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Pedrógão Grande: Empresas retomam normalidade mas ainda há pessimismo

Madeireiro de profissão, Jorge Henriques, de Castanheira de Pera, um dos concelhos do distrito de Leiria atingido pelos incêndios de junho de 2017, trocou nessa data o corte e venda de pinheiros e eucaliptos verdes pelos de cor negra.

Pedrógão Grande: Empresas retomam normalidade mas ainda há pessimismo
Notícias ao Minuto

09:21 - 11/06/18 por Lusa

País Incêndios

"Cortava pinheiros e eucaliptos verdes, agora são negros. E quando acabar?", pergunta-se Jorge Henriques, de 41 anos, que há um ano vê o horizonte negro, quer na paisagem, quer no futuro profissional.

Relembrando a grande mancha florestal que esta região do Interior do país tinha antes do dia 17 de junho de 2017, o empresário vaticina que "qualquer dia não há nada para cortar", embora quisesse ter "mais confiança no futuro, mais esperança".

A empresa de Jorge Henriques tem mais três trabalhadores e faz parte de dezenas de unidades afetadas pelos fogos.

No seu caso, viu o fogo diminuir-lhe viaturas e equipamentos, mas manteve os funcionários.

"Não despedi ninguém, ninguém foi embora", assegurou à agência Lusa, insistindo em respostas para a interrogação que muitos outros também fazem: "Está praticamente tudo queimado, a madeira foi-se. Acabando isto, vamos para onde trabalhar?".

Em Castanheira de Pera, concelho com menor população e área do distrito de Leiria, um cartaz numa das rotundas mantém a lembrança de que "é tempo de renascer das cinzas", com o município a agradecer a solidariedade.

Jorge Henriques, que acredita que o setor vai "atravessar um mau bocado", gostaria de ver essa solidariedade traduzida, por exemplo, na descida do preço dos combustíveis, exemplificando que há um ano enchia o depósito do seu camião para transporte de madeira com cerca de 420 euros e agora tem de somar mais 100 euros.

No concelho vizinho de Pedrógão Grande, o empresário Albano Graça, de 63 anos, espera a curto prazo retomar a normalidade do seu posto de combustível, agora que assinou o contrato no âmbito dos apoios à reposição da atividade económica.

Desde 17 de junho de 2017, que foi "todos os dias a perder dinheiro", porque quem ia ao posto também aproveitava para ir ao café, contíguo, que há um ano regista menos movimento e, por isso, menos negócio.

Albano Graça, que teve amigos e conhecidos que o incêndio levou, aponta o "primeiro sinal" de que o fogo não pouparia a sua empresa, com oficina e reboque, quando "mais de mil pneus começaram a arder", porque "o lume estava sempre a cair".

E para quem, como ele, viveu e sobreviveu à tragédia, esta não deixa de estar omnipresente.

Albano Graça, que nos dias seguintes andou a rebocar dezenas de viaturas calcinadas, comenta: "Não lhe digo o que vi dentro dos carros, andei noites sem dormir".

Nesta aldeia, Outão, como noutras no interior do Interior que já é Pedrógão Grande, as marcas dos incêndios estão difíceis de apagar, não apenas na paisagem, como em edificações ou na sinalética rodoviária, uma grande parte queimada pelos fogos, mas que permanece em vias secundárias.

Porém, aqui, como noutras localidades, o verbo destruir é substituído, paulatinamente, pelo reconstruir, como é o caso de Albano Graça, agora com olhos postos no investimento que se espera traga mais movimento à aldeia.

Em Figueiró dos Vinhos, foi com o apoio de outras empresas que José Carlos Coelho, de 56 anos, conseguiu manter neste último ano a sua agência funerária.

O incêndio consumiu-lhe, além de uma garagem e barracão, três viaturas da agência, tendo posteriormente José Carlos Coelho recebido um apoio na ordem dos 120 mil euros para a sua substituição.

"Nunca deixei de trabalhar com o apoio da agência de Castanheira de Pera, de que sou sócio, e de outros colegas", referiu o empresário, satisfeito pela forma como decorreu a candidatura, mas sem esquecer que lhe coube "oito serviços de gente conhecida" vítima dos incêndios.

O empresário, habituado a lidar com a morte, precisou: "Uma vez eram quatro urnas numa igreja, é doloroso".

Em junho de 2017, os incêndios que deflagraram na zona de Pedrógão Grande provocaram 66 mortos: a contabilização oficial assinalou 64 vítimas mortais, mas houve ainda registo de uma mulher que morreu atropelada ao fugir das chamas e uma outra que estava internada desde então, em Coimbra, e que acabou também por morrer. Houve ainda mais de 250 feridos.

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