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Representação do 'Homem da Guitarra', em ficção e na vida real

O encenador e ator Manuel Wiborg e o fabricante de guitarras Adriano Sérgio sobem no dia 29 ao palco do São Luiz, em Lisboa, para representar "O Homem da Guitarra", do dramaturgo Jon Fosse, um na ficção, outro na vida real.

Representação do 'Homem da Guitarra', em ficção e na vida real
Notícias ao Minuto

22:03 - 16/01/18 por Lusa

Cultura Lisboa

A cena passa-se num bar abandonado, frio, iluminado por uma luz ténue e, nesse palco, um músico de rua, acompanhado pela sua guitarra, conta e canta, a sua história de vida e de desistência: foi para um país nórdico por causa de uma mulher, e ficou por causa de um filho, toca guitarra numa passagem subterrânea, mas é ignorado, passa fome e acaba por desistir do instrumento.

"O Homem da Guitarra", peça da autoria do dramaturgo norueguês Jon Fosse, consiste num monólogo poético, ora falado, ora cantado.

Na versão de Manuel Wiborg, o próprio está em palco, toca guitarra, canta e fala. Ao fundo está Adriano Sérgio, numa mesa de trabalho a fabricar uma das suas guitarras, e o som da lixa, da plaina e de outros instrumentos de trabalho, acompanham ou marcam o ritmo da música e da guitarra.

"Estou sempre a ouvir os sons que produzo, no fabrico das guitarras, como música. Trabalho sempre com música e com ritmo, que aproveito. Uso tudo o que um músico usa para tocar, para construir a guitarra".

E Adriano Sérgio vai mesmo construindo a guitarra, enquanto ensaia e enquanto está em palco: a última guitarra que fez -- "Coimbra Mondego" -- nasceu durante os ensaios para a peça, no ano passado.

Manuel Wiborg recua um pouco na história, para contar como surgiu esta "parceria" em palco.

"Comecei a trabalhar o texto 'O Homem da Guitarra', que à partida não precisava de um músico nem de outro intérprete, porque era um monólogo", contou à Lusa, na oficina de guitarras de Adriano Sérgio, onde decorreu hoje o primeiro ensaio.

Mas rapidamente percebeu que não era bem assim, porque "não tocava guitarra sozinho e precisava de ajuda". Então lembrou-se de Adriano.

Manuel Wiborg conhecera Adriano Sérgio e trabalhara com ele em 2002, quando encenou um texto de Gonçalo M. Tavares -- "O Homem ou é tonto ou é mulher" -- e precisou de um músico para tocar contrabaixo.

Anos depois, veio novamente a precisar de um músico e chamou Adriano Sérgio, mas este já não era músico.

"Parei há três meses de tocar, dediquei-me só ao fabrico de guitarras e criei uma patente de guitarra elétrica, e agora estou só a fazer isso", contou.

Foi então que Manuel Wiborg viu a ligação que havia entre a história de Jon Fosse e a de Adriano Sérgio: "É um texto que lhe diz muito, sobre si próprio e sobre a sua vida, sobre uma pessoa que desiste do passado e começa uma nova vida".

"Vi o Adriano como o alter-ego desta personagem. O monólogo transformou-se num diálogo em cena, entre a ficção e a performance real. Eu criei uma personagem e o Adriano está em cena como na vida dele".

Por isso, "O Homem da Guitarra" é um músico de rua, mas é também Manuel Wiborg na personagem que representa, e é Adriano Sérgio na vida real, e é todo um coletivo social de pessoas válidas, mas postas à parte pela sociedade. É, no fundo, uma metáfora.

"A história do homem da guitarra é a de um músico de rua que chega aos 50 anos e é a de qualquer pessoa que chega a esta idade e está a ser posta de parte. É doloroso, encontra-se numa espécie de purgatório da vida", diz o encenador.

Mas o que inicialmente o atraiu no texto de Jon Fosse não foi a história, foi o músico, porque Manuel Wiborg sempre esteve ligado à música e chegou a ter uma banda de garagem.

"Só depois, ao trabalhar o texto, descobri que esta não é só a história daquela personagem", acrescentou.

Os ensaios vão continuar a decorrer na oficina de guitarras de Adriano Sérgio, um espaço luminoso, com uma mesa de trabalho, forrado a ferramentas, guitarras da marca por ele criada, moldes e fotografias de cenas em palco.

A peça vai estar em cena a partir de dia 29 e até 04 de fevereiro, na sala Mário Viegas, no São Luiz Teatro Municipal.

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