Meteorologia

  • 18 ABRIL 2024
Tempo
17º
MIN 16º MÁX 25º

Não matem velhinhos? "Prefiro ser criticada por aquilo em que acredito"

Desde que segurou o cartaz “Por favor não matem os velhinhos”, numa manifestação contra a despenalização da Eutanásia, que a vida desta estudante de Medicina mudou. Agora, Vera, sentiu necessidade de defender o cartaz, que afinal, nem é de sua autoria.

Não matem velhinhos? "Prefiro ser criticada por aquilo em que acredito"
Notícias ao Minuto

08:40 - 05/06/18 por Tiago Miguel Simões

País Eutanásia

Vera Guedes de Sousa é o nome da jovem que segurou o polémico cartaz “Por favor não matem os velhinhos” durante a manifestação contra a despenalização da Eutanásia, junto à Assembleia da República, antes da votação que chumbou os quatro projetos de lei que propunham despenalizar a morte medicamente assistida. Até agora, evitou responder a todo o burburinho que se gerou à volta da fotografia em que surgia a empunhar um cartaz, que, afinal, nem era da sua autoria. É a própria, de resto, quem o diz, ou, no caso, quem o escreve, no Facebook, sentindo pois, “a necessidade de defender ‘este cartaz’”, mesmo sob pena de se sujeitar “a mais criticas e assédio”.

“Prefiro ser criticada por aquilo que realmente sou e acredito e não pela imagem totalmente distorcida e ridícula que alguns procuraram criar”, defende a estudante Medicina num longo texto publicado nas redes sociais, em que aborda toda a polémica e explica a sua opinião de forma muito mais detalhada do que o fazia o cartaz que segurou naquela manifestação. Vera sublinha ter sentido que a tentaram “ridicularizar”, por vezes de “forma violenta” e, por isso, explica o “verdadeiro significado” do cartaz, enquanto esmiúça o tema.

“Como é evidente ninguém associa a eutanásia à ‘abertura da época de caça aos velhinhos’, como ouvi há dias na televisão. Não sendo eu a autora do cartaz, sei que o mesmo pretendeu sensibilizar as pessoas para a vulnerabilidade dos idosos caso a eutanásia venha a ser legalizada e promovida pelo Estado. A sua condição mais frágil e débil, possíveis fracos recursos económicos e falta de acesso a cuidados paliativos torna-las-á mais suscetíveis para pedir a morte caso esta opção seja legitimada pela Sociedade e facultada pelos serviços do Estado. Este é o verdadeiro significado do cartaz”, escreve, defendendo-se e afirmando que pode haver quem sobre o tema não esteja informado, mas que ela não é uma dessas pessoas.

Vera revela também que decidiu estudar Medicina para salvar vidas e cuidar dos outros e nunca o contrário. “É natural que me sinta triste ao deparar-me com a possibilidade de que a profissão que sonho vir a exercer possa ter no futuro uma função acrescida: o poder legal para matar”.

Depois de recorrer ao Código Deontológico dos médicos para sustentar o seu ponto de que “antecipar a morte de um paciente” “não é medicina”, a estudante faz sobressair que “querem fazer passar eutanásia por sinónimo de ‘morte medicamente assistida’, como se esta não fosse já uma prática atual e dever de todos os médicos – o de acompanhar o doente até ao fim da sua vida, prestando-lhe cuidado e atendimento”. Na sua opinião, em contraste, é a eutanásia que torna o médico o veículo da “precipitação da morte do doente”. 

Perante as acusações de que o não à eutanásia é sinónimo de indiferença ao sofrimento, Vera, diz que é precisamente o contrário. “Uma pessoa que está a sofrer merece receber todos os cuidados de saúde a que tem direito, para que sofra o mínimo possível. Infelizmente isto não acontece em Portugal. Neste momento, mais de 70 mil pessoas não têm acesso a Cuidados Paliativos. Esta sim devia ser a luta dos portugueses e dos seus representantes políticos. Como explicar a pressa na criação de uma lei que permitirá que pessoas sejam assistidas para morrer, quando não damos às mesmas os cuidados a que elas têm direito?”, questiona.

Depois, a estudante de medicina deixa ainda alguns exemplos de países onde a prática já foi despenalizada (Holanda e Bélgica), garantindo que “a eutanásia tem vindo a tornar-se progressivamente uma ‘solução barata’, ‘normal’ e até ‘útil’ do ponto de vista económico”. 

A jovem termina o seu texto defendendo a inviolabilidade da vida, algo que, no seu ponto de vista, a lei deve proteger “de forma absoluta”. 

*A foto partilhada no Facebook por Vera Guedes de Sousa é da autoria de Nuno Botelho e foi originalmente publicada pelo jornal Expresso.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório