Economia está melhor mas não há "razão para grandes celebrações"
A antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque disse hoje que, apesar de a economia portuguesa estar "francamente melhor", não há "razão para grandes celebrações", e falou numa "afirmação triste" de crescimento.
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Política Ex-ministro
"Obviamente que quando nós olhamos para o que Portugal é hoje, qual tem sido o seu desempenho e compararmos com há bem poucos anos, as coisas estão francamente muito melhores, mas eu acho que não há razão para grandes celebrações e, sobretudo, há razões para cautelas com o futuro", afirmou a também diretora não executiva da Arrow Global.
Falando numa cimeira organizada pelo jornal The Economist, em Cascais, Lisboa, sobre crescimento económico, Maria Luís Albuquerque reconheceu que, no ano passado, o país atingiu "a taxa de crescimento mais alta desde o ano 2000".
"Mas eu acho que isso é uma afirmação triste. Como é que 2,7% é o melhor que Portugal conseguiu fazer em 17 anos?", observou.
E disse ser pouco: "Pouco não só para as necessidades do país e para aquilo que os nossos concorrentes mais diretos estão a conseguir. É verdade que nós conseguimos um desempenho superior à média da área do euro e da União Europeia, mas temos de perceber que essa média está fortemente influenciada por desempenhos mais fracos da Itália, da França ou do Reino Unido".
"Quando nos comparamos a países da nossa dimensão, eles estão a crescer mais, apesar de alguns já terem passado por situações mais sérias", notou a responsável.
Para Maria Luís Albuquerque, "falta um patamar de ambição que nos possa colocar definitivamente mais a salvo em crises futuras" e uma "vontade de conduzir reformas, em especial de ser persistentes o suficiente".
"E há resistência em fazer reformas que nos levariam ao passo seguinte. Até o Governo revê o crescimento em baixa", observou.
Contudo, "é muito importante que nós tenhamos consciência que temos um problema de endividamento 'across the board' [transversal] e isso significa que as nossas ambições de crescimento têm de ser significativamente maiores do que aquelas que temos tido", frisou.
Falando num painel intitulado "A economia: à procura de um 'upgrade'", Maria Luís Albuquerque salientou ainda que existe "necessidade de desalavancar".
"A enfrentar crises, nós somos resistentes e reagimos bem, mas não parecemos ser capazes de manter essa persistência por tempo suficiente. Assim que vemos os primeiros resultados, nós relaxamos, nós relaxamos demasiado cedo", assinalou a antiga governante.
Entre as medidas que podem ser adotadas estão, a seu ver, um reforço da "competitividade fiscal", por exemplo através da descida do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC).
"Temos de retomar o que foi interrompido e aí os resultados aparecem. É uma pena que [esse trajeto] tenha sido interrompido", adiantou.
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