Obras de Paula Rego não eram percebidas pela ditadura em Portugal
A investigadora Joana Baião considerou hoje em Paris que a circulação de artistas como Paula Rego, nos anos 1950 e 60, aconteceu sobretudo por motivos artísticos e não apenas por motivos políticos, até porque o regime "não percebia o seu discurso".
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País Investigador
"O regime estava mais preocupado com outras coisas e estes artistas vão passando um pouco ao lado. Eles até vão tendo espaço para fazer as suas atividades e as suas exposições em galerias em Portugal. Há relatos de inaugurações em que se diz ´É estranho como isto não está cheio de PIDE`", disse a investigadora em declarações à Lusa.
Joana Baião esteve em Paris a convite do Museu de L'Orangerie onde decorre até dia 14 de janeiro a exposição "Contos cruéis" de Paula Rego.
A investigadora portuguesa participou no ciclo de conferências à volta da pintora, falando sobre o tema "Portugal-Londres-Paris. Os artistas portugueses em exílio nos anos 50 e 60".
"A Paula Rego apresenta nessa altura em Portugal algumas obras profundamente críticas do regime e que não vão ter censura porque lhes passa ao lado. Ninguém percebia ainda bem o seu discurso", afirmou.
Em vez de exílio, Joana Baião, que preparou a sua intervenção com a investigadora Leonor Oliveira, prefere falar em "circulação", dado que muitos destes artistas não foram diretamente perseguidos pelo regime.
"A principal motivação não é política, é artística. Poucos saem como fugidos políticos. Há uma migração artística e, como tal, fazem o que têm a fazer cá fora e muitos vão regressando, mantêm exposições em Portugal e vendem em Portugal", salientou a investigadora, referindo que os artistas da geração de Paula Rego saíram principalmente para "desenvolver o seu valor artístico" e porque as escolas de Belas Artes nacionais não estavam adequadas "às novas mudanças pedagógicas e artísticas".
No entanto, o afastamento geográfico não deixou os artistas portugueses longe das problemáticas do país. Segundo Joana Baião, foi em Londres, na Slade School, que Paula Rego aprofundou ainda mais "os temas sociais e é onde se dá a sua tomada de consciência política em relação ao ambiente repressivo que se vivia em Portugal".
Ao público, maioritariamente francês, que estava na audiência, a investigadora mostrou quadros que não fazem parte da exposição atualmente no Museu de L'Orangerie e que tratam de temas como a ditadura em Portugal e em Espanha e a Guerra Colonial.
A exposição "Contos Cruéis" de Paula Rego foi inaugurada em outubro, contando com a presença da própria pintora, e é comissariada por Cécile Debray, directora do Museu de L'Orangerie.
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