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"Valorizar sinais de sofrimento é o primeiro passo para evitar suicídio"

Dia Mundial da Prevenção do Suicídio assinala-se esta segunda-feira, dia 10 de setembro. A este propósito fique, abaixo, com o artigo de opinião assinado por Joaquim Cerejeira, psiquiatra e diretor clínico da Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra (UPPC).

"Valorizar sinais de sofrimento é o primeiro passo para evitar suicídio"
Notícias ao Minuto

13:08 - 10/09/18 por Notícias Ao Minuto

País Artigo de opinião

"Uma pessoa em cada 40 segundos comete suicídio. É esta a estimativa que a Organização Mundial de Saúde faz para uma realidade que, só em 2017, vitimou cerca de 1.000 pessoas em Portugal, segundo dados da Direção-Geral da Saúde. No Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que se assinala a 10 de setembro, é importante desmistificar um tema que é ainda tabu na nossa sociedade.

O suicídio define-se como um ato em que um indivíduo põe termo à própria vida, de forma intencional e voluntária. Embora possa afetar todo o tipo de pessoas, este comportamento é mais frequente em homens acima dos 65 anos e em jovens entre os 15 e os 24 anos. Outros conceitos relacionados são a tentativa de suicídio, na qual a pessoa tem intenção de morrer, mas sobrevive, e os comportamentos autolesivos, sem intenção letal, como por exemplo cortes infligidos no próprio corpo.

Na maioria dos casos, os comportamentos suicidários estão relacionados com fatores psicopatológicos, que vão desde a presença de uma depressão, esquizofrenia ou doença bipolar, estados de ansiedade, consumo de álcool ou de outras substâncias. Outros fatores como tentativas de suicídio anteriores, o historial suicidário na família, o contacto com este tipo de comportamento nos media, assim como algumas caraterísticas de personalidade (agressividade, ansiedade, perfecionismo, etc.), podem ser fatores precipitantes de comportamentos letais.

São as pessoas mais próximas que têm um papel fulcral na identificação de sinais indicadores da presença de fatores de riscoOs contextos familiar, social, económico e cultural também desempenham um papel crucial no desenvolvimento de quadros de grande angústia que podem resultar em pensamentos suicidas, os quais são tidos pelo indivíduo como a solução que irá acabar com a dor que está a sentir. Divórcio, dificuldades financeiras, desemprego, violência, bullying, morte de um ente querido, entre muitos outros, são algumas realidades que podem afetar de forma negativa o estado psicológico da pessoa e, por sua vez, espoletar atos suicidários.

Contudo, a presença de um ou mais fatores de risco não implica, por si só, que a pessoa atente contra a sua própria vida. Isto porque os pontos anteriormente mencionados manifestam-se de forma distinta em cada indivíduo.

São as pessoas mais próximas do indivíduo, como familiares e amigos, que têm um papel fulcral na identificação de sinais indicadores da presença de fatores de risco para comportamentos suicidários, dos quais se destacam:

  • O sofrimento e tristeza profunda;
  • O isolamento social;
  • A baixa autoestima;
  • As alterações repentinas de humor; 
  • A adoção de comportamentos de risco, como o consumo abusivo de bebidas alcoólicas ou substâncias psicotrópicas;
  • Os sentimentos de culpabilidade e de desvalorização pessoal;
  • Abordar temas relacionados com a morte ou o suicídio com maior frequência;
  • Ou expressar a intenção de cometer suicídio. Este último ponto jamais deve ser desvalorizado, dado que é frequente que a pessoa verbalize que pretende suicidar-se antes de realizar o ato.

Reconhecido o problema, a etapa seguinte passa por tentar ajudar a pessoa a sair da angústia em que se encontra, mostrando-lhe que existe um caminho diferente para solucionar aquilo que a atormenta. Para isso, existem várias medidas que devemos tomar, nomeadamente:

  • Levar a sério o estado em que a pessoa se encontra e não minimizar o seu sofrimento;
  • Ouvi-la com atenção, de forma a perceber o que se passa e como podemos ajudar;
  • Não criticar as suas intenções e tentar compreender as razões do seu desespero;
  • Tentar perceber quais os planos e métodos que a pessoa tem para concretizar o suicídio;
  • Transmitir empatia e confiança, demonstrando que através de si há sempre a possibilidade de desabafar e de encontrar conforto e ajuda para os problemas;
  • Ponderar, em conjunto, soluções alternativas para o problema que despoletou a intenção suicidária;
  • Propor a ajuda de terceiros, incluindo a procura de apoio especializado, nomeadamente o apoio psiquiátrico ou psicológico.

O tratamento a adotar irá depender dos fatores que desencadearam as intenções suicidas. Caso estejamos perante um quadro psicopatológico, a psicoterapia e a utilização de fármacos são dois métodos a considerar, assim como, em última instância, o internamento.

Para os restantes casos, o tratamento e acompanhamento psicológico regular poderão ajudar a pessoa a ultrapassar o estado de angústia extrema em que se encontra."

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