Caso Facebook: Merkel defende "soberania" de cada um sobre os seus dados
A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu hoje que a pessoa deve estar "no centro do debate" sobre o escândalo de acesso a dados pessoais no Facebook e apelou que cada utilizador tenha "a soberania" sobre todos seus dados.
© Reuters
Mundo Alemanha
Na sua primeira declaração política na câmara baixa do parlamento desde que tomou posse para um quarto mandato, Merkel pediu "transparência" à Rússia no caso do ex-espião envenenado em Inglaterra, condenou os efeitos dos bombardeamentos sobre a região síria de Ghouta Oriental e a ofensiva turca em Afrine e reiterou que o Islão e os muçulmanos "são parte da Alemanha".
"A Alemanha e a União Europeia (UE) devem colocar a pessoa no centro do debate" e reivindicar "a soberania da pessoa sobre os seus dados" e o direito a decidir sobre a divulgação de cada um deles, disse a chanceler.
A UE, considerou, tem "um longo caminho" a fazer neste âmbito e a normativa sobre proteção de dados recentemente aprovada a nível europeu é "um primeiro passo" nesse sentido.
Merkel sustentou que a digitalização da economia corresponde a uma "prova de fogo" para a economia social de mercado, que tem de ter uma resposta política na criação de um quadro regulador justo.
Os dados são "a matéria-prima" da economia digital e tem de existir um "sistema justo" de difusão dessa informação.
Os comentários da chanceler alemã foram os primeiros que fez sobre o escândalo que envolve atualmente o Facebook, que permitiu que uma empresa ligada à campanha eleitoral de Donald Trump acedesse a dados pessoais de 50 milhões de utilizadores para influenciar o voto.
Merkel falou de outros grandes temas internacionais, como o caso do ex-espião russo Serguei Skripal, envenenado com um gás neurotóxico em Salisbury, Inglaterra, para afirmar a sua solidariedade com o Reino Unido e pedir "transparência da Rússia".
"Muitos indícios apontam para a Rússia, pelo que a transparência da Rússia é necessária para pôr termo às suspeitas", disse a chanceler.
"Gostaria de não ter de nomear a Rússia, mas não podemos ignorar indícios porque não queremos nomear a Rússia", acrescentou.
Sobre a guerra na Síria, Angela Merkel considerou "inaceitável" o sofrimento causado a milhares de civis pela ofensiva turca contra a milícia curda que controla Afrine.
"Independentemente de justificados interesses de segurança da Turquia, é inaceitável o que se passa em Afrine, onde milhares e milhares de civis são reprimidos, morrem ou são forçados a fugir", disse.
A chanceler voltou por outro lado a condenar "os terríveis" bombardeamentos do regime sírio sobre a região de Ghouta Oriental, último grande bastião dos rebeldes sírios.
Merkel falou ainda da migração, para admitir que a questão "dividiu e polarizou" os alemães e para assegurar que o fluxo recorde de refugiados que chegaram à Europa em 2015 não se vai repetir.
Mas frisou que a Alemanha deve orgulhar-se de ter recebido mais de um milhão de refugiados em 2015 e 2016, porque se tratou de "uma situação humanitária excecional".
Reiterou, por outro lado, que o Islão e os muçulmanos "são parte" da Alemanha, contradizendo o seu ministro do Interior, o líder da formação bávara União Social-Cristã (CSU) Horst Seehofer, que na primeira entrevista desde que tomou posse afirmou que "o Islão não pertence à Alemanha".
No país há cerca de 4,5 milhões de muçulmanos e "eles e a sua religião são parte" da Alemanha: "A grande maioria deles -- prosseguiu -- rejeita o radicalismo e pratica a sua religião de forma pacífica e constitucional".
A violência, a xenofobia, o racismo e o antissemitismo, disse, é que "não têm lugar" na Alemanha.
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