A arquitetura tem de ser mais responsável e ser acessível a todos
A arquitetura nos dias de hoje tem de ser mais responsável do que tem sido até aqui, tem de ser acessível à grande maioria da população, até porque só um por cento é que consegue pagar projetos a arquitetos.
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País Marina Tabassum
Quem o diz é a arquiteta Marina Tabassum, em Portugal para falar sobre "Construir no Bangladesh", no âmbito das Conferências da Garagem do Centro Cultural de Belém.
A arquitetura nos nossos dias "tem de ser mais responsável do que tem sido até aqui, sobretudo no país de onde sou natural, o Bangladesh, já que temos muitas pessoas a quem os arquitetos não servem", disse Marina Tabassum em entrevista à agência Lusa.
"A arquitetura só serve um por centro da população, aqueles que têm dinheiro para me contratarem, para que eu faça um projeto. Portanto estamos a descartar 99% da população que não tem possibilidades financeiras para contratar um arquiteto", sublinhou.
E daí advêm grandes disparidades. Por isso é necessário que os arquitetos sejam mais acessíveis a toda a população, frisou a arquiteta, que venceu um prémio Aga Khan com a mesquita Bait Ur Rouf, que projetou para Daca, a capital do Bangladesh.
Professora na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no passado semestre, depois de ter lecionado na Universidade do Texas, Marina Tabassum pensa dar continuidade ao projeto que o seu atelier iniciou e que consiste em projetar casas de 2.000 dólares, para construir na capital do Bangladesh.
Trata-se de casas com dois quartos e uma casa de banho, no valor de dois mil dólares, disse à Lusa, referindo-se ao dólar dos Estados Unidos (cerca de 1.600 euros). "Casas construídas para pessoas com parcos recursos financeiros, com verbas reunidas em comunidade".
"Cada grupo de poupança é constituído por 20 mulheres a quem cabe amealhar um dólar por semana. Ao fim de um ano e meio há verba suficiente para começarem a construir uma casa, depois de os elementos do grupo terem decidido qual a família que mais necessita dela", explicou.
As casas estão a ser construídas na zona sul de Daca, local para onde o ateliê da arquiteta -- MTA, Marina Tabassum Architects - está também a projetar um 'resort' de luxo, como contou à Lusa.
Até ao momento, já foram construídas mais de 20 destas casas e, em dezembro próximo, iniciar-se-á a construção de mais cinco, projetadas por alunos da arquiteta no semestre passado em Harvard.
"Um arquiteto tem a capacidade de desenhar, de criar espaços decentes e humanos com 2.000 dólares, o que não é nada pouco para o Bangladesh", disse Marina Tabassum, sublinhando que "leva muito tempo até que uma família consiga amealhar 2.000 dólares", no seu país.
Os arquitetos "têm de estar atentos aos problemas sociais e têm de constribuir para os solucionar", sublinhou.
"Além disso, as casas serão pagas pelos seus proprietários. Após construídas, os proprietários têm cinco anos para devolver ao grupo de poupança o montante despendido na construção. Para que assim o grupo possa aplicar essa verba na construção de outra habitação", explicou a arquiteta à Lusa.
Estas casas são construídas em torno de um pátio e não têm cozinha. "À medida que o tempo passa, as pessoas podem ir melhorando as suas casas e até equipar uma cozinha. Mas como princípio, o fundamental mesmo é que todas as casas tenham casa de banho", explicou Marina Tabassum.
"Também ajudamos em pormenores", refere. "Explicamos-lhes que, se diminuírem em altura, diminuem o preço da construção tal como conseguem reduzi-lo se optarem por janelas mais pequenas".
"E são estas pequenas mudanças que fazem grandes diferenças e que melhoram muito a qualidade de vida das pessoas", sublinhou.
"Se melhorarmos a autoconfiança desta faixa da população, acabam por ganhar outras perspetivas de vida". "Vão querer ter um emprego melhor, vão querer que as filhas estudem e não que se casem aos 13 e 14 anos", destacou a arquiteta.
A arquitetura é um fator determinante na mudança. No Bangladesh e em todo o lado. "A melhoria da autoestima e da autoconfiança nas camadas mais desfavorecidas é importante como motor de desenvolvimento das sociedades", reforçou Marina Tabassum.
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