na cerimónia de abertura do ano judicial.

"Há uma justiça para ricos e outra para pobres"

O bastonário dos advogados considerou hoje haver uma justiça para ricos e para pobres por falta de custas e taxas judiciais "adequadas ao pais real" e defendeu o pedido de fiscalização abstrata da constitucionalidade de normas por parte da Ordem.

"A justiça neste Portugal de estado de direito democrático encontra-se, e manter-se-á, doente, enquanto não se adequarem as custas e taxas judiciais ao país real, enquanto mantivermos uma justiça para ricos e uma justiça para pobres", afirmou Guilherme Figueiredo na cerimónia de abertura do Ano Judicial.

Entende o bastonário da Ordem dos Advogados que uma adequação "proporcional e razoável" das custas e as taxas judiciais aos rendimentos das pessoas "permitiria o cumprimento efetivo do princípio constitucional do acesso ao direito e aos tribunais para todos os cidadãos, bem como a consideração política da justiça como bem essencial e não como um bem económico".

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