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Talvez ainda haja mais para descobrir sobre viagem de Fernão de Magalhães

O historiador norte-americano Laurence Bergreen, autor de um livro sobre a primeira circum-navegação, iniciada em 1519, por Fernão de Magalhães, assinalou à Lusa que "talvez ainda haja coisas para descobrir sobre a viagem" do português.

Talvez ainda haja mais para descobrir sobre viagem de Fernão de Magalhães
Notícias ao Minuto

09:45 - 23/09/18 por Lusa

País Biografia

"Talvez ainda haja coisas para descobrir sobre a sua viagem", disse Bergreen, que considera que a primeira viagem de circum-navegação contribuiu para a mudança de paradigmas que "agora parecem óbvios, mas que são difíceis de processar quando são algo tão novo".

Bergreen assinala que, embora a finalidade da viagem não fosse científica, foram feitas várias descobertas ao longo do seu percurso de três anos.

"A viagem não foi uma expedição científica, mas foi responsável por várias descobertas. Em primeiro lugar, no ramo da geografia, ao descobrir terras e ilhas, mas também para a biologia, com uma vasta biodiversidade encontrada. A sua grande descoberta foi o que agora chamamos estreito de Magalhães" - entre os oceanos Atlântico e Pacífico, a sul da América do Sul.

Em Portugal por ocasião da apresentação das comemorações do V Centenário da primeira viagem que circum-navegou o planeta, Bergreen afirmou "não ter a certeza" sobre como Magalhães é lembrado nos dias de hoje, algo que acredita dever-se ao facto de ter sido um português a comandar uma expedição espanhola.

"Ele era português, mas viajou por Espanha (...) então ele não pertence bem a um sítio, ainda que toda a gente esteja ciente do seu significado. 'Magalhães' representa exploração", comentou.

Magalhães partiu do porto de Sevilha em agosto de 1519, comandando uma frota de cinco embarcações que transportavam mais de 260 pessoas de várias nacionalidades (portugueses, espanhóis, italianos, alemães, belgas, gregos, ingleses e franceses eram algumas das presentes) e incluía marinheiros, académicos (como o escritor italiano Antonio Pigaffeta, que compilou um detalhado relato da viagem), entre outros.

O historiador lembrou algumas das dificuldades que a expedição enfrentou, como o escorbuto e os motins.

"A liderança de Magalhães nesta viagem nem sempre foi assegurada. Ele era um português a viajar por Espanha. A Casa da Contratação [de Sevilha] deu-lhe um adjunto espanhol, que não era um marinheiro, mas um nobre. Este espanhol pensava que Magalhães trabalhava para ele - o que não era o caso - então teve regularmente de lidar com a sua rivalidade", apontou o biógrafo e historiador.

Para lidar com este nobre espanhol, que "tinha um grupo de espanhóis que o apoiavam e levantavam a contestação contra Magalhães", o português, "por vezes, tinha de lidar com a situação de uma forma mais violenta: executou alguns dos homens, enforcou-os (...), algo que se não tivesse sido feito, provocaria um motim geral".

Bergreen sublinhou que no início "o ambiente era mais pacífico", mas que se tornou "mais e mais agressivo ", o que levou a que o comportamento de Magalhães se tornasse "mais autocrático e ditador nas partes finais da viagem. Na altura em que chegou às Filipinas, estava 'irritadiço'".

O historiador associou esta alteração de comportamento às experiências vividas por Magalhães desde que abandonou o porto de Sevilha, em 1519.

"À medida que Magalhães foi passando por vários pontos do mundo, a sua perspetiva sobre as pessoas, a religião -- tudo -- mudou", disse.

Magalhães viria a morrer nas Filipinas, em 1521, durante uma batalha com uma tribo em que a tripulação liderada pelo português estava em forte desvantagem numérica.

Apenas uma das embarcações, a Vitoria, comandada por Juan Sebastian Elcano e com apenas 18 dos 260 tripulantes, regressou a Espanha, em 1522, o que faria destes os primeiros a completar uma viagem à volta do globo.

No entanto, Bergreen aponta que um outro membro da tripulação inicial poderia ter sido o primeiro a alcançar este estatuto.

"Magalhães levara o seu escravo com ele [Enrique], e ninguém sabia bem de onde vinha, mas algures no Pacífico ele começou a falar a língua nativa. Tornou-se aparente que aquele era o seu lugar de origem. Podemos dizer, de certa forma, que o seu escravo foi o primeiro a dar a volta ao mundo", admitiu o norte-americano.

Bergreen considera Magalhães "um Odisseu [figura da mitologia grega] da vida moderna: é uma lenda, mas é real".

O navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521) notabilizou-se por ter organizado e comandado a primeira viagem de circum-navegação ao globo, ao serviço do rei de Espanha, alcançando o extremo sul do continente americano e atravessando o estreito que veio a ser batizado com o seu nome.

O historiador, que também escreveu um livro sobre a exploração de Marte, foi convidado, em 2007, pela Agência Espacial Norte Americana (NASA, em inglês) para nomear características da cratera de impacto 'Victoria', que partilha o nome com a única embarcação que finalizou a expedição de Magalhães.

Entre os nomes, constam Tierra del Fuego, Duck Bay, Cabo da Boa Esperança e Cabo Verde.

Portugal tem um programa das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação, com iniciativas marcadas até 2022.

No total, estão previstas mais de 70 iniciativas e ações, organizadas por "um diversificado leque de entidades, públicas e privadas, de forma privada ou em parceria, de âmbito local, regional, nacional ou internacional".

As iniciativas, refere a Estrutura de Missão das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães (EMCFM), pretendem "reconhecer o papel, passado e presente, de Portugal e dos portugueses para a promoção do conhecimento, do diálogo intercultural e da sustentabilidade do planeta, contribuindo para uma sociedade mais justa, inclusiva e com maior bem-estar".

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