Rovisco segue Azeredo e sai de cena do Exército. E depois do adeus?
O Exército não vive dias fáceis. As várias celeumas que se têm vindo a somar desde 2016 têm colocado este ramo das Forças Armadas no centro de todas as polémicas. Como resultado, o ministro da Defesa demitiu-se e o Chefe do Estado-Maior do Exército (na foto) pediu a sua exoneração. E agora?
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País Forças Armadas
O general Rovisco Duarte apresentou, ao Chefe Supremo das Forças Armadas, o Presidente da República, a sua exoneração do cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME).
Este pedido surgiu apenas dois dias depois de o novo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, ter tomado posse da pasta da qual Azeredo Lopes se demitiu na sequência do escândalo relacionado com a devolução das armas roubadas do paiol de Tancos.
De acordo com a Presidência, o pedido de exoneração fica a dever-se a “razões pessoais”. No entanto, sabe a agência Lusa, a versão de Rovisco Duarte é diferente.
Numa comunicação escrita enviada através da rede interna do Exército, o general explicou aos militares e civis da instituição que “circunstâncias políticas assim o exigiram”, admitindo que quando assumiu o cargo, em abril de 2016, “sabia que ia ser uma campanha dura”. E assim se veio a verificar.
Em apenas dois anos, Rovisco Duarte teve de lidar com a morte de dois instruendos do Curso de Comandos, o roubo das armas do paiol de Tancos e, posteriormente, a encenação armada por militares para que as mesmas fossem devolvidas.
Depois de Azeredo Lopes se ter demitido do cargo de ministro da Defesa, na sequência de o seu ex-chefe de gabinete ter confessado que foi informado sobre a encenação para a recuperação das armas, era esperado que também Rovisco Duarte saísse.
No entanto, refere o Diário de Notícias na sua edição online desta quinta-feira, a sua saída foi apressada pelas declarações do presidente do PS, Carlos César, que, na TSF, sugeriu a sua exoneração.
Por sua vez, o primeiro-ministro, António Costa, optou por não tecer alargados comentários sobre o caso. Frisou apenas, esta quarta-feira que o general alegou “razões pessoais” e desvalorizou a situação, sublinhando que “é um processo normal que o senhor general saia".
General 'morto', general posto
General sai de funções dois anos depois de ter tomado posse© Global Imagens
No mesmo dia em que foi conhecido o pedido de exoneração de Rovisco Duarte começaram logo a surgir os nomes dos potenciais substitutos no cargo. O ministro da Defesa Nacional já convocou, de resto, para audições os possíveis sucessores do general Rovisco Duarte.
Para alguns elementos do Exército, o próximo Chefe do Estado-Maior do Exército deveria ser o general Campos Serafino. Em causa está o facto de ser o mais antigo na hierarquia e de ser também, na visão destes elementos, o único com capacidade para unir um ramo que vive atualmente em desunião – para o que contribuiu o facto de Rovisco Duarte ter exonerado temporariamente os cinco comandantes das unidades que tinham a seu cargo a segurança dos paiois, o que levou à demissão de dois tenentes-generais.
Mas há mais nomes que têm vindo a ser apontados para possíveis sucessores do general. São eles os generais Cóias Ferreira (comandante da Logística), Fonseca e Sousa (comandante do Pessoal) e Guerra Pereira (comandante das Forças Terrestres e antigo chefe de gabinete do anterior chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Pina Monteiro).
Recorde-se que a Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas decreta que seja o ministro da Defesa a propor um nome para o cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército e que o mesmo seja então nomeado pelo Chefe Supremo das Forças Armadas.
Exército a 'ferro e fogo'
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Os últimos anos não têm sido de paz para as chefias das Forças Armadas, em especial no setor do Exército.
Antes da polémica de Tancos e dos instruendos que morreram durante as provas físicas do Curso de Comandos, o Exército teve de lidar com outros problemas relacionados com condutas de militares.
Recorde-se que Rovisco Duarte assumiu o cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército para substituir Carlos Jerónimo, que se demitiu devido à polémica que envolveu o Colégio Militar que estava a ser acusado de discriminar sexualmente os seus alunos, em especial os homossexuais.
Antes, novamente envolvendo o Colégio Militar, havia existido denúncias de maus-tratos de alunos mais velhos para com os alunos mais novos que aconteceriam com o conhecimento da hierarquia, um caso que foi julgado nos tribunais civis e que abalou os alicerces da moral do Exército.
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