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Os bastidores da manifestação de professores

Docentes vão manifestar-se no sábado.

Os bastidores da manifestação de professores
Notícias ao Minuto

13:49 - 17/05/18 por Lusa

País Educação

No início de abril, as dez estruturas sindicais de professores anunciaram uma manifestação conjunta. Desta vez, num sábado e sem implicar greves nem interferir com as aulas ou com a vida das famílias. O objetivo é voltar a encher a avenida da Liberdade, tal como aconteceu em 2008, num protesto contra a então ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.

A dois dias da manifestação, na sede da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), situada num dos bairros finos da cidade de Lisboa, o trabalho já acalmou, faltando apenas afinar um ou outro detalhe.

Uma das garagens está transformada em sala de trabalho. Ali estão amontoadas centenas de cartazes que serão distribuídos pelos docentes.

Na reprografia improvisada, instalada numa sala próxima à garagem, as impressoras já pararam. Mas no espaço contíguo ainda há vestígios dos milhares de panfletos e cartazes que foram sendo distribuídos pelas escolas ao longo do último mês.

Uma outra sala faz lembrar o armazém de uma loja de roupa: caixotes gigantescos de papelão, amontoados uns em cima dos outros, escondem milhares de t-shirts pretas mostrando um "smile" amarelo com uma expressão ora triste ora indignado.

Ao telemóvel, ultimam-se as negociações para a instalação do palco que, desta vez, ficará junto ao Marquês de Pombal. Há ainda quem esteja responsável por garantir o sistema de som.

O alinhamento dos discursos já está traçado: Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, e João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE), serão os últimos a falar, sendo uma espécie de senha para que se dê início à "Marcha pelo Respeito".

"Queremos que o Governo perceba que os professores têm de ser respeitados, mas que o respeito não pode ser só palavras. Tem de ser um respeito traduzido em medidas concretas, que resolvam os problemas, porque de conversa nós já estamos cheios", sublinha.

Há dez anos, quando desceram a avenida chamaram-lhe a "Marcha da Indignação", recorda Mário Nogueira.

Foi há precisamente dez anos que se realizou a maior manifestação de professores em Portugal: dois terços dos docentes desceram então a avenida da Liberdade em protesto contra a intenção de Maria de Lurdes Rodrigues submeter os professores a avaliações de desempenho.

Uma década passada, as mesmas estruturas sindicais voltam a unir-se e admitem que a dimensão do protesto possa aproximar-se. Agora a luta é contra as políticas do Ministério de Tiago Brandão Rodrigues.

Nas ruas de Lisboa poderão estar menos professores, em números absolutos, reconhecem os sindicalistas, mas apenas por uma razão: em dez anos, as escolas perderam cerca de 50 mil docentes.

"A dimensão será próxima da de 2008, embora com números abaixo porque hoje há menos um terço de professores. Na altura eram entre 150 mil a 160 mil e hoje são 110 mil", disse à Lusa Mário Nogueira.

O que não será diferente é a representatividade, garante. Os dados recolhidos na quarta-feira pelas várias estruturas sindicais davam conta de milhares de professores de todo o país interessados em viajar até Lisboa de autocarro. Todos juntos enchem 200 autocarros, sendo que, até ao final do dia de hoje, continuam abertas as inscrições.

Muitos vêm de longe, mas também há quem trabalhe na região de Lisboa. Uns preferem usar os transportes públicos, outros optam por se juntar com amigos e partilhar carro. A experiência dos sindicalistas diz que os professores fora das listas para viajar de autocarro representam, invariavelmente, mais de metade dos manifestantes.

Para organizar um protesto que junte milhares de pessoas é preciso tempo e trabalho.

No último mês, um pouco por todo o país, as salas de professores das escolas transformaram-se em espaços de reuniões e plenários, muitas vezes apenas nos 15 minutos do intervalo mais longo do dia de aulas.

Enquanto isso, havia quem estivesse encarregue de pensar e escrever os cartazes, que foram sendo afixados nos 'placards' dos corredores das salas. A outros foi atribuída a tarefa de desenhar as faixas que estão presas às grades exteriores de centenas de escolas ou de idealizar os panfletos que foram distribuídos pelos professores com as razões da luta.

O principal foco de contestação continua a ser a contagem do tempo de serviço congelado, com os professores a reclamarem a devolução de nove anos, quatro meses e dois dias de serviço e o Governo a não chegar aos três anos.

"Contra o apagão do tempo de serviço" é uma das frases que se deverá ouvir no sábado à tarde na avenida da Liberdade.

O direito a uma aposentação em tempo justo, horários de trabalho adequados ao exercício profissional e medidas que combatam o desgaste e envelhecimento da profissão são outras das reivindicações que levam os sindicalistas a palmilhar centenas de quilómetros.

O objetivo da manifestação de sábado conta-se em poucas palavras, diz Nogueira: "Fazer com que o Ministério nos ouça". Caso contrário, os docentes admitem fazer greve em dias de provas nacionais.

O trabalho feito na sede da Fenprof repetiu-se um pouco por todo o país, sublinhou Mário Nogueira. Foram "centenas de pessoas" empenhadas para que nada falhe no sábado.

Em simultâneo com o protesto em Lisboa, vão realizar-se concentrações de docentes no Funchal e em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo.

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